García Lorca morreu como um
menino: o seu crime foi incitar as gaivotas e o trabalho prateado das formigas.
Do seu sangue, o crepúsculo
era jovem e a manhã azulava com cheiro de pólvora,
para abençoar as oliveiras
para silenciar o melro
para inclinar a papoula de
volta para a meia-noite.
Era de sua nuca que sangrava
aquela madrugada de agosto.
O homem é a imagem de Deus.
Deus é a imagem do homem.
Por isso sua memória será a do
guardião de borboletas.
Um pranto por García Lorca às
cinco horas da manhã.
Pelas cinco horas da manhã de
todos os relógios.
Pela última frase escrita com
o sangue moreno do seu peito andaluz,
pela lua cigana e pelos olhos
de lua dos cavalos de Granada
e pela memória do amante
menino que queria cortar seu coração em alto-mar:
Um pranto por García Lorca às
cinco horas da manhã,
às cinco horas da manhã de
todos os relógios.
Um pranto, ainda que não
desperte a maçã,
ainda que o orvalho retarde-se
nos vidros das janelas,
ainda que a aurora seja
somente para as serpentes.
Um pranto, antes de rodar o
girassol
por seu corpo que nunca foi
encontrado,
porque era feito da mesma
substância dos pássaros
da mesma substância das
palavras.
Um pranto por García Lorca às
cinco horas da manhã,
às cinco horas da manhã de todos
os relógios.

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