Pular para o conteúdo principal

Postagens

O que dizer de Ratanabá? a cidade perdida na Amazônia e que seria a "capital do mundo"?

A repercussão foi grande a ponto de render vários memes e que em poucos dias colocou o tema como ridículo e infundado, antes mesmo de se debater o que há por de trás de tudo isso. Uma busca rápida na internet não mostra o trabalho do empresário Urandir de Oliveiria, que já construiu uma comunidade no Mato Grosso do Sul, a Zigurats, com as aspectos similares ao da civilização perdida, aliás um lugar espiritual e acolhedor, bem diferente do mundo desconfiado, inseguro, deprimido, estressante da pós-pandemia (ou da pandemia infinita), guerra e inflação no qual vivemos. Pelo menos já temos uma "Ratanabá" e está sendo construída. Uma cidade alinhanda com a energia natural do lugar, com um sentido de expansão de consciência e redescoberta do sentido de viver. Por outro lado, como agora tudo pode ser fake, a mítica Ratanabá já é chamada de "Cidade-Fake" da Amazônia - mas o que não é fake é a procura por nióbio e lítio, e outros elementos, fundamentais à viagem a Marte até ...

NO SILÊNCIO DA MEMÓRIA

O historiador Boris Fausto dizia que toda a exaustiva encenação em cima do enforcamento de Tiradentes despertou no povo brasileiro um sentimento de revolta. Foram 18 horas de leitura da senteça, mais o cortejo, seguido do martírio no patíbulo e depois a desfiguração do corpo, exposto em público para que ninguém replicasse o ato corajoso do alferes.  Ele era exímio comunicador, e defendeu os inconfidentes jurando até a morte a lealdade e confiança, duas palavras raras hoje em dia e essenciais à civilidade de um ideal e de uma noção mínima do que podemos chamar de coragem. Dizem que a mulher com quem havia se casado secretamente com ele rondou em silêncio e tristonha ao redor da forca daquele sábado, 21 de abril, seu nome era Perpétua Mineira - nome emblemático a permanecer na alma desse homem que não desistiu de manter a sua Palavra.  Não há um imagem de Tiradentes de como realmente era, para justamente coibir sua memória, surgiram depois retratos que definem um porte de severi...

POEMAS

m  

A ILHA DESCONHECIDA SOMOS NÓS

Mais um belo resumo do conto de José Saramago, a Ilha desconhecida, desta vez, escrito pela aluna Elisa Santos, aquando do curso da disciplina Literatura Portuguesa Contemporânea, por mim ministrada, nos mostrando, em sua síntese, que não adianta o ser humano buscar fora de si o que ou quem realmente ele é!  Não adianta navegar mundo afora sem o seu autoconhecimento. Não adianta viajar a outros planetas carecendo de uma resposta para si mesmo sobre seus desejos, vontades, e saberes: - a ilha somos nós mesmos!  E aí? Já começou a sua viagem em torno de si? Você conhece a sua ilha desconhecida e como chegar até ela? "O conto da ilha desconhecida, de José Saramago, gira em torno de um  homem que vai até o rei pedir que lhe dê um barco. No castelo, o homem logo  se dá conta de que há duas portas: a porta dos obséquios, onde o rei ficava a  maior parte de seu tempo recebendo presentes e a outra, que seria a porta das  petições, onde o monarca raramente aparecia ...

CEM ANOS DA SEMANA DE ARTE MODERNA

 - Uma semana que mudou o conceito e a trajetória da arte no Brasil, idealizada principalmente por Graça Aranha, o escritor mais aclamado da época, e financiada por Paulo Prado, empresário, mecenas e intelectual, autor de Paulística (1932), Semana de Arte Moderna completa hoje, 13 de fevereiro de 2022, o seu centenário.  - São Paulo era a cidade que mais crescia no mundo e perdia para o Rio de Janeiro, no quesito "a metrópole da arte" no país. A Semana de Arte Moderna, nos seus três dias de exposição 13, 15 e 17 de fevereiro, preocupava-se essencialmente com a recepção da nova arte - e esse é o diferencial dessa geração que viu na figura corajosa de Anita Malfatti um ícone para celebrar o modernismo, e por isso ela foi escolhida para ser a Musa da Semana de Arte Moderna precisamente com 22 telas no salão do Teatro Municipal de São Paulo!  Cenas do Google e a capa do meu livro Olhar, verbo expressionista, sobre o romance Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade. Viva ...

