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AO TEMPO SÓ PERTENCE ESTE SEGUNDO QUE O PERDES

A expressão "Carpe Diem" (a pronúncia latina: cárpe díame), traduzida como "aproveite o dia", é de Horácio ("Óratio"), poeta que viveu a época na qual a poesia tinha esse tom elegíaco e menos declamatório, - o lírico a tocar os temas inexoráveis que causam desconforto à vida, como a morte ou as soturnas sortes do destino  - textos sempre -carregados de uma divina espiritualidade reconfortante.  - uma poesia filosófica e espiritual. Admirar Horácio é alentar a alma das coisas que não podemos mudar. O poeta das famosas Odes entendia que as musas existem como espírito e que nos ouvem e elas têm comportamento próprio para cada situação. Cloe (a pronúncia latina seria “Clóe”) era uma delas, as outras eram: Lydia,  Clio,  Cloris,  Licia,  Neera.  A musa é essa companhia que em silêncio te escuta na profundidade da alma o alento de cada verso. A poesia é a arte mais misteriosa porque inclui a música, dizia Jorge Luis Borges.  A seguir, um poema meu que i...

CRÔNICA WHATSAPPIANA DO DIA

  Crônica whatsAppiana do dia   Certa vez, o famoso gramático brasileiro Napoleão Mendes de Almeida estava em Belém do Pará e precisava se deslocar para uma escola onde daria palestra sobre língua portuguesa falada no Brasil. Aproximou-se do primeiro transeunte na Cidade das Mangueiras e educadamente fez a pergunta de como devia chegar em tal escola.  E a resposta foi assustadora para o gramático paulista cuja edição de s ua  Gramática Metódica da Língua Portuguesa, de 1943,  chegou a mais de meio milhão de exemplares vendidos : disse o paraense que que era fácil, “que era só tomar uma sopa, aquela sopa que estava logo ali junto ao muro. Eu me espantei. Não sabia, mas está lá no  dicionário  –  sopa  é a jardineira, o  ônibus  local." E aí? Alguém já tomou essa sopa?  Ou foi só o famoso gramático brasileiro  em Belém do Pará?     Benilton Cruz – Professor de literatura da UFPA e membro da Academia ...

A TRILOGIA DO BEIJA-FLOR - Benilton Cruz

                                                 A TRILOGIA DO BEIJA-FLOR 1. TODO BEIJA-FLOR quando nasce é imperceptível, e ao nascer é do tamanho de outro beija-flor. Todo beija-flor aprende a eternidade das flores. É breve o seu beijo, é breve o seu desejo, é intenso o seu voo. Todo beija-flor tem asas invisíveis para não tocar o vento. Todo beija-flor vive em êxtase: não canta. 2. TODO BEIJA-FLOR quando encontra outro beija-flor não reparte a mesma flor. O voo não é lugar para nada cuidar, o vôo é o nada vacilante no ar. Toda flor é um convite e todo beija-flor traz no peito um emblema de um reino feliz. Todo beija-flor é de utilidade pública, é patrimônio universal da poesia. 3. TODO BEIJA-FLOR quando morre não vai para o céu dos beija-flores. Todo beija-flor quando morre se transforma numa coisinha leve e sem osso que a terra não consegue fincar. Todo b...

CALÇADAS CHUVOSAS DE BELÉM - POEMA DE JOSÉ WILSON MALHEIROS

Calçadas lusitanas  De Belém… Lioz que viajou Das profundidades  Nas histórias  Dos corajosos Mares de Inês  E do seu príncipe,  Mais uma aventura  Que a terra-mãe  Descansou no leito Do Pará. Quem sabe se as chuvas Não são prantos De lusa saudade?… ( CALÇADAS CHUVOSAS EM BELÉM  José Wilson Malheiros) Calçada na Avenida Nazaré, Belém Pará À tarde. Foto: Benilton Cruz 22.11.2023

