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BELÉM 408 ANOS - FAÇA A SUA LISTA

Quem chega a Belém do Pará já tem um dos mais belos pousos de avião das capitais brasileiras, algo que chama a atenção dos pilotos da aeronavegação é como pode haver uma robusta selva de pedra dentro de uma exuberante selva natural, sem falar da gigantesca baía do Guajará e de seu enigmático e poético aeroporto de nome “Val-de-Cans” – na verdade tudo cheira a mistério na capital que é chamada de o Portal da Amazônia, Cidade das Mangueiras, ou até mesmo de Cidade Morena.

A Belém de vários nomes, do hebraico “Casa do Pão” à atual capital do estado do Pará, é conhecida pela sua sinestésica gastronomia, pelas famosas “Casas de Paraenses” – os casarões da Época da Borracha, famosos até em Portugal, quando os portugueses retornavam a seu país, enriquecidos pelo “ouro branco” (o látex), e lá copiavam os paraenses sobrados apalaçados da rica capital mundial da borracha.

Belém tem sempre histórias para se recontar e aprender e isso você vai saber do porquê de seus 408 anos. Faça a lista de lugares para ouvir a História da nossa cidade, já fiz a minha, confira:






                  Foto de 1992



Arquivo Público do Pará
Prédio de 1884
(Foto Agência Pará)


1 - Arquivo Público do Estado do Pará - prédio em estilo neoclássico de 1884, foi a primeira biblioteca que visitei em Belém do Pará, quando cheguei definitivamente em 1981 de Abaetetuba. Era cheio de alunos das escolas públicas que ali encontravam livros e periódicos para consulta e empréstimo, lembro dos cartãozinhos na última folha dos livros com o carimbo da data de devolução (depois a biblioteca se mudaria para o CENTUR). 

O Arquivo Público hoje guarda importantes documentos de três épocas: Colonial, Império e República.


2 - Biblioteca Fran Paxeco, do Grêmio Literário e Recreativo Português, e seu incrível acervo, em especial com 1.165 livros da Coleção Camiliana. 

É a terceira biblioteca mais importante do Brasil em número de obras raras, à Rua Senador Manoel Barata, 483, Comércio, Belém PA, abrindo de segunda à sexta, das 8 às 12 h.





Folha de rosto de Consideraciones sobre todos los Evangelhos, na Seção de Obras Raras da Biblioteca Fran Paxeco, com o detalhe da marca de propriedade “Da livr.ª de S. Bento de X.as”

(SANCTIAGO, 1598).

Fotos do acervo da Biblioteca Fran Paxeco
(Fonte: www.portal.amelica.org)


3 - Complexo Feliz Lusitânia, onde aportou Francisco Caldeira Castelo Branco, trazendo consigo a imagem de Nossa Senhora das Graças, a santa que vai iniciar o fortíssimo culto mariano em Belém do Pará. Não deixe de visitar o Museu do Forte onde encontramos aquilo que eu chamo de a configuração anímica de nosso povo: arquitetura lusitana por fora e a alma tupinambá por dentro (os artefatos dos primeiros moradores da região).

Na sequência você pode apreciar um pôr-do-sol do Forte do Presépio ou da Casa das Onze Janelas)

4 - Mercado Ver-o-Peso e prepare-se para ver de tudo. 


"Chora nos meus pés", "agarradinho"....

É a maior feira do Brasil porque se conta também a área da Praça do Relógio e da Praça Dom Pedro II, onde se pode ver resquício do padrão, a pedra erigida para demarcar a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, de 1494, em frente ao Instituto Histórico e Geográfico do Pará.







Solar Barão do Guajará onde atualmente funciona do Instituto Histórico e Geográfico do Pará








O Padrão que assinala o meridiano do Tratado de Tordesilhas. À direita, você estaria no Reino de Portugal; à esquerda, em terras de Castela.



5 – Mercado de Carnes Francisco Bolonha e sua arquitetura em ferro belga do início do século 20.

