Toda
carta de amor se escreve na cama assim como a poesia depois de Breton e não
adianta cortesia se toda carta de amor é ridícula quando se tem um Pessoa como leitor: Ana, Mileva,
Milena – a lida terapêutica da escrita tem que ser à mão, no alisar do papel na
branca memória das palavras e seus frios anéis da fala. Assim entendes meus
erros, pelo menos temos algo em comum: o medo das andorinhas num canto do
coração, para arder o papel e na pressa de ontem e hoje são iguais os
telegramas lidos à mão. Tu te repartes em frases curtas lapidadas de computador
como o Max queria e deixas sobre a mesa para o vento fixá-las no ar.
Do livro Aurora que vence os tigres, 1996.
Benilton Cruz
Foto: Raíz de Samaumeira, arquivo do autor
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