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VOLTEIO

 

A GLÓRIA DE ANTINOO

 

QUANDO A CALMA DISSE À TEMPESTADE

 

À TARDE, À SOMBRA

 

SEMEAREI O RIO

 

EM DEFESA DA TERNURA

  Escrevo como se fosse uma forma duradora da infância. É o lugar onde tudo é novo. É o experimento da vida que perpetua a descoberta de viver. Benilton Cruz

CAMÕES 500 ANOS

Inicio hoje uma série de homenagens ao maior poeta da língua portuguesa. O Argonauta Renascentista. Um poeta não precisa falar muito para dizer tudo. Um poeta não precisa viver muito para viver tudo.  Um poeta pode fugir de tudo menos do seu tempo. Dizem que ele nasceu em várias cidades de Portugal que hoje reclamam seu natalício.  Dizem também que ele morreu aos 56 anos. Outros dirão que viveu mais um pouco. Morreu como indigente, enterrado em uma calçada, a Calçada de Sant' Ana. Um poeta não precisa saber com precisão as coisas, ele tem apenas o dom de transformar o instante em eternidade. Seu pai escalava as janelas gradeadas de um convento para jurar amor à mãe daquele que seria o poeta-mor da língua portuguesa. Dizem que a família é de origem galega, daí um de seus famosos versos ter o traço da duplicidade de "avorrecida" ou a pronúcia "aborrecida". "No mar, tanta tormenta e tanto dano/Tantas vezes a morte apercebida/Na terra, tanta guerra tanto engano...

O ABRANDAR DAS FERAS, ORFEU

O ABRANDAR DAS FERAS, ORFEU A palavra é o começo,  A palavra é o fim. Escrever é dar sentidos, Ao sentido que é assim: Nomear espelhos, Arranhar o musgo, Combinar a chave: O caminho do Hades que é descer O caminho do Hades que é subir. A combinação provável É um som agradável apenas, Ao inventar analogias. Para conhecer o que acabamos de: "Amar, fazer, destruir". Benilton Cruz Tela Joseph Paelinck (1781-1839) — Orfeo e Euridice

SONHOS: UMA LINGUAGEM DAS ARTES?

Benilton Cruz Percebo, pelo menos, uma relação triádica no sonho: imagem, sensorialidade e mitologia, a perfeita combinação da arte. Essa relação só se consolida através do conhecimento sobre nossa própria simbologia pessoal. É como um quebra-cabeça que pode ser montado com peças novas e antigas. Digo que os sonhos servem como uma montagem que evocam cenas multifacetadas da percepção do que é importante em nossas vidas, e cada peça registra códigos e cifras desafiando nossa inteligência. Portanto, imagens retratam simbologias pessoais, angústias também. O cérebro cria constantemente imagens, o inconsciente não tem leis à altura do que a parte consciente do cérebro diz que é capaz de organizar quando estamos despertos. Talvez a grande tarefa do psicanalista seja criar analogias a partir das imagens criadas pelo consciente e pelo inconsciente: comparar imagens com a estrutura de uma linguagem v...

13 DE MAIO

  Uma das mais belas crônicas sobre a data de hoje - 13 de maio - foi escrita por um carioca genial, irreverente e boêmio. Ao final digo o nome dele. Maio Estamos em maio, o mês das flores, o mês sagrado pela poesia. Não é sem emoção que o vejo entrar. Há em minha alma um renovamento; as ambições desabrocham de novo e, de novo, me chegam revoadas de sonhos. Nasci sob o seu signo, a treze, e creio que em sexta-feira; e, por isso, também à emoção que o mês sagrado me traz, se misturam recordações da minha meninice. Agora mesmo estou a lembrar-me que, em 1888, dias antes da data áurea, meu pai chegou em casa e disse-me: a lei da abolição vai passar no dia de teus anos. E de fato passou; e nós fomos esperar a assinatura no largo do Paço. Na minha lembrança desses acontecimentos, o edifício do antigo paço, hoje repartição dos Telégrafos, fica muito alto, um sky-scraper; e lá de uma das janelas eu vejo um homem que acena para o povo. Não me recordo bem se ele falou e não sou capaz de afi...

