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        O objetivo deste livro é desvendar na fala brasileira a contribuição da cultura e da literatura portuguesa nos dois romances de Mário de Andrade: Amar, verbo intransitivo, de 1927 (edição bastante modificada para a definitiva de 1944), e Macunaíma, de 1928. 
É um inventário de palavras e expressões de origem lusitanas - daí o nome "Espólios Para uma Poética", afinal o Modernismo paulistano está eivado da influência da literatura portuguesa devido à afeição dos participantes da Semana de Arte Moderna, principalmente Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Há  muitas lusitanias no bojo de um escritor em ação, consciente da difícil tentativa de integrar a cultura brasileira em uma universalidade, herança de seu gosto pelo Classicismo, em especial o Barroco, assim também pelo não menos incerto universal da estética de Graça Aranha.

A literatura investigada tem o comportamento em aberto no encontro consigo mesma, nesse idioma, como registro do olhar que descreve o mundo sob a sensibilidade não apenas do escritor e sim também do missivista, do etnógrafo, do mitólogo, do geógrafo, do cronista ou qualquer outro termo a tentar definir a verve plural de Mário de Andrade.

Benilton Cruz 
Lusitanias modernistas em Mário de Andrade. São Paulo : Paco Editorial, 2016.

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