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OUÇA O SILÊNCIO

Ouça o silencio Sinta o silêncio Expanda o silêncio Alimente o silêncio Viva o silêncio Fale o silêncio      Respire o silêncio Cante o silêncio Renove o silêncio Construa o silêncio Transforme o silêncio Fortaleça o silêncio Edifique o silêncio Flua o silêncio Proteja o silêncio Medite o silêncio Abrace o silêncio Plante o silêncio Frutifique o silêncio Ilumine o silêncio Colha o silêncio Ouça o silencio 08.04.18 Benilton Cruz

SAGRAÇÃO DE UM CAVALEIRO DIANTE DE SUA DAMA (Com algumas citações do Quixote)

                                                                 − Sagre-me, agora, o seu cavaleiro, minha Senhora, que nunca vos tocarei além do coração. Perto ou longe da sua presença, serei fiel e zelarei pela vossa honra que me faz cavaleiro. Sagrai-me, agora, com o seu olhar que é belo como belas são a beleza e a discrição. Sagrai-me com o vosso toque agora, sob a espada mais amarga da palavra e da ilusão. Meu nome será Cavaleiro da Princesa Azul ou Cavaleiro da Amiga Melancólica, pois que todo cavaleiro tem vários nomes para a vossa dama, para ser dois ou vários para defendê-la. Caso não morra em combate e caso venha a morrer em minha cama - que é a última glória de todo cavaleiro, farei meu testamento outorgando-vos todas as minhas conquistas, esse meu pequeno reino da palavra em meu poema. ...

AMAR TANTO NÃO É O PRINCIPAL; O PRINCIPAL É TOCAR

Amar tanto não é o principal; o principal é tocar. Todos temos sombras. O perfil muda; as sombras não; silentes são as sombras e a sós nos acompanham, quando estamos realmente a sós, nunca acompanhados, - até as sombras nos abandonam.  Conheces a tua sombra? Conheces a sombra do outro?  Amar tanto não é o principal; o principal é tocar. Só conhecemos uma parte, aquela que ficou, e só realmente conhecemos quando se vai. E esta vai te faltar. O amor não tem pressa, é a eterna criança-alada e quando se falta Amor, ganha-se uma alma. O amor é lição nova para nossas velhas emoções bárbaras e a poesia costuma ensinar o rebrilho da palavra e o amor pelo ajustado tom de nossa conversa em torno desse tema, onde há um destino de incerteza, é a poesia o que nos adianta e a sós nos avança. O Amor arde como o conhecimento e a perfeição de Leonardo, como o sol nos olhos de Galileu, como o Amor que move o Sol e as outras estrelas, que Boccaccio sobre a  Comédia mudou para a D...

QUE BICHO MAIS MISTERIOSO É AQUELE QUE ESCREVE?

Que bicho mais misterioso é aquele que escreve? Que bicho é esse que arruma letras em uma ordem? Rumar o incerto, agora cheguei a ti. Caio nas sentenças que então entre um ponto e outro. Tinha razão Dédalo, do labirinto só se escapa com o fio ou com as asas. Veja só onde me meti. Tenho que reinventar tudo, até criar um novo labirinto. Sinto-me nesta obrigação de deformar para formar, de torcer para ser compreendido. Pelo menos eu já me adiantei primeiro: isso aqui é para Ninguém. Só assim posso me entender ao me contradizer.  Estou nessa lista: todos os poetas mentem e é para a felicidade da poesia. Todos os poetas assumem a sinceridade de pedir licença à linguagem e depois ao sentimento. Ganham os que sabem tocar pessoalmente a corda do comboio. A poesia é o que gira a corda e faz o trenzinho ir. Em língua portuguesa, sabemos fingir, não é mesmo? Como na política, nos negócios, lícitos e ilícitos, na arte. E olha aí mais um fã de um dos mais irregulares dos idiomas. Eis-me esc...

TODO DIA ENFRENTAR A MORTE

Todo dia enfrentar a morte, o último exílio, praticar o mortal círculo da vitalidade. Todo dia renascer a palavra. Todo dia ser alguém que já foi e novamente ser o outro de si mesmo. O ciclo vital não exclui morrer e viver, morro agora para viver o risco de viver e morrer novamente. Na adversidade, esperei; na fartura, temi. Não sei que nome posso dar ao que escrevo, assim está melhor, terei segurança nesta parte que me é insegura, entendes? Assim posso ter o que é meu nesse jogo com o desconhecido. Sei que a palavra mais bela pode ser a mais falsa e que a palavra mais feia pode ser a mais sensata. Escrever bonito pode ser uma forma de esconder outro tipo de miséria, a ilusão do belo diante do destino que nem os deuses podem evitar. Prefiro escrever por inícios que é como o primeiro homem diante do ato de lembrar quando seu único recurso é a escrita; o primeiro a rabiscar com o carvão, o primeiro traço em algum canto de uma caverna, como agora esse papel é a caverna ou a memóri...