6 – Feira do Açaí é onde há a maior movimentação do mercado da fruta mais paraense de todas e a mais conhecida e divulgada no mundo.

7– Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a primeira igreja da Amazônia, pérola do arquiteto bolonhês Antonio Landi.


8 - Catedral de Belém, a maior igreja construída pelos portugueses fora de Portugal e seu altar doado pelo imperador Dom Pedro II.

9 – Museu de Arte Sacra, a antiga igreja de Santo Alexandre, a alma barroca da Amazônia, aliás, o Barroco é alma do nosso povo.

10 – Praça Batista Campos é outro coração da cidade, em estilo praça-parque é a nossa queridinha, e já foi a "Miss Brasil" em um concurso nacional, eleita como a praça mais bonita do país em 2005 pela revista Seleções.

11 - Estação das Docas, degustar, apreciar, conversar, namorar.

12 – Theatro da Paz, já ouviram falar de outro teatro com esse nome? O seu projeto inicial era para ele ser avistado já da baía do Guajará. O resto é com vocês, sempre temos uma história para contar com essa única casa de apresentações - e a minha foi uma vez que levei meus pais para assistir a ópera o Guarani, em uma de suas restaurações-reinalgurações, a minha mãe dormiu.





13– Bar do Parque, a antiga bilheteria do Teatro da Paz para quem utilizava carruagem.

14– Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, o paraense em si mudou a pronúncia alemã de "gôeuti" para "goéudi", Emilio Goeldi era suíço-alemão, pai do gravurista Oswaldo Goldi, artisita que do seu retorno da Europa manteve forte relação com os artistas brasileiros como  os modernistas Graça Aranha, Raul Bopp, Manuel Bandeira e Di Cavalcanti, dentre outros

15 – Basílica de Nazaré, construída em plena Primeira Guerra Mundial, seu portão de entrada com seis toneladas mostra a figura de um soldado moribundo amparado pela Mãe Santíssima.

16 – Passeio ao pôr-do-sol de barco pela Baía de Belém, você vai dançar carimbó, a dança do tambor.

17 – Bosque Rodrigues Alves, o coração verde da metrópole, "vamos ver os animais", dizem as crianças.

18 – Ilha do Combú, ilha do açaí - Belém tem 42 ilhas, e a sua própria formação é insular. Há uma gigantesca Samaumeira (árvore mãe) com o rosto de Jesus Cristo, parem ali e contemplem esse templo feito pela natureza.

19 – Mangal das Garças - todo mundo deveria conhecer a Amazônia a partir da aninga, presente ali no mirante do Mangal. A aninga é uma planta fundamental à formação das margens do rios e igarapés - ela alimenta, com o seu exótico fruto, tartarugas, tracajás, búfalos e peixes-boi - é venenosa para os humanos - e o mais importante - a aninga evita a erosão. 

Em torno dela surgem margens, igapós, ilhas, florestas e outros seres encantados.

20- Mosqueiro, a maior ilha de Belém com 19 praias e seus portais para a natureza.

21 - O Planetário do Pará, um dos museus brasileiros mas visitados.

22 - eu criaria um roteiro à parte, colocando o Cine Olympia como museu e parada obrigatória para se entender um pouco do segundo cinema mais antigo do Brasil. É talvez o único no país que temos que sair da tela e entrar no espaço do cinema em si. Vale a pena ali contar, recitar, encenar, projetar imagens.


Belém é feita de histórias.


Querido leitor, faça a sua lista e a espalhe nesse mundaréu digital, quem sabe um dia poderemos conversar sobre a nossa "nortista gostosa" como diria Manuel Bandeira ou "chupitando um sorvete de cupuaçu ou de açaí", debaixo de uma mangueira da nossa Belém do Pará, como lembrava Mário de Andrade.


Benilton Cruz


P.S.: Soluções imediatas para Belém são muitas (e visíveis a todos), - e sua história, cultura, literatura, gastronomia, dentre outras coisas, superam os seus problemas.







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