ELA TE ENSINA

Ela te ensina a manter teus olhos no teu objetivo ! Ela te ensina a lutar sozinho! Ela te ensina a trabalhar em silêncio, Ela te ensina a não se conformar com nada! Ela te ensina que existe alguém que duvida de ti – mas não és tu! Ela te ensina que aquele que é amigo de todos é amigo de ninguém! Ela te ensina que só há uma forma de agir: na certeza! Ela te ensina a chegar em qualquer lugar e vencer! Ela te ensina a ser quieto e agir na hora certa! Ela te ensina que atingir seu destino não é superar os outros e sim a si mesmo! Ela te ensina que só tu és responsável pelas tuas decisões! Ela te ensina que recuperar o perdido é perder em dobro! Ela te ensina a calar tua voz para ouvir teu pensamento! Ela te ensina a mover-se em silêncio! Ela te ensina a nunca deixar que saibam o teu próximo movimento! Ela te ensina a te tornares invisível à toda alma mal-intencionada! Ela te ensina que a grandeza e a força são a mesma coisa que paciência e silêncio!   ...

É O VENENO QUE DÁ A VIDA

  Postei este poema nas minhas redes sociais e os comentários vou colocar aqui: "Poesia é a palavra-jóia lapidada! E como lapidastes estas palavras!  Coroastes teus leitores com esta jóia, meu irmão! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 Lí três vezes, e cada leitura um riso diferente!" Sílvio Garcia - Poeta "👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻Lindo!" Sarah Castelo Branco - Poeta

ELE NÃO FALA, ELE NÃO OUVE...

 

GUERREIROS POETAS

Sim, sempre existiram.  E tomei a liberdade de pesquisar: "os guerreiros vikings recitavam poemas em campos de batalha. Na hora do combate, enquanto alguns treinavam, outros improvisavam versos. Criar estrofes e recitá-las era considerado uma habilidade do homem nórdico e estava presente do café da manhã ao jantar. Qualquer situação era motivo de declamar", diz um site aí da vasta rede de informações da internet.  Lembro que o historiador islandês medieval Snorri Sturluson, dizia que a Edda em Prosa, considerada a maior fonte literária da mitologia nórdica, descrevia episódio na Saga de St. Olaf, datada de 1230, um episódio que ilustra bem essa ligação entre verso e guerra.  Assim, antes da batalha de Stiklestad, em 1030, o rei Olaf 2º, da Noruega, pediu ao poeta do reino recitar alguns versos.  Foram tão épicos que os sobreviventes agradeceram ao poeta por ter levantado o moral da tropa. Apesar da derrota (o rei foi morto) transformou-se em um poema inesquecível. Le...

ONTEM, QUANDO VOCÊ FOI EMBORA

 

QUANDO PENSARES EM MIM

  QUANDO PENSARES EM MIM   Quando pensares em mim, escreve como se existisse a palavra que queres.  Escreve como se existisse a forma que cabe o que pensas ou o que sentes.  Ou senão, escreve apenas, escreve, levas a caneta ao papel, deita-a sobre as dobras do branco labirinto.  Assim sou eu também. Temos novamente algo em comum: sabemos evitar o que criamos, sabemos evitar o que sabemos. Sabemos evitar o que nos escreve, e sabemos evitar o que somos – sabemos, enfim, alguma coisa.  Então, é melhor não dizer, é melhor esconder, assim são as palavras: algo que se esconde. Queres dizer o que sentes?  Experimentas escrever; escrever é a facilidade de desistir. - Vai, olha para o papel, a folha é pura, é branca, sim, guarda a caneta, tente, como é fácil não prosseguir. Percebe? Isso talvez seja poesia, talvez seja literatura, ou qualquer coisa que assuste.  Não prossiga, isto talvez seja arte.  Isso de que se desiste.   ...

MAYR-ABÁ - FILHO DO ESTRANGEIRO COM A ÍNDIA

 - Parabéns, Marabá, são 111 anos de desenvolvimento! 05 de abril - Nas minhas aulas pelo interior conheci muitas cidades do nosso Pará e uma delas tem algo peculiar: o encontro de dois rios caudalosos, o Tocantins e o Itacaiúnas, o famoso Y a formar a cidade baixa e a cidade alta, que na sua bandeira está. - O nome Marabá, do poeta maranhense que teria inspirado Francisco Coelho, um dos pioneiros da cidade, a denominar o seu armazém de aviamento de Casa Marabá, no então povoado de Pontal.  O grande barracão servia, aos primeiros habitantes, de todo tipo de secos e molhados, o caucho coletado, andiroba, copaíba, frutos da mata, e caças diversas.  - É o município sede da região, situado a 500 quilômetros ao sul da capital do estado. Cidade da Castanha, Cidade de integração - afinal é um grande entroncamento logístico. - É o quinto mais populoso município do Pará, no Censo de 2022, com quase 290 mil habitantes, a Terra da Castanha, surgida da sua grande miscigenação de pess...

