Pular para o conteúdo principal

HISTÓRIA CULTURAL DA AMAZÔNIA: REMÍGIO FERNANDEZ (1881-1950) UM CLÁSSICO CONTRA A SEMANA DE ARTE MODERNA.

- Recebi este texto de Hiran Lobo, bisneto dessa personalidade que deixou uma história de amor à língua latina, à literatura vernácula, ao Direito e à Docência, dentre tantas coisas que merecem ser recordadas em tempos de Sociedade em Rede.

- Dentre algumas curiosidades, Remígio Fernandez foi contra a Semana Arte Moderna porque iria, segundo relatos da família, empobrecer a literatura, deixando de ter importância a métrica e a rima, perdendo assim a tradicional técnica de composição da arte poética.
- É interessante esse relato, pois geralmente, poucas pessoas sabiam de fato da revolução modernista em nossa região. Ficou conhecido também como advogado dos pobres por não cobrar honorários das pessoas mais necessitadas, ou, às vezes, aceitava fardo de arroz, galinha, pato e outras benesses da culinária paraense, em troca dos serviços advogatícios.
- Foi, politicamente, opositor de Magalhães Barata, apelidando-o de "La Cucaracha", entretanto no post-mortem, recebeu os devidos tratamentos e uma sepultura doadas pelo antigo desafeto, que no fundo, nutria grande admiração a este intelectual.
- Foram alunos de Remígio Fernandez figuras conhecidas como: Moura Carvalho e Aurélio do Carmo. E foi amigo de Eurico Vale, ex-governador do Pará, antes da Revolução Tenentista de 1930 quando, Remígio precisou se exilar voluntariamente no Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Pará.

"- Remígio José Gonzalez Fernandez, espanhol de nascimento, natural de Asturias, nasceu no dia 06 de junho de 1881 e, faleceu aos 69 anos de idade, no dia 09 de agosto de 1950, no hospital de Santa Casa, diagnosticado com acidose devido à diabete.
-Remígio Fernandez veio para o Brasil com a idade de 7 anos, acompanhado de um tio. No ano de 1893 foi seminarista, estudando nos Colégios São Vicente de Paula (Petrópolis), e no Seminário de Mariana (Minas Gerais), onde cursou até 1903 abandonando no entanto esses estudos por não sentir vocação sacerdotal, neste mesmo ano veio a residir em Belém e em 1904 ingressou na Faculdade de Direito e, cursando o primeiro ano, ainda calouro substituiu o Professor João Pedro Figueiredo, no ginásio. - Em 1907 leciona literatura e francês na Escola Normal, em substituição ao eminente Professor Paulino de Brito.
- Ao diplomar-se em Direito em 1908, Remígio Fernandez foi designado a exercer o cargo de Juiz Substituto na cidade de Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó. Em 1917, retorna para Belém, quando então ingressa no Ginásio Paes de Carvalho assumindo interinamente a cadeira de latim, onde desempenha o magistério por longos 33 anos como catedrático para o qual foi nomeado em 1920, após realizado concurso em que apresenta a tese "DAS PREPOSIÇÕES DE ABLATIVO E ACUSATIVO E ABLATIVO". - Durante o curso de sua vida pública, exerceu importantes cargos e foi reconhecida mente importante intelectual da terra PAROARA: Foi diretor da Biblioteca e Arquivo Públicos, Vice-cônsul da Espanha, professor dos Colégios Progresso Paraense, Moderno, Paes de Carvalho, Membro da Academia Paraense de Letras (Funda dor da Cadeira nº 03 patrocinada por Acrisio Mota), membro da Academia Piauiense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico do Pará.
- Remígio Fernandez foi poeta, escritor, critico, advogado, professor e jornalista, deixou ao morrer, vasta produção literária em jornais e revistas em todo o território nacional, principalmente na Folha do Norte de onde era assíduo colaborador e assinava seus artigos sob o pseudônimo "TIBULO".
- Excelentes produções literária de Remígio Fernandez, a saber, "Selva", publicada em 1919, "Sol de Outubro", em 1922; Máximas de Públio Syrio, em 1936; e, "Ocaso" em 1942.
- Traduziu para o latim o romance Iracema, de José de Alencar, com finalidade de facilitar o aprendizado da língua latina, cadeira em que era catedrático no Colégio Estadual Paes de Carvalho. Ao morrer Remígio Fernandez, deixou uma obra incompleta programada para quatro volumes, de estudos sobre a língua latina inédita que se encontra sob a guarda de seus filhos.
- Remígio Fernandez: casou-se em 07 de maio de 1921, com a Srª. Izaura de Oliveira Menezes (Paraense) tendo o casal 08 filhos.
- Remígio Fernandez recebeu homenagem da Educação Marapaniense, contando o seu nome no patrimônio histórico que é principal rede de ensino de 1º e 2º graus de Marapanim. Inaugurado graças os esforços do Prefeito da época, o Sr. Francisco de Sales Neves, em 1959, na gestão do então Governador do Estado: Geolás de Moura Carvalho e o Presidente da República: Dr. Juscelino Kubitischec de Oliveira; funcionou primeiro como Escola Agroartezanal e posteriormente Ginásio Industrial, Ginásio Estadual Remígio Fernandez, Escola de 1º e 2º Graus Remígio Fernandez, atualmente Escola Estadual de Ensino Médio Remígio Fernandez, popularizado como Colégio Estadual Remígio Fernandez.
Fonte: Jornal "O Marapanim"
Página: 06, de Nº 06 (fevereiro/março de 1987).



