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AZUL É TAMBÉM ANOITECER

 O que dizer desse azul antes do anoitecer? 26.02.2024 Belém PA Brasil Os gregos não tinham uma definição precisa para o azul - talvez por ser a cor mais misteriosa - Homero falava em "mar piscoso" ou de "vinho escuro", ao anoitecer em suas epopeias. Chineses e hebreus também não descreviam essa cor em seus textos clássicos. Parece que em todos os idiomas, a palavra para designar a cor azul é a última a aparecer. No Egito Antigo, a referência ao azul foi encontrada em um hieróglifo referindo-se a corantes dessa cor, coisa que eles foram os primeiros e únicos a fabricar. A palavra para definir o azul sempre foi um mistério. Diferente para Van Gogh que um dia escreveu a seu irmão Theo: "tenho uma fé absoluta na arte e não há nada mais artístico do que amar verdadeiramente as pessoas". Van Gogh pintou a noite. Ele a achava mais viva e colorida que o dia. E para esse pintor holandês não há azul sem amarelo e sem laranja. Pintou todos os tons de azuis visíveis ...

GENTE DO RIO

 GENTE DO RIO Eu nasci com aquele rio que corre pelos meandros da memória. Todos os rios nascem da memória. Todos os rios voltam à memória. São os rios que escrevem a história. O meu povo tem o rio no corpo e tem o rio na alma. Nos olhos do meu povo está o rio que brilha como um dia que virá radioso. Todos que convivem com o meu povo aprendem a linguagem do rio, e não se perdem com os caminhos das águas, porque são todos os caminhos, porque são todos os homens. São todos que ainda falarão a língua iluminada da água. E caminharão como um rio que ensinou a caminhar. Foi o rio que ensinou o homem a andar, por isso são todos feitos com a matéria da procura, a mesma matéria da água. É assim a lenda do meu povo: o rio procura o homem e o homem procura o rio. CRUZ, Benilton. Gente do rio. In : ______. Antologia poética Abaetetuba. Garibaldi Nicola Parente, Benilton Lobato Cruz. Jundiaí, São Paulo: 2021, p.66.

ROMANCE - POEMA DE MÁRIO FAUSTINO

ROMANCE  Para as Festas da Agonia Vi-te chegar, como havia Sonhado já que chegasses: Vinha teu vulto tão belo Em teu cavalo amarelo, Anjo meu, que, se me amasses, Em teu cavalo eu partira Sem saudade, pena, ou ira; Teu cavalo, que amarraras Ao tronco de minha glória E pastava-me a memória. Feno de ouro, gramas raras. Era tão cálido o peito Angélico, onde meu leito Me deixaste então fazer, Que pude esquecer a cor Dos olhos da Vida e a dor Que o Sono vinha trazer. Tão celeste foi a Festa, Tão fino o Anjo, e a Besta Onde montei tão serena, Que posso, Damas, dizer-vos E a vós, Senhores, tão servos De outra Festa mais terrena  Não morri de mala sorte, Morri de amor pela Morte. CRUZ, Benilton. Vozes Ibéricas no Poema “Romance” de Mário Faustino. In: ______. Moços & Poetas : Quatro Poetas na Amazônia. Jundiaí, São Paulo : Paco Editorial, 2016, p. 65-82.91

ENQUANTO A CANÇÃO DURAR

Enquanto a canção durar, escreve-me. Toda distância a palavra consome, Toda melancolia a palavra redime, E todo entendimento só é possível com silêncio. E o tempo é só uma fuga Em círculo para te trazer  de volta Ao centro. Benilton Cruz

Macapá, 266 anos, Hubert Fichte e Fernando Canto.

Fundada por imigrantes açoarianos em torno do forte de São José de Macapá, a capital do estado do Amapá comemora 266 anos neste domingo 04 de fevereiro de 2024. Dizem que a palavra Macapá deriva de "macabapa" lugar de muitas bacabas, a palmeira abundante na região, e que com o tempo o topônimo preservou a forma atual de Macapá. O certo é que a capital do Amapá é a guardiã da foz do rio Amazonas, a única do Brasil sem ligação rodoviária com o restante do país.                Foto de Breno Rafael, do Forte de São José de Macapá E foi um importante morador de Macapá que me apresentou à Etnopoesia. Fernando Canto, obidense, escritor de Os Periquitos Comem Manga na Avenida, livro de crônicas, que escreveu e publicou enquanto morou em Belém, me deu de presente um artigo de sua autoria sobre Hubert Fichte, o então criador do termo Etnopoesia. Foi em evento promovido pelo Diretório Acadêmico dos Estudantes, em 1992. No auditório do setorial básico da UFPA...

