Pular para o conteúdo principal

AMAR TANTO NÃO É O PRINCIPAL; O PRINCIPAL É TOCAR


Amar tanto não é o principal; o principal é tocar.
Todos temos sombras. O perfil muda; as sombras não; silentes são as sombras e a sós nos acompanham, quando estamos realmente a sós, nunca acompanhados, - até as sombras nos abandonam. 
Conheces a tua sombra? Conheces a sombra do outro? 
Amar tanto não é o principal; o principal é tocar.
Só conhecemos uma parte, aquela que ficou, e só realmente conhecemos quando se vai. E esta vai te faltar. O amor não tem pressa, é a eterna criança-alada e quando se falta Amor, ganha-se uma alma.
O amor é lição nova para nossas velhas emoções bárbaras e a poesia costuma ensinar o rebrilho da palavra e o amor pelo ajustado tom de nossa conversa em torno desse tema, onde há um destino de incerteza, é a poesia o que nos adianta e a sós nos avança.
O Amor arde como o conhecimento e a perfeição de Leonardo, como o sol nos olhos de Galileu, como o Amor que move o Sol e as outras estrelas, que Boccaccio sobre a Comédia mudou para a Divina. Exatamente sobre essas outras estrelas que Dante tanto quis falar, porque o Amor torna-nos resistentes, enrijece-nos o corpo, dá-nos capa ao coração, protege-nos de sermos o estranho em nossas sombras. O Amor nos livra desse abismo.
E o Amor pelas palavras? É a também estranha devoção pela música e pelas imagens, e ainda há aquele secreto zelo de uma remota oração: o ato de ler e ser lido pelo o que se vê é o amor que escreve e é o amor que lê.

É a maior das liberdades. 


24.03.18

Benilton Cruz



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UM DIA DE FESTAS - POR ADALBERTO MOURA NETO

Recital em frente à casa onde nasceu o poeta Antônio Tavernard, em Icoaraci. Hoje se concretiza o sonho de reerguer este espaço como a merecida Casa do Poeta, na visão de Adalberto Neto e endossado pelo autor do livro Moços & Poetas. Publico hoje, na íntegra um artigo de um grande agitador cultural de Belém, em especial de Icoaraci. Trata-se de um relato sobre uma justa homenagem àquele que é considerado como um dos maiores poetas paraenses: Antônio Tavernard.  O que me motiva esta postagem - e foi a meu pedido - é que a memória cultural do nosso estado vem de pessoas que fazem isso de forma espontânea. O Adalberto Neto é aquele leitor voraz e já um especialista no Poeta da Vila - e isso é o mais importante: ler a obra de Tavernard é encontrar: religiosidade, Amazônia, lirismo, musicalidade romântico-simbolista, um tom épico em seus poemas "em construção" e um exímio sonetista, e eu diria: Tavernard faz do soneto um minirromance.  Fico feliz pelo Adalberto Neto, o autor d...

AO CORAÇÃO DO MAESTRO (PEQUENA CRÔNICA PÓETICA)

O coração do poeta encontrou o coração do maestro em outubro de 2023 e desde então conversavam como se fossem dois parentes que fizeram uma longa viagem a rumos diferentes e que se reencontravam de repente. O coração do maestro ensinava; o coração do poeta ouvia. Quem ensina é o coração; quem aprende é também o coração. Dois irmãos. - Um coração para duas mentes diferentes. O coração do maestro regia as histórias, as lendas, os mitos, a ópera, a música; o coração do poeta dizia: sonho com o verso, o certeiro acorde, do maestro como ópera e como canção, como rima, como melodia, como ode. E alegria. Era muita cultura, para muito mais coração. Era quase todo dia, um projeto, uma ideia, uma música, um hino, o coração do poeta escrevia: "Homens livres e de bons costumes/ irmãos do espírito das letras/ levantai a cantar a Glória do Arquiteto Criador/ Homens Livres e de bons costumes/ Irmãos do espírito das Letras/ Aprumai a voz ao coração/ que a pena é mais forte que o canhão/ Às Letras...

A ORIGEM DO FOGO — LENDA KAMAYURÁ

    Lenda colhida pelos irmãos Villas Boas. Posto Capitão Vasconcelos à margem do arroio Tuatuari, em 16/06/1955.    Na Amazônia, todos os povos indígenas têm lendas sobre a origem do fogo. Elas diferem entre as etnias, embora o processo seja o mesmo: uma flecha partida em pedaços e uma haste de urucum.  Das lendas que ouvimos sobre a origem do fogo, a que mais nos pareceu interessante foi a narrada por um velho Kamayurá.                                                     “Canassa — figura lendária, caminhava no campo margeando uma grande lagoa. Tinha a mão fechada e dentro, um vaga-lume. Cansado da caminhada, resolveu dormir. Abriu a mão, tirou o vaga-lume e pôs no chão. Como tinha frio, acocorou-se para aquecer à luz do vaga-lume. Nisso surgiu, vindo da lagoa, uma saracura que lhe disse: ...