CAUSOS AMAZÔNICOS, DE OCTAVIO PESSOA

Causo é um gênero criado pelo povo e é com o povo que os causos ganham o perfil próprio de um gênero que transita entre a crônica e a narrativa curta como a anedota, com um pé no folclore. Causo é uma prosa esparramada de liberdade, de realidade, do inusitado, da criatividade do povo e de suas personagens marcantes à memória de quem a vivencia. Caso seja o escritor inclusive o personagem desses causos, melhor ainda. Causo é quando o escritor se acomoda ao cuidado de colocar cada palavra em seu devido lugar e assim, não deixar nada passar, principalmente porque o causo delineia que a linguagem é também um fenômeno político e nenhum gênero expressa tão bem os deslizes, as gafes, o hilário. Volto a frisar: causo é um gênero literário, com suas características bem definidas, como narrativa curta, personagens populares, linguagem típica, palavras recheadas de neologismos e de história da própria língua e nada melhor que um escritor de causos para dar voz à voz do povo. Causo é um gênero lit...

UMA ANTOLOGIA PARA A LIBERDADE

O ato de viver é um ato de liberdade porque é em essência um ato revolucionário, como hoje é o ato de caminhar, pensar, escrever - e costumo dizer que uma antologia é uma obra diferenciada porque temos a liberdade de ler vários autores em um só livro. É o caso de Versos Para a Liberdade, recém-lançada pela Paka-Tatu, editora paraense que tem em seu catálogo muitos autores da nossa região - quase como uma característica e uma identidade, a de promover nossos escritores. São oito poetas, alguns deles com obras publicadas pela mesma editora e conseguindo espaço no cenário literário paraense, como é o caso de Genésio Gomes dos Santos, autor também de outros três livros que despontam com um estilo peculiar de quem conhece as narrativas da "sapiência oral" - como ele se reporta - às histórias ouvidas da mãe, a Tia Maria, e que já se tornaram obras dignas de ser utilizadas em sala de aula, como estou fazendo com meus alunos. Sim, a Antologia já vem carimbada de talento, a começar pe...

A DIFÍCIL ARTE DE ESCREVER PARA CRIANÇA - LIVROS DE LEONAM CRUZ

Imaginem a sensação do escritor ao pensar em escrever para criança.  Por onde começar? Qual assunto tomar? Qual a linguagem certa para um público tão exigente?  E como deve o livro ficar? A capa? As cores? As imagens? As ilustrações? - afinal a literatura infantojuvenil se caracteriza justamente pelo uso das ilustrações, desenhos, traços - como diria Van Gogh, tudo começa com um traço. O escritor paraense Leonam Gondim da Cruz Júnior encontrou a fórmula: ele escreve do que ensina a vivência no dia a dia.  É a vida a grande mestra na difícil arte de escrever para criança. Parece que livro escrito por Leonam Cruz surge do fundo do quintal, da experiência própria como autor, aquele que diz Umberto Eco ser, como os generais romanos, um conquistador de terras para o Império, e aqui o Império - volto a frisar - é sempre a difícil arte de escrever para criança. Um autor para criança é aquele que sabe conquistar o coração do jovem leitor, o coração de uma criança. Dos livros que ...

O AMOR GOSTA DO SOBRENATURAL

Quem gosta de história somos nós, ouvintes, leitores, escritores. Quem gosta do sobrenatural é o amor. É exatamente isso que trata o novo livro de Agildo Monteiro Cavalcante, em uma narrativa ágil e marcada pelo conhecimento histórico da causa, o que realmente aconteceu momentos antes da morte do governador tenentista Magalhães Barata que governou o Pará de 1930 a 1959. O livro, o qual eu chamaria de crônica de um romance proibido, retrata dois aspectos: um de ordem jurídica, a questão do relacionamento estável, longe de ser aceito à época, e que seria apenas legislado, bem depois, quando, acolhido pela Constituição de 1988, - e claro, - essa segunda questão de ordem literária e também muito interessante: o romance fantástico, através da manifestação incessante, como entidade - o próprio governador, como espírito, clamando pela presença de Dalila Ohana. Dalila tinha encantadores olhos negros, mulher de rica família seguidora da lei mosaica, com quem o governador paraense convivia há ma...