Pular para o conteúdo principal

Postagens

MEU QUERIDO WALCYR,

Fantasmagorias existem em toda parte, e enxergá-las é uma arte, assim como a sua lida com a literatura fantástica, essa que nos faz lembrar que toda literatura começa (e termina) com o próprio fantástico, de contar e de imaginar, desde o princípio genesíaco ao apocalíptico temor das narrativas sagradas.  Nada é superior ao verbo ordenador de cosmogonias, teologias, encarnações, espiritualidades paralelas, superiores e inferiores - e nada mesmo - aproxima tanto a irmandade da palava quanto o desvelar de epifanias de toda ordem, revelações secretas, espirituais, sim. Espirituais.  Obrigado, querido Walcyr, sua obra cativa o público mais importante da literatura: as crianças. Você me deu uma aula na última FliPA, essa nossa conversa com o escritor também paraense, Nicodemos Sena, e a nossa querida Deborah, mulher guerreira, proprietária da livraria que mais divulga a nossa cultura: a Livraria Fox.  Sua experiência com o escrever só me mostrou como somos ricos da lavra aurífe...

CHORO POR TI, BELTERRA

- Nicodemos Sena lança livro "Choro por ti, Belterra" na FliPA, a Feira Literária do Pará, evento muito bem organizado pela Livraria Fox, a Pagés, empresa digital, e a editora Empíreo, na capital paraense.  - Esta nova obra do escritor nascido em Santarém e radicado na cidade de Taubaté, em São Paulo, relata de maneira sui generis uma reconstituição do que era a cidade de Belterra, no Pará, na década de 1940, quando o magnata americano Henry Ford investia na produção em larga escala dos pneumáticos no coração da floresta amazônica.  - Primeiro, chama a atenção o selo "Letra Selvagem" título apropriado ao universo amazônico e de certa forma ao mercado editorial brasileiro, e é bonito a logotipo inspirado a partir da cerâmica Aruak, cujos traços foram recolhidos por Koch-Grumberg, em 1910. - O livro se apresenta em 19 episódios escritos entre a memória, o romance, o conto, a crônica, a literatura de viagem, a poesia e principalmente pela busca de um amazônida às su...
O poeta Obdias Araújo lança novo livro, o "Versículos de Salomão", obra na qual  há o encontro com a cultura síria, algo pertinente ao convidativo universo amazônico, desde remotas épocas do Humanismo ibérico, no longo século 16, quando o Novo Mundo se desenhava aberto ao encontro de culturas.    Com Obdias, aprendi que "pai, nenhum céu brilha menos com a queda de um estrela", dentre outros poemas de seu primeiro livro "Praça, Pinga, Poesia & Mágoa", em seu já histórico 30 anos de lida com a poesia.  Lembro do  autor , empunhando a sua flauta transversal, diante do pôr do sol e do pôr do som,  projeto cultural que nos permitia ouvir  clássica música diante do florestal amazônico , a partir de um carro com aparelhagem cedido pelo Centur, enquanto o sol amarelecia diante da s esverdeadas águas da baía do Guajará, em Belém do P ará, em fins da década de 1980. Eu fiz três perguntas ao poeta e ele responde:  01. Como surgiu este seu nov...
"ARRISCA-TE SER A PRÓPRIA LINHA"   Três perguntas para Roseli Sousa, autora do recém-lançado "Lâminas nos Olhos", livro provocador de novas leituras sobre questões pertinentes ao universo da poeta. Ela tem uma história muito peculiar com a poesia, as artes plásticas, as antologias, a educação, a atuação política, a religião, e a mulher. E ela responde: 1.      Na sua carreira literária, como surgiu este seu novo livro? R:  O novo livro surgiu de um período de amadurecimento de uma jornada de trinta e três anos. É um livro de bolso que   traz   poemas de uma fase que me permiti ser observante do tempo presente sem necessariamente estar na cena. Período em que frutos amadurecem, escrevi dois livros antes de “Lâminas nos Olhos”, que ainda não estão disponíveis ao público porque   “estão na fervura da panela”. Vivo e produzo literatura sem amarras à editoras, porque optei por uma produção independente e ainda, afastadas de politi...