QUANDO ESCREVE, TODO HOMEM OLHA PARA TRÁS COMO ORFEU

Quando escreve, todo homem olha para trás como Orfeu porque sempre se perde o que se cria e é da natureza de quem cria desafiar e despedaçar-se - nesse ofício, pois foi ele quem ajuntou os homens, deuses e animais na sua função de aglomerar e de partir, abrir novos rumos e descer ao invisível, - o Hades, um lugar para não impressionar, mas de comover, de nada lembrar, mas de retornar e de nada trazer.  Eis o poeta. Escrevemos o que perdemos, e assim, deixo fluir essas linhas como o rio que me ensinou a ir só para frente, e me mostrou que retornar é o mesmo caminho – o de a água purificar - e quando se pode acatar os remansos, essas estranhas curvas e suas forças para dentro, escrever é anunciar uma existência que está para surgir e não para ficar ou insistir. E cada letra que cai desenha o seu próprio destino, em sua forma de nada ou de tudo e entre essas duas palavras, o poeta a dizer de Alguém para Ninguém, em seu persistir. Francamente, escrever é uma forma de aceitar o ...

A BALADA DO MENINO-GUERREIRO

Fui Soldado romano, morri jovem, não cheguei a ser homem. - Me perdoa. Fui escravo em uma galé no Mediterrâneo. Morri jovem, não cheguei a ser homem. - Me perdoa. Fui arqueiro em uma aleia medieval, Morri Jovem, não cheguei a ser homem. - Me perdoa. Fui soldado na Segunda Guerra, Morri jovem, não cheguei a ser homem. - Me perdoa. Eu sou apenas Um Menino-Guerreiro - Me perdoa. Benilton Cruz 28.02.2018 Abaixo: desenho de uma galé no mediterrâneo; arquearia do exército inglês e um soldado romano.

ORAÇÃO DO PEQUENO URSO

Não vou te ferir, Quero brincar E te ensinar O que diz a Terra Mãe E onde a minha garra pousar É onde vou te curar. - Sou um aprendiz xamã. Minha caverna é o teu coração. Sou pequeno, sou forte. Hiberne comigo e depois Acorde para viver E novamente brincar. Eu venho do Oeste De onde se fabricam os sonhos, De onde o vento diz: Que a solução para tudo Está sempre dentro de nós E não em nenhum outro lugar. 17.02.2018 Benilton Cruz

MEU NOME É SATAO, SOU UM ELEFANTE E SOU O TEU GUIA

Meu nome é Satao, 45 anos até a última sexta-feira. Posso dizer que não sabia que corria perigo, pois vivia em liberdade, monitorado 24 horas e rodeado de admiradores que de toda parte do mundo vinham ver o meu marfim que tocava o chão. Diziam que eu era um dos mais belos animais da Terra. Eu não sei o que quer dizer animal, sei apenas viver solto, - às vezes só - , me comportava como criança diante da Mãe Terra, às vezes em bando, eu liderava meu pequeno grupo, e carregava comigo toda a memória dos meus ancestrais. Homens vieram à noite, com espingardas automáticas, e deram-me vários tiros com setas envenenadas e levaram o meu rosto, não sei pra quê, mas ouvir dizer que agora ficarei exposto em alguma suntuosa sala nos Estados Unidos, China (o maior mercado), ou em outras nações asiáticas, como a Tailândia, Filipinas e Vietnã. Fui mais um na cruel estatística dos 30.000 elefantes africanos mortos nos últimos anos. Eu não sabia que as minhas presas podiam ser vendidas por milhare...

SETE ENSINAMENTOS CELTAS

A sabedoria celta era transmitida à sombra dos carvalhos seculares da Gália, Bretanha, Irlanda, Ibéria, e nos recônditos da Galícia, e outras regiões do norte e noroeste do Velho Continente - e principalmente do coração da Europa - povos não totalmente conquistados por gregos e nem romanos, povos da floresta. Era um sussurro entre ramagens e arbustos, e em segredo, na voz dos druidas aos neófitos, os aprendizes, jovens que despertam para a vida adulta. Selecionei sete desses ensinamentos do que aprendi com a leitura feita sobre os celtas, e mais algumas orações, rezas e bendições desses povos que deixaram uma marca lírica inextinguível em nossos corações de lusitanias amazônicas e de um misterioso passado irlandês no nosso desconhecido Brasil. 1. "Você sabe quem você é"; 2.“Quanto maior o seu destino, maior o preço”; 3. “Seus pés vão levá-lo para onde está seu coração”; 4. “Um olho amigo é um bom espelho”; 5. “A verdadeira grandeza conhece a gentileza”...

