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AO CORAÇÃO DO MAESTRO (PEQUENA CRÔNICA PÓETICA)





O coração do poeta encontrou o coração do maestro em outubro de 2023 e desde então conversavam como se fossem dois parentes que fizeram uma longa viagem a rumos diferentes e que se reencontravam de repente.


O coração do maestro ensinava; o coração do poeta ouvia.


Quem ensina é o coração; quem aprende é também o coração.


Dois irmãos.


- Um coração para duas mentes diferentes.


O coração do maestro regia as histórias, as lendas, os mitos, a ópera, a música; o coração do poeta dizia: sonho com o verso, o certeiro acorde, do maestro como ópera e como canção, como rima, como melodia, como ode.


E alegria.


Era muita cultura, para muito mais coração.


Era quase todo dia, um projeto, uma ideia, uma música, um hino, o coração do poeta escrevia:


"Homens livres e de bons costumes/ irmãos do espírito das letras/ levantai a cantar a Glória do Arquiteto Criador/ Homens Livres e de bons costumes/ Irmãos do espírito das Letras/ Aprumai a voz ao coração/ que a pena é mais forte que o canhão/ Às Letras, às Letras/ A Glória de Deus Exaltar / A divina construção é entre irmãos estar/ A régua, o prumo, o compasso à pena escrever/ A pena exaltar!".


O coração do maestro cantava...


""Homens livres e de bons costumes/ irmãos do espírito das letras/ levantai a cantar a Glória do Arquiteto Criador..."


E eu ria de sua melodiosa memória.


E haja o coração do poeta perturbar o coração do maestro, criar, criar, criar. 


E já dizia o Eclesiastes, que uma obra, um livro, não tem hora e nem tem tempo para começar ou acabar.

                                        

Não é a morte que vai impedir da obra de Deus completar.


A luz não foi feita para voltar. 


Eu poeta-"teólogo"; ele, amazônico-compositor.


O que diz o verso?


 O verso é uma pauta com palavras e elas completam a música do cantar.


Ele se foi.


A saudade começa a apertar.


É hora de saudar o coração do maestro que agora ao lado do pai e da mãe está:


- ao lado de outros amorosos corações que se foram antes e agora o recebem - o coração do maestro voou – como um rouxinol ou como um uirapuru nas asas da música e da poesia à musical e poética morada de Deus!


O nosso derradeiro lugar.


De: Benilton Cruz


Para: José Wilson Malheiros da Fonseca.


01. 07. 2025




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