Ovo de Oestre

 Foram os imigrantes alemães que trouxeram ao Brasil os ovos coloridos que na Alemanha culminavam com a Páscoa, tradição essa que por sua vez vinha das festas germânicas (os então chamados "bárbaros") em honra à Eostre ou Ostera.  Páscoa em alemão chama-se Oster (pronuncia-se "ôstar") e vocês já perceberam que tem a ver com o nome da deusa Oestre. E essa festa indicava o início da primavera e era celebrada geralmente em 30 de março. Era a deusa da aurora, da fertilidade, do renascimento e do amor, na tradição nórdica, saxônica e germânica. Uma vez, ela em meio às crianças transformou um pássaro em uma lebre deixando a todos encantados. Acontece que a lebre começou a ficar triste, pois não conseguia voar e nem cantar. As crianças, que sempre estavam ao redor da deusa, pediram para reverter a magia e a deusa não conseguia uma vez que seus poderes diminuíam no inverno. Na primavera e novamente diante das crianças, a deusa Oestre transformou a melancólica lebre de volta...

AZUL É TAMBÉM ANOITECER

 O que dizer desse azul antes do anoitecer? 26.02.2024 Belém PA Brasil Os gregos não tinham uma definição precisa para o azul - talvez por ser a cor mais misteriosa - Homero falava em "mar piscoso" ou de "vinho escuro", ao anoitecer em suas epopeias. Chineses e hebreus também não descreviam essa cor em seus textos clássicos. Parece que em todos os idiomas, a palavra para designar a cor azul é a última a aparecer. No Egito Antigo, a referência ao azul foi encontrada em um hieróglifo referindo-se a corantes dessa cor, coisa que eles foram os primeiros e únicos a fabricar. A palavra para definir o azul sempre foi um mistério. Diferente para Van Gogh que um dia escreveu a seu irmão Theo: "tenho uma fé absoluta na arte e não há nada mais artístico do que amar verdadeiramente as pessoas". Van Gogh pintou a noite. Ele a achava mais viva e colorida que o dia. E para esse pintor holandês não há azul sem amarelo e sem laranja. Pintou todos os tons de azuis visíveis ...

GENTE DO RIO

 GENTE DO RIO Eu nasci com aquele rio que corre pelos meandros da memória. Todos os rios nascem da memória. Todos os rios voltam à memória. São os rios que escrevem a história. O meu povo tem o rio no corpo e tem o rio na alma. Nos olhos do meu povo está o rio que brilha como um dia que virá radioso. Todos que convivem com o meu povo aprendem a linguagem do rio, e não se perdem com os caminhos das águas, porque são todos os caminhos, porque são todos os homens. São todos que ainda falarão a língua iluminada da água. E caminharão como um rio que ensinou a caminhar. Foi o rio que ensinou o homem a andar, por isso são todos feitos com a matéria da procura, a mesma matéria da água. É assim a lenda do meu povo: o rio procura o homem e o homem procura o rio. CRUZ, Benilton. Gente do rio. In : ______. Antologia poética Abaetetuba. Garibaldi Nicola Parente, Benilton Lobato Cruz. Jundiaí, São Paulo: 2021, p.66.

ROMANCE - POEMA DE MÁRIO FAUSTINO

ROMANCE  Para as Festas da Agonia Vi-te chegar, como havia Sonhado já que chegasses: Vinha teu vulto tão belo Em teu cavalo amarelo, Anjo meu, que, se me amasses, Em teu cavalo eu partira Sem saudade, pena, ou ira; Teu cavalo, que amarraras Ao tronco de minha glória E pastava-me a memória. Feno de ouro, gramas raras. Era tão cálido o peito Angélico, onde meu leito Me deixaste então fazer, Que pude esquecer a cor Dos olhos da Vida e a dor Que o Sono vinha trazer. Tão celeste foi a Festa, Tão fino o Anjo, e a Besta Onde montei tão serena, Que posso, Damas, dizer-vos E a vós, Senhores, tão servos De outra Festa mais terrena  Não morri de mala sorte, Morri de amor pela Morte. CRUZ, Benilton. Vozes Ibéricas no Poema “Romance” de Mário Faustino. In: ______. Moços & Poetas : Quatro Poetas na Amazônia. Jundiaí, São Paulo : Paco Editorial, 2016, p. 65-82.91