
A palavra é o começo,
A palavra é o fim.
Escrever é dar sentidos,
Ao sentido que é assim:
Nomear espelhos,
Arranhar o musgo,
Combinar a chave:
O caminho do Hades que é descer
O caminho do Hades que é subir.
A combinação provável
É um som agradável apenas,
Ao inventar analogias.
Para conhecer o que acabamos de:
"Amar, fazer, destruir".
SOBRE UM FRAGMENTO ATRIBUÍDO A ORFEU
Dizer, como a música
não disse.
Cantar, como o
silêncio não cantou.
Amar, como os deuses
não amaram.
SEGUNDO FRAGMENTO ATRIBUÍDO A ORFEU
O olhar não olha para trás
É o pensamento o culpado
Os deuses foram pegos de surpresa.
Pensar é desafiar a luz e a sombra
É amar o que não se vê.
PALAVRAS DENTRO DA NOITE
A morte existe para que lembres que no começo estão as ervas
e o musgo. Para que lembres que o nada é ainda superior às coisas que
imaginaste. Foi da morte que veio o caminho mais suave. Foi da morte que veio o
canto de Orfeu. Foi do rio mais profundo que as sombras falaram todos os nomes
à natureza e ao espírito num diálogo de pedras. A morte existe para que
esqueças o trabalho que culminou a herança dos dias e para que repouses na
lápide diurna. A morte é a forma mais digna de se respeitar a vida. É na morte
que nos aproximamos da essência da vida.
HOMEROS
Por
que um poeta?
o poeta são todos,
e mais um, este que agora
se levanta.
Estava lá Mário, que abraçava
a palavra de Homero,
alada, no pretexto para Aquiles
a sua ira e a cítara,
da música de Orfeu,
despedaçada, na lira,
unida na épica voz.
Estava lá seu lábio
e seu sudário
verso toda linguagem
toda palavra e cada
iludir dos verbos,
desaprender os nomes
amar esse mar e esse rio
e essa morte do feliz mês que me assassina :
a faustina carne de escorpião que me domina.
CORTA-SE O
SILÊNCIO COM A FALA E O SILÊNCIO CORTA A FACA
Corta-se o silêncio com a fala e o silêncio corta a
faca. O rúmen de treva a regurgitar do caos: a lâmina e a tempestade, esta
palavra, a fenda que fala, a fímbria que falha e passa pouca e passa. O
silêncio vara aquela alma que fala como o espelho do rio claro e calmo que diz
mais do que cala. A fala é contraponto, o mesmo peso que falta ao silêncio que
fala.
Dizer.
Eis, que Orfeu tocava a música do silêncio, e
suavizava o silêncio suave.
POEMAS DE BENILTON CRUZ
30.03.2019
POEMAS DE BENILTON CRUZ
30.03.2019
Comentários
Postar um comentário