PARA VENCER É NECESSÁRIO TER VOZ

Havia pedido aos meus alunos da disciplina Literatura Portuguesa Contemporânea, do polo de Tomé Açu, no Pará, em um das aulas finais, um resumo do conto A Ilha Desconhecida, de José Saramago, a fim de que criassem uma síntese de uma narrativa curta que envereda pelo metafísico, pelo onírico e pelo metafórico mundo de ambição e incertezas de um homem que sonha encontrar uma ilha ignorada nos mapas. Afinal, quem é ou quem nunca sonhou com uma ilha?  Pois, bem. Escrever e ler são exercícios. E a leitura é outro texto, nascido do mágico e silencioso ato de ler. Mecanismo lento, diria Umberto Eco, em busca de seu leitor ideal. E muitos relatos foram surgindo, após a leitura em sala de aula, e depois de um debate sobre a natureza do conto. (Julio Cortázar, escritor argentino, havia dito que o conto é como aquela luta que se ganha no primeiro assalto - daí a sua leitura não poder ser adiada). Vou deixar aqui para vocês o relato de um aluno e espero que leiam de um só fôlego, não o da resp...

Belém 406 anos

  - Belém comemora 406 anos de fundação, do pequeno vilarejo fortificado de 1616 à "Capital da Amazônia", tivemos muitos ciclos econômicos e muitos altos e baixos, muita arquitetura, muita gastronomia. - Todos têm uma história para contar sobre o que é a primeira vez na capital do Pará, e lembro que quando, vindo de Abaetetuba, visitava a minha vó, na rua dos Tamoios, beira-mar, e olhava os prédios da Rua Tamoios, na parte arborizada da cidade e dizia comigo "um dia vou ali morar", ou quando, menino crescido, sonhava namorar alguma menina do Manuel Pinto da Silva (pois é, o sonho se realizou depois e o namoro durou só três meses e um poema publicado) - e confesso que até hoje como maçã como da primeira vez que provei uma esponjosa (e cheirosa) maçã argentina. -Mas, ninguém escapa do Mercado Ver-o-Peso, a maior feira da América Latina (basta ver a fotografia acima, com a Praça Dom Pedro II incluída no complexo). Realmente é enorme. Todos sabem das frutas típicas da r...

A BELEZA QUE EDUCA

                                Detalhe da pintura: O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli. Divulgo a publicação do livro "Arte: educando pela beleza | Artigos para a transcendência da imagem" do prof. Diogo Ontos. O conteúdo é dividido em 4 partes: Filosofia e Arte; História e Arte; Lições do Cinema; e Arte e Propedêutica. Para recebê-lo em casa (entrega limitada ao território brasileiro), acesse o link abaixo: https://www.hotmart.com/product/livro-arte-educando-pela-beleza/J63154973M/ #arte

HERR DES WALDES (SENHOR DO MATO)

  Ich war einmal bei den Tembés, im Landesinneren von Tomé Açu, in meinem riesigen und reichen Pará,  und Pajé Claudino Tembé hat mir beigebracht, dass Alligatoren die Tiere sind,  die das Böse auf den Grund des Flusses tragen und so, und jedes Mal,  wenn Sie wollen um etwas Schlimmes loszuwerden, das dir passiert, bitte den Alligator,  dich mit einem Gebet mitzunehmen (ich habe sogar um das Gebet gebeten, das er gesungen hat,  aber dieser geistliche Erzieher ermahnte dort in seiner Sprache und sagte,  dass du kein Gebet lehren sollst bis es zur richtigen Zeit an jemand anderen weitergegeben wird  und ich dort als Schüler eines großen Schamanen eines spirituellen Lehrer geblieben bin). Stellen Sie sich nun ein Tier vor, das den Alligator jagt, wie der Jaguar?,  die archetypische Kraft, die dieses Tier hat! Es ist eine Baumklettererin, es hat eine kräftige Klaue, die sie selbst dann erschreckt,  wenn Sie ihre Spuren auf dem Boden hinterlä...

PARA ISSO FOMOS FEITOS

  Poema de Natal Vinicius de Moraes Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente. (Para todos os guerreiros que se foram e nos deixaram mais fortalecidos à sombra das espadas)

AMANHECER NO RIO AMAZONAS

  Registro do sol nascendo em Anavilhanas, no estado do Amazonas, foto do repórter Olímpio Guarany. Ele participa do um projeto que refaz a Expedição do navegador português Pedro Teixeira pelo rio que já teve vários nomes de tão grande que é.  A expedição de Pedro Teixeira partiu de Cametá, margem do Tocantins, cidade que quase virou a capital do Pará. E graças a viagem até o Peru a geografia do Brasil teve outro formato. Contra a correnteza, foi a viagem maior que a de Vasco da Gama às Indias. O feito de Teixeira fez o Brasil ter essa forma de Harpa, como lembra um poema de Cassiano Ricardo.  A foto me foi enviada pela professora Alessandra Monteiro, da UFPA.