Antipoemas Sujos - Expiações do Caos

Antipoemas Sujos - Expiações do Caos, livro de Benny Franklyn, lançado em 2015, pela Twee Comunicação, mergulha na concepção da poesia sem mistificação ou burla, sob evidentes releituras de Walt Whitman, Roberto Piva, Max Martins, Beat Generation, Ezra Pound, Rimbaud, e - claro - uma surpreendente e encantadora (e sem frescuras lexicais) interpretação da poesia feita pelo próprio poeta, como nos versos "Todas as fugas são colagens essenciais da noite" ou "Não escrevo o que calo", "Sim, sou testemunha de um tempo arguto & Implacável", "O poeta/ resmunga / em pêndulo/ em nada" ou o meu favorito trecho "Aprendi com as brisas paradoxais do infinito/que a vida de poeta, suas dúvidas impertinentes de argila,/suas espadas invencíveis de vento, suas extremas destrezas de cobre, eram todas as des-humos emudecidas que estavam ao meu alcance". Recomendo o livro cujo autor estará autografando na próxima versão da FLIPA, Feira do Livro da produç...
O artigo “Fräulein von Orleans” analisa e comprova a presença de Friedrich Schiller, da peça  A Donzela de Orleans , de 1881, na personagem Elza, do romance de Mário de Andrade,  Amar, verbo intransitivo . A ação pedagógica da preceptora, contratada para ensinar piano e alemão às crianças de uma mansão em Higienópolis, São Paulo, é a de quem acredita na arte como uma forma de educação, moldada por valores morais, todavia, em conflito com o comportamento burguês dos novos ricos paulistanos. Essa “Joana D’Arc” não é imolada à fogueira, sacrificada como uma típica heroína romântica, mas “morta” em combate, como na obra do dramaturgo alemão, na tentativa de equilibrar objetividade e subjetividade, desta vez, no instável mundo burguês, da capital paulista. Há uma Elza que vai além da iniciação sexual do futuro Sousa Costa, existe a Fräulein von Orleans, uma “universal” alemã-francesa, “mãe do amor”, a que não pode deixar de aparecer sem a sua “bandeira” de moralidade. Link do ...
ÁGUA NUA Semente  -  em tua boca há tanto prazer que é preciso esconder-me nas paredes. Lá há mais língua ainda, até mais aonde a língua leva. É preciso descascar e beber da sementeira viva e sempre da tua voz. Sou prisioneiro desta cegueira. Navegar em teu corpo é a precisão do timoneiro temeroso ainda que a tormenta seja a água e a escrita: a forma de civilizar o corpo. Civilização é o que se escreve do corpo. Há mais tesão em civilizar que o corpo acaba por ser uma página, um livro, uma leitura. Nada destrói o desejo que lateja o corpo que mente ao coração e perverte a razão. Há mais fábulas num ato que desconhece a ficção. A imaginação criou-se para o prazer como o ato criou-nos para ser além do ser. Abra os olhos que o amor fala de ti, fala da árvore e de mim. Abra os olhos que o amor fala de nós, e daqueles que virão depois da tua distância. Abra os olhos que o amor fala de mim e de ti e só. Benilton Cruz, Aedeus, inédito Foto: Judy Ga...

quarta ou quinta-feira, 21, outubro indefinido

Toda carta de amor se escreve na cama assim como a poesia depois de Breton e não adianta cortesia se toda carta de amor é ridícula quando se tem um Pessoa como leitor: Ana, Mileva, Milena – a lida terapêutica da escrita tem que ser à mão, no alisar do papel na branca memória das palavras e seus frios anéis da fala. Assim entendes meus erros, pelo menos temos algo em comum: o medo das andorinhas num canto do coração, para arder o papel e na pressa de ontem e hoje são iguais os telegramas lidos à mão. Tu te repartes em frases curtas lapidadas de computador como o Max queria e deixas sobre a mesa para o vento fixá-las no ar.          Do livro Aurora que vence os tigres , 1996.          Benilton Cruz                    Foto: Raíz de Samaumeira, arquivo do autor          

A BELEZA SERVE PARA TE DEIXAR DESPERTA

  Escrevo o fogo em teu peito de neve e firo a letra cuja mão assinala o sangue da luta: quem disse alma, disse tempestade. Invejo o mar iluminado e vejo sonhar teu sonho como um pássaro que leva no bico a vida como a flor da morte. Foi ele que criou o amor quando suas asas abriram o fogo do espírito. Desta beleza direi que és o meu tormento, de cuja fome a palavra é alimento.   O poeta destrói os versos, refaz as palavras Destrói a linguagem. Eia! Avante, temos glamour pelas ruínas. A pátria de Camões é o exílio: naufrágios, poemas à mão. Fogo no mar gelado: e Natércia afoga-se ao seu lado. Para o poema dizer o que a palavra iludiu. Água do deserto: a beleza serve para te dizer que o poder é liberdade & a beleza serve para te deixar desperta.                                     Benilton Cruz                 ...
        O objetivo deste livro é desvendar na fala brasileira a contribuição da cultura e da literatura portuguesa nos dois romances de Mário de Andrade: Amar, verbo intransitivo, de 1927 (edição bastante modificada para a definitiva de 1944), e Macunaíma, de 1928.  É um inventário de palavras e expressões de origem lusitanas - daí o nome "Espólios Para uma Poética", afinal o Modernismo paulistano está eivado da influência da literatura portuguesa devido à afeição dos participantes da Semana de Arte Moderna, principalmente Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Há  muitas lusitanias no bojo de um escritor em ação, consciente da difícil tentativa de integrar a cultura brasileira em uma universalidade, herança de seu gosto pelo Classicismo, em especial o Barroco, assim também pelo não menos incerto universal da estética de Graça Aranha. A literatura investigada tem o comportamento em aberto no encontro consigo mesma, nesse idioma, como registro ...

SINOPSE DO LIVRO MOÇOS & POETAS, DE BENILTON CRUZ

O presente livro aborda quatro poetas que viveram suas juventudes em Belém do Pará entre as décadas de 1920 a 1950. São textos originários da projeto Dissimetrias Modernistas desenvolvido no Campus Universitário do Baixo Tocantins (CUBT) da Universidade Federal do Pará, pesquisa que investigou as inovações estéticas na poesia escrita em Belém do Pará. No primeiro ensaio, mostraremos um Antônio Tavernard sem a mística da dor e do sofrimento. A ideia é revelar uma poesia mais ligada à juventude, intensamente vivida sob o vigor da experiência vital menos romântica e mais consciente de uma poética plural e moderna. Seu nome será defendido dentro da noção de poesia relutante da forma, e metapoética, a que é convidativa e questionadora de sua linguagem. O segundo ensaio trata de um tema muito importante na obra de Paulo Plínio Abreu: a órfica reconstituição de um mundo fragmentado que, todavia, aponta outra direção: o poeta não vai reunir um mundo despedaçado, como ainda se enxer...