CARTA À LIBERDADE

 Caros defensores da liberdade, - Dia 27 de janeiro - Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto é dia de lembrar de Henryk Goldszmit (seu verdadeiro nome era Janusz Korczak), pedagogo polonês judeu que negou a se salvar sem os seus alunos e seus colegas da escola.  - Ele morreu junto com as crianças no campo de extermínio nazista de Treblinka.  "No dia da deportação do gueto, Korczak pediu para as crianças colocarem suas melhores roupas e pegarem o seu brinquedo favorito. Korczak acompanhou o cortejo das crianças rumo ao Umschlagplatz, de onde partiam os comboios para os campos de extermínio." - dizem os livros de História. - Nazismo e Comunismo surgiram com pensadores alemães e todos sabem o que aconteceu com aquele país: destruído, dividido, reunificado. O Socialismo tem o alento romântico da Revolução Francesa e insiste no erro, já alertado por Frédéric Bastiat, contemporâneo da revolução que levou à guilhotina. - Te prometem o paraíso, mas antes te ensina...

NO MEIO DO TEU CORAÇÃO HÁ UM RIO

Deixarei registrado hoje o lançamento do meu canal de Vídeo-Poemas com o nome de um de meus poemas: NO MEIO DO TEU CORAÇÃO HÁ UM RIO.  A proposta é, como já está registrado no canal, " divulgar meus livros e poemas publicados na versão impressa e na versão digital. Aqui, você vai encontrar também trechos do meu blog AMAZÔNIA DO BEN, com relatos da minha pesquisa "Amazônia Etnopoesia", além de trechos de ensaios e dos meus artigos que lidam sobre literatura. Também você vai ter indicação de leitura, traduções comentadas, além da crítica literária, priorizando os autores da região amazônica". Coloco também chamadas em inglês, alemão, espanhol e francês - para que leitores distantes conheçam a minha produção literária e a pesquisa acadêmica. This is my Video-Poems channel, with the purpose of publishing excerpts from my books published in print and digital versions Dies ist mein Video-Gedichte-Kanal mit dem Ziel nach der Auszüge aus meinen Büchern zu veröffentlichen, ...

AMAZÔNIA ETNOPOESIA: CLAUDINO TEMBÉ

 "A mãe natureza é a fonte". Assim começa a conversa com o pajé, o senhor Claudio Tembé, da aldeia Kanauwaru, perto de Tomé-Açu, no Pará.  E tentei também dialogar - elas muito arredias - com as crianças Wiharu (Sol), Kuarary (Lua) e Mainumi (Borboleta) e em respeito a elas não tirei fotografias e à contra luz, fiz o registro via celular do mestre Claudio ou Claudino, como ele gosta de ser chamado.  Claudino fala bem o português pois já trabalhara como curandeiro na cidade da pimenta, e preferiu retornar à sua aldeia, 12 quilômetros, após uma travessia de balsa, viagem curta. Fui no carro do Otávio, meu aluno do Curso de Letras. Havia comentado em sala de aula, no Polo de Tomé-Açu sobre Etnopoesia e o conhecimento dos povos originários da Amazônia. Depois da travessia, estrada de areia e quando se chega à entrada da aldeia, vê-se terra preta e uma plantação de um arbusto comprido e o Otávio logo me fala: - Tá vendo esse mato aí, professor? - Sim, são muitos. - Pois é, é o...

BELÉM 408 ANOS - FAÇA A SUA LISTA

Quem chega a Belém do Pará já tem um dos mais belos pousos de avião das capitais brasileiras, algo que chama a atenção dos pilotos da aeronavegação é como pode haver uma robusta selva de pedra dentro de uma exuberante selva natural, sem falar da gigantesca baía do Guajará e de seu enigmático e poético aeroporto de nome “Val-de-Cans” – na verdade tudo cheira a mistério na capital que é chamada de o Portal da Amazônia, Cidade das Mangueiras, ou até mesmo de Cidade Morena. A Belém de vários nomes, do hebraico “Casa do Pão” à atual capital do estado do Pará, é conhecida pela sua sinestésica gastronomia, pelas famosas “Casas de Paraenses” – os casarões da Época da Borracha, famosos até em Portugal, quando os portugueses retornavam a seu país, enriquecidos pelo “ouro branco” (o látex), e lá copiavam os paraenses sobrados apalaçados da rica capital mundial da borracha. Belém tem sempre histórias para se recontar e aprender e isso você vai saber do porquê de seus 408 anos. Faça a lista de luga...

