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JAGUARETÊ – O PODER DA ONÇA






Em janeiro de 2018, estive com os Tembés, no interior de Tomé Açu, no imenso e rico Pará, e o Pajé Claudino Tembé me ensinou, dentre outras coisas, que os jacarés são os animais que levam o mal para o fundo do rio e assim, e toda vez que você quer se livrar de algo ruim que lhe acontece, peça para que o jacaré o leve para longe com alguma reza (Eu cheguei a pedir a oração que ele entoava, mas esse líder espiritual esconjurava ali na sua língua e disse que não se deve ensinar a oração até que seja passada para outra pessoa na hora certa, e fiquei ali como aluno de um grande Pajé, um líder espiritual).

Agora, imaginem um animal que caça o jacaré, como a onça?, o poder arquetípico que esse animal tem!

Ela é escaladora de árvores, tem uma garra poderosa que assusta até mesmo quando deixa seus rastros no chão. É o temido "mão bolota" para os caçadores das margens da transamazônica (não há chance de sobreviver a um ataque desse felino).


A onça pintada é o Jaguaretê, o "Senhor do Mato", aquele que vai arrancar o teu medo e vai te ensinar a ser decisivo, a ter postura, elegância e discrição.


É o arquétipo da busca psíquica, da jornada espiritual, do autoconhecimento, do curador, da vontade de evolução, da proteção da sua "caça", do foco, da paciência, das duas energias, a solar e a lunar, da objetividade ("Onça! gosta de matar tudo!..." - diz o conto de Guimarães Rosa), da determinação, da solitude, da força física atrelada à beleza.

O seu ronco alcanca centenas de metros, faz tremer o chão e o rio.

É o esturro da onça!

- O arrepio.



JAGUARETÊ – O PODER DA ONÇA

 

Jaguarê, Jaguarê, 

Jaguarê,


- Jaguaretê


Jaguarê, Jaguarê, 

Jaguarê,


- Jaguaretê

 

Senhor do mato

Senhor do rio

O Gato-Onça

De firmes garras

E de olhos: 

Laranja, para os campos;

Verde, para as Matas

E Mangues;

E amarelo,

para a areia.


Jaguarê, Jaguarê, 

Jaguarê,


- Jaguaretê

 

As pintas:

- a amarela -

É o sol 

na terra

...

E a escura 

É o mistério.


Jaguarê, Jaguarê, 

Jaguarê,


- Jaguaretê

 


Senhor do mato

Senhor do rio

- Amazônica

E pantaneira!

O seu esturro

É arrepio!

 

Solitária Fera,

Ágil: 

Escaladora

Nadadora

Caçadora

E protetora.


Jaguarê, Jaguarê, 

Jaguarê,


- Jaguaretê

 


Senhor do mato

Senhor do rio

O seu urro

Escondido

Como o Sol

Ao crepúsculo

À espreita

Para o dia 

Ou para a noite:


- É arrepio.


Jaguarê, Jaguarê, 

Jaguarê,


- Jaguaretê

 

Benilton Cruz




                     O poema

        Jaguaretê - o poder da onça.


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