A CACHAÇA "INDIAZINHA FLECHA DE OURO" É DESTAQUE NACIONAL

A retomada da produção de aguardente em Abaetetuba, no Pará, se deve muito a iniciativa de Elias Quaresma e seu filho Marter Blender, mestrando em engenharia química pela UFPa, no estudo sobre o envelhecimento da cachaça em carvalho europeu, castanheira e piquiazeiro. A aguardente produzida pela família obteve recentemente a 19ª posição em um concurso nacional de apreciadores da água que passarinho não bebe. Foi no III Ranking da Cúpula da Cachaça, notícia veiculada inclusive pelo jornal Estado de S. Paulo. Parabéns, Elias, meu primo e irmão, sucesso no empreendimento. A expectativa para este ano é produzir 22 mil litros da premiada Indiazinha de Prata e da Indiazinha Flecha de Ouro. O mais interessante é que o envelhecimento da bebida é feito em toneis de madeira da região amazônica como o piquiazeiro e a castanheira, além do tradicional uso dos tonéis de carvalho. Blender diz que nesta época de inverno, a cana de açúcar cresce sob as chuvas, recebe a natural irrigação, e depois, no...

A TRILOGIA DO BEIJA-FLOR

                                                            1. TODO BEIJA-FLOR   quando nasce é imperceptível, e ao nascer é do tamanho de outro beija-flor. Todo beija-flor aprende a eternidade das flores. É breve o seu beijo, é breve o seu desejo, é intenso o seu vôo. Todo beija-flor tem asas invisíveis para não tocar o vento. Todo beija-flor vive em êxtase: não canta. 2. TODO BEIJA-FLOR quando encontra outro beija-flor não reparte a mesma flor. O vôo não é lugar para nada cuidar, o vôo é o nada vacilante no ar. Toda flor é um convite e todo beija-flor traz no peito um emblema de um reino feliz. Todo beija-flor é de utilidade pública, é patrimônio universal da poesia. 3. TODO...

PARA O MENINO QUE QUERIA CORTAR O SEU CORAÇÃO EM ALTO-MAR

García Lorca morreu como um menino: o seu crime foi incitar as gaivotas e o trabalho prateado das formigas. Do seu sangue, o crepúsculo era jovem e a manhã azulava com cheiro de pólvora, para abençoar as oliveiras para silenciar o melro para inclinar a papoula de volta para a meia-noite. Era de sua nuca que sangrava aquela madrugada de agosto. O homem é a imagem de Deus. Deus é a imagem do homem. Por isso sua memória será a do guardião de borboletas. Um pranto por García Lorca às cinco horas da manhã. Pelas cinco horas da manhã de todos os relógios. Pela última frase escrita com o sangue moreno do seu peito andaluz, pela lua cigana e pelos olhos de lua dos cavalos de Granada e pela memória do amante menino que queria cortar seu coração em alto-mar: Um pranto por García Lorca às cinco horas da manhã, às cinco horas da manhã de todos os relógios. Um pranto, ainda que não desperte a maçã, ainda que o orvalho retarde-se nos vidros das janelas, ain...

O FILÓSOFO PENSA EM SEU AUTOMÓVEL

O filósofo pensa em seu automóvel. Pensa ao dirigir, mas não se distrai. Pensa e dirige. Tudo passa correndo em sua mente. O tempo e o espaço. A matéria. A dúvida. O conhecimento. O ser. E novamente a dúvida que parece ser o ser. Dentro de um ônibus talvez, um pensamento fulminante, um jato de revolta pode irromper com mais frequência. Porque por onde se olha tudo é uma revolta só. Nada mais brasileiro do que filosofar dentro de um ônibus. Nós pensamos pelo desconforto. Ao contrário dos que pensam junto à lareira, ao queijo e ao vinho. As filosofias que nascem do conforto são válidas, mas não levam ao conforto. Sabemos que é impossível pensar sem o mínimo de dignidade. A cidade tornou-se um círculo vicioso onde o tempo dá voltas pelo mesmo lugar. Nada muda e tudo permanece do jeito que está. É impossível pensar no que não muda. A cidade cresce para cima e cria limo as paredes. A periferia amontoa-se em silencioso desastre humano. A vida vale uma jogada no bicho ou a esperança na...

PRIÈRE POUR OSCAR PÉREZ

Il a quitté les fils, la femme, les parents, les proches et les amis et lutté pour un idéal: la liberté. En tant que pilote d'hélicoptère, il s'est battu pour apporter de la nourriture et des médicaments aux frères sans défense dans les régions les plus reculées de son pays. Il avait les yeux bleus clairs pour voir plus loin et cette clarté était celle de la lumière qui venait de son cœur, la lumière de son âme, la lumière de sa vaillante fraternité. Il ne s'est pas seulement battu avec des fusils, et s'il faire face à la tyrannie qui opprime les gens au point de les forcer à ne pas les utiliser pour que les mêmes personnes obéissez et asservissez-vous à la privation. Il a utilisé des fusils, oui, pas pour tuer, mais pour montrer que tout le monde a le droit à la défense et sait le temps de démissionner,parce qu'à la fin leur lutte était pacifique et parce que dans cette lutte Le guerrier sait qu'il est seul. Il a non seulement fait face aux armes...