2024: UM ANO DE JUSTIÇA

Nas antologias modernas, dispersas na internet, Forseti ("o anfitrião") é referido como o deus nórdico da justiça, da meditação, do conhecimento interior, da força e da paz. Sua história já nos diz que sem meditação não há ciência e equilíbrio. Ele é filho dos deuses Balder e Nana.  Sua casa é o palácio Glitnir, que significa "brilhante". A justiça é uma luz que brilha e guia os povos. Forseti se sentava em sua sala distribuindo justiça e resolvendo as disputas de deuses e homens, prometendo que, em todas as decisões em seu tribunal, ambas as partes estariam sempre em acordo.  Há muitas referências à justiça nas religiões e há também aqueles ditados que resumem uma vida, um povo, uma forma de viver: " - Melhor lutar e cair do que viver sem esperança" (velha máxima nórdica). O ano que inicia será marcado pelos desencantos principalmente nas esferas do poder. Haverá reviravoltas em nome do equilíbrio. 2024 será o ano da justiça, responsabilidade, equidade, d...

A ROSA E O TEMPO

 

VOLTEIO

 01.01.2024 VOLTEIO Das palavras que são belas tenho o segredo de algumas e a rota para todas elas. Na caixa do poema que a terrível esperança escreveu no fundo de todos fundos a grade e a linguagem Ali, como bom prisioneiro Tenho na mão o roteiro: caneta, tinteiro, folha de papel, e de novo o poema que começa por se chamar e termina por onde começar: -  que mais queres saber da palavra? Benilton Cruz

AO TEMPO SÓ PERTENCE ESTE SEGUNDO QUE O PERDES

A expressão "Carpe Diem" (a pronúncia latina: cárpe díame), traduzida como "aproveite o dia", é de Horácio ("Óratio"), poeta que viveu a época na qual a poesia tinha esse tom elegíaco e menos declamatório, - o lírico a tocar os temas inexoráveis que causam desconforto à vida, como a morte ou as soturnas sortes do destino  - textos sempre -carregados de uma divina espiritualidade reconfortante.  - uma poesia filosófica e espiritual. Admirar Horácio é alentar a alma das coisas que não podemos mudar. O poeta das famosas Odes entendia que as musas existem como espírito e que nos ouvem e elas têm comportamento próprio para cada situação. Cloe (a pronúncia latina seria “Clóe”) era uma delas, as outras eram: Lydia,  Clio,  Cloris,  Licia,  Neera.  A musa é essa companhia que em silêncio te escuta na profundidade da alma o alento de cada verso. A poesia é a arte mais misteriosa porque inclui a música, dizia Jorge Luis Borges.  A seguir, um poema meu que i...

CRÔNICA WHATSAPPIANA DO DIA

  Crônica whatsAppiana do dia   Certa vez, o famoso gramático brasileiro Napoleão Mendes de Almeida estava em Belém do Pará e precisava se deslocar para uma escola onde daria palestra sobre língua portuguesa falada no Brasil. Aproximou-se do primeiro transeunte na Cidade das Mangueiras e educadamente fez a pergunta de como devia chegar em tal escola.  E a resposta foi assustadora para o gramático paulista cuja edição de s ua  Gramática Metódica da Língua Portuguesa, de 1943,  chegou a mais de meio milhão de exemplares vendidos : disse o paraense que que era fácil, “que era só tomar uma sopa, aquela sopa que estava logo ali junto ao muro. Eu me espantei. Não sabia, mas está lá no  dicionário  –  sopa  é a jardineira, o  ônibus  local." E aí? Alguém já tomou essa sopa?  Ou foi só o famoso gramático brasileiro  em Belém do Pará?     Benilton Cruz – Professor de literatura da UFPA e membro da Academia ...