VOCÊ SABIA QUE A AMAZÔNIA JÁ TEVE VÁRIOS NOMES?

 05 DE SETEMBRO - DIA DA AMAZÔNIA - Você sabia que a Amazônia é uma floresta de muitos nomes? Este texto é para mostrar essa diversidade, na nomenclatura da região, especialmente para esta data: 05 de setembro, o dia dela - da maior floresta tropical do mundo. - Entre 1540 e 1542, o descobridor espanhol Francisco de Orellana desceu o rio Amazonas em toda sua extensão, a partir dos Andes. O rio foi batizado de rio Orellana, mas era chamado pelos indígenas de Paraná-açu, dentre outros nomes. Alguns trabalhos indicam também os nomes rio de la Canela, rio Grande de La Mar Dulce e rio Marañon. Mas coube a Orellana, através do frei Gaspar de Carvajal, seu cronista, o nome derivado de uma antiga mitologia persa. Esse frei relatou ter encontrado em um lugar ao longo do curso do rio, possíveis guerreiras indígenas que, através dele, as relacionou com as mitológicas Amazonas, em referência a lendária tribo de mulheres guerreiras da mitologia helênica. A partir daí, o rio seria chamado rio da...

A CORUJA

  Olhe para cima, bem lá no alto, No céu ou em uma árvore, Ela discreta quer pousar  Perto de você.   Ela é a mascotinha Da deusa da guerra e do saber - Quase ninguém a vê! - Quase ninguém a quer!   Por que ela assusta  Se ela vai Lhe mostrar que o entender É uma forma de viver!   - Uh, - Uh, A corujinha quer chamar você Quer lhe ensinar na escuridão a ver Seus olhos brilham para a luz   Ela guarda a lua É a águia noturna E enquanto você dorme Ela segura o sol Com o seu saber!   - Uh, - Uh, A corujinha quer chamar você Quer lhe ensinar na escuridão a ver Seus olhos piscam para a luz E para você! 27.08.2021 Para a Lygia, Benilton Cruz

A CHAMADA DO MESTRE CAIANO

Vou abordar hoje mais um tema da espiritualidade na Amazônia: a invocação ao mestre Caiano. Essa chamada é o pedido para que seja bem-sucedido, ordenado, disciplinado, o ato religioso de se beber a Ayahuasca. Trata-se de uma oração cantada, discreta, que revela o respeito a uma linhagem anterior de mestres e o primeiro deles é reverenciado.  Caiano foi o primeiro oasqueiro, e assim em sua memória é preciso pedir licença. No ritual da Ayahuasca, tudo é organizado como um cosmo primordial, cuja instância primeira é a floresta. Estamos falando de uma religião amazônica, nascida entre a conexão de homem selva e astral. E antes do efeito do vinho das almas, é preciso pedir licença ao mestre primeiro, e aos poucos  a  bebida vai revelar quem você é. Uma das coisas mais interessantes na ritualística da Ayahuasca, no caso específico, da linha de ensinamentos do mestre Gabriel, é a memória. Para receber a bebida como uma iniciação é necessário tomar na verdade o nome do "primeiro ...

JAGUARETÊ – O PODER DA ONÇA

Em janeiro de 2018, estive com os Tembés, no interior de Tomé Açu, no imenso e rico Pará, e o Pajé Claudino Tembé me ensinou, dentre outras coisas, que os jacarés são os animais que levam o mal para o fundo do rio e assim, e toda vez que você quer se livrar de algo ruim que lhe acontece, peça para que o jacaré o leve para longe com alguma reza (Eu cheguei a pedir a oração que ele entoava, mas esse líder espiritual esconjurava ali na sua língua e disse que não se deve ensinar a oração até que seja passada para outra pessoa na hora certa, e fiquei ali como aluno de um grande Pajé, um líder espiritual). Agora, imaginem um animal que caça o jacaré, como a onça?, o poder arquetípico que esse animal tem! Ela é escaladora de árvores, tem uma garra poderosa que assusta até mesmo quando deixa seus rastros no chão. É o temido "mão bolota" para os caçadores das margens da transamazônica (não há chance de sobreviver a um ataque desse felino). A onça pintada é o Jaguaretê, o "Senhor ...