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O artigo “Fräulein von Orleans” analisa e comprova a presença de Friedrich Schiller, da peça A Donzela de Orleans, de 1881, na personagem Elza, do romance de Mário de Andrade, Amar, verbo intransitivo. A ação pedagógica da preceptora, contratada para ensinar piano e alemão às crianças de uma mansão em Higienópolis, São Paulo, é a de quem acredita na arte como uma forma de educação, moldada por valores morais, todavia, em conflito com o comportamento burguês dos novos ricos paulistanos. Essa “Joana D’Arc” não é imolada à fogueira, sacrificada como uma típica heroína romântica, mas “morta” em combate, como na obra do dramaturgo alemão, na tentativa de equilibrar objetividade e subjetividade, desta vez, no instável mundo burguês, da capital paulista. Há uma Elza que vai além da iniciação sexual do futuro Sousa Costa, existe a Fräulein von Orleans, uma “universal” alemã-francesa, “mãe do amor”, a que não pode deixar de aparecer sem a sua “bandeira” de moralidade.

Link do artigo : http://seer.fclar.unesp.br/letras/article/view/8595


O romance foi adaptado para o cinema como "Lição de Amor", reiterando a filosofia de Schiller que acreditava na arte como condutora de humanidade, daí a questão do amor em primeiro plano antes do ato sexual em si. observem o olhar de Fräulein, interpretada por Lilian Lemmertz, ao "aluado" Carlos (Marcos Taquechel), filme brasileiro, dirigido por Eduardo Escorel, em 1975.





Capa do romance, pela editora Itatiaia, de Minas Gerais. Idílio dá a ideia de "quadro pequeno", romance pueril de caráter educativo, e essa linha remonta a Bernardin de Saint-Pierre,citado no livro de Mário de Andrade Esse francês foi o autor do famoso romance de amor adolescente "Paulo e Virgínia", lançado em 1788, obra de grande êxito.


Capa da edição traduzida para o inglês e lançada nos Estados Unidos

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