Havia pedido aos meus alunos da disciplina Literatura Portuguesa Contemporânea, do polo de Tomé Açu, no Pará, em um das aulas finais, um resumo do conto A Ilha Desconhecida, de José Saramago, a fim de que criassem uma síntese de uma narrativa curta que envereda pelo metafísico, pelo onírico e pelo metafórico mundo de ambição e incertezas de um homem que sonha encontrar uma ilha ignorada nos mapas.
Afinal, quem é ou quem nunca sonhou com uma ilha?
Pois, bem. Escrever e ler são exercícios. E a leitura é outro texto, nascido do mágico e silencioso ato de ler. Mecanismo lento, diria Umberto Eco, em busca de seu leitor ideal.
E muitos relatos foram surgindo, após a leitura em sala de aula, e depois de um debate sobre a natureza do conto. (Julio Cortázar, escritor argentino, havia dito que o conto é como aquela luta que se ganha no primeiro assalto - daí a sua leitura não poder ser adiada).
Vou deixar aqui para vocês o relato de um aluno e espero que leiam de um só fôlego, não o da respiração, mas o sereno fôlego da leitura.
PARA VENCER É NECESSÁRIO TER VOZ
"O conto da ilha desconhecida, de José Saramago, narra a história de um homem cheio de sonhos, de desejos. Alguém que não apenas sonha, mas que sai em busca de realizar os sonhos e objetivos. Para o homem não basta apenas sonhar, o mais importante é viver os sonhos.
O homem deseja conhecer uma ilha desconhecida e, por isso, vai até ao rei a fim de pedir-lhe um barco. O homem encontra muitas dificuldades, pois não consegue falar com o rei, imediatamente. Mas não desiste do seu sonho e decide não sair enquanto não falar com o rei.
O homem compreende que para vencer é necessário ter voz, ter persistência e nunca desistir diante dos obstáculos, por isso, segue firme e determinado em seu propósito. Depois de alguns dias de espera o homem consegue falar com o rei e é contrariado quanto à possibilidade da existência de uma ilha desconhecida, mas o homem insiste em que para encontrar o desconhecido é necessário sair do conhecido e não permite que ninguém tire de si o desejo de realizar o seu sonho.
Seu pedido é atendido e ganha o barco. Uma mulher, que antes havia atendido o homem na casa do rei, vê aquela como sendo uma oportunidade, uma esperança de mudança de vida, de ir em busca de algo melhor, e decide se juntar ao homem à procura da ilha desconhecida. Quando o homem chega ao porto, percebe que há um grande problema: necessita de marinheiros, tripulantes que façam o barco entrar em alto mar. O homem não encontra tripulantes e vê ir embora a esperança de encontrar a ilha desconhecida.
A mulher insiste com o homem para que entrem no mar e naveguem em direção à ilha, mas o homem já não vê a possibilidade de navegar sem uma tripulação, que não acredita na existência de uma ilha desconhecida.
Ao anoitecer, o homem e a mulher vão dormir no próprio barco. O homem sonha com muitas coisas e, por fim, em seus sonhos, chega à ilha desconhecida. Apesar de não encontrar tripulantes, de não ter pessoas que possam guiá-los, é possível chegar ao desconhecido, pois a capacidade para a realização dos nossos sonhos não depende de terceiros, a capacidade de realização está dentro de nós. Podemos viver nossos sonhos, viver o extraordinário em nossas vidas, pois isso está dentro do homem.
Aquele homem consegue chegar à ilha e viver os seus sonhos. Momentos incríveis são desfrutados, pois o desconhecido está dentro de si e pode ser vivido. Mas, para isso, é preciso acreditar nos próprios sonhos e se lançar em busca da realização. E mesmo que ninguém mais acredite, o que importa é acreditar em si próprio, pois aquele homem acreditou em seus sonhos e isso foi o suficiente para realizá-lo".
Aluno: Edivaldo de Oliveira Oliveira, Tomé-Açu, Pará.
A ilustração é da edição da Companhia das Letras
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