Que
bicho mais misterioso é aquele que escreve? Que bicho é esse que arruma letras
em uma ordem? Rumar o incerto, agora cheguei a ti. Caio nas sentenças que então
entre um ponto e outro. Tinha razão Dédalo, do labirinto só se escapa com o fio
ou com as asas. Veja só onde me meti. Tenho que reinventar tudo, até criar um
novo labirinto.
Sinto-me
nesta obrigação de deformar para formar, de torcer para ser compreendido. Pelo
menos eu já me adiantei primeiro: isso aqui é para Ninguém. Só assim posso me
entender ao me contradizer.
Estou nessa lista: todos os poetas mentem e é para
a felicidade da poesia. Todos os poetas assumem a sinceridade de pedir licença
à linguagem e depois ao sentimento. Ganham os que sabem tocar pessoalmente a
corda do comboio. A poesia é o que gira a corda e faz o trenzinho ir. Em língua
portuguesa, sabemos fingir, não é mesmo? Como na política, nos negócios,
lícitos e ilícitos, na arte. E olha aí mais um fã de um dos mais irregulares
dos idiomas. Eis-me escrevendo com irregularidades e com as contradições, em
português.
Aguarda-me
uma língua nova por onde eu possa ressurgir com a mesma sede da errância, sede
de infância. Sonho lucidamente uma destruição criadora, o verdadeiro sentido é
derruir, digo, errar, faustinamente, criar, ou melhor, "Amar, fazer, destruir".
17.03.2018
Benilton Cruz
17.03.2018
Benilton Cruz
Fonte dos Amores, Coimbra, Portugal.
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