Em 2017, iniciei uma pesquisa sobre o que eu chamei de a Amazônia: Etnopoesia, a poesia oral e cantada dos povos indígenas, seus pajés e índios-muras (os que vivem isolados das suas comunidades), os pontos da matriz africana, os “íkaros”, do idioma shipibo-konibo, espécie de cantos mágicos da Amazônia andina, do ritual de energização e cura das tradições peruanas, cantos estes que chegaram a nós através da ritualística do Daime, bebida sagrada, hoje encontrada em centros religiosos às proximidades de Belém, Pará. Os “Íkaros”, os pontos, os hinos e as rezas-cantadas dos índios-muras só se aprendem em uma sessão religiosa, na solidão do espírito evoluído de quem os recebe sob o efeito de aromas especiais, de bebidas enteógenas como a Ayahuasca (chá feito da folha da chacrona e do cipó mariri), de algum tipo de tabaco, de ervas medicinais, do contato com a sananga, o chamado “colírio da floresta”. Receber é uma forma de compor, e o que vai de uma simples reza a uma sinfonia pode ser u...
BENILTON CRUZ