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UM DIA DE FESTAS - POR ADALBERTO MOURA NETO

Recital em frente à casa onde nasceu o poeta Antônio Tavernard, em Icoaraci. Hoje se concretiza o sonho de reerguer este espaço como a merecida Casa do Poeta, na visão de Adalberto Neto e endossado pelo autor do livro Moços & Poetas. Publico hoje, na íntegra um artigo de um grande agitador cultural de Belém, em especial de Icoaraci. Trata-se de um relato sobre uma justa homenagem àquele que é considerado como um dos maiores poetas paraenses: Antônio Tavernard.  O que me motiva esta postagem - e foi a meu pedido - é que a memória cultural do nosso estado vem de pessoas que fazem isso de forma espontânea. O Adalberto Neto é aquele leitor voraz e já um especialista no Poeta da Vila - e isso é o mais importante: ler a obra de Tavernard é encontrar: religiosidade, Amazônia, lirismo, musicalidade romântico-simbolista, um tom épico em seus poemas "em construção" e um exímio sonetista, e eu diria: Tavernard faz do soneto um minirromance.  Fico feliz pelo Adalberto Neto, o autor d...

AO CORAÇÃO DO MAESTRO (PEQUENA CRÔNICA PÓETICA)

O coração do poeta encontrou o coração do maestro em outubro de 2023 e desde então conversavam como se fossem dois parentes que fizeram uma longa viagem a rumos diferentes e que se reencontravam de repente. O coração do maestro ensinava; o coração do poeta ouvia. Quem ensina é o coração; quem aprende é também o coração. Dois irmãos. - Um coração para duas mentes diferentes. O coração do maestro regia as histórias, as lendas, os mitos, a ópera, a música; o coração do poeta dizia: sonho com o verso, o certeiro acorde, do maestro como ópera e como canção, como rima, como melodia, como ode. E alegria. Era muita cultura, para muito mais coração. Era quase todo dia, um projeto, uma ideia, uma música, um hino, o coração do poeta escrevia: "Homens livres e de bons costumes/ irmãos do espírito das letras/ levantai a cantar a Glória do Arquiteto Criador/ Homens Livres e de bons costumes/ Irmãos do espírito das Letras/ Aprumai a voz ao coração/ que a pena é mais forte que o canhão/ Às Letras...

A ORIGEM DO FOGO — LENDA KAMAYURÁ

    Lenda colhida pelos irmãos Villas Boas. Posto Capitão Vasconcelos à margem do arroio Tuatuari, em 16/06/1955.    Na Amazônia, todos os povos indígenas têm lendas sobre a origem do fogo. Elas diferem entre as etnias, embora o processo seja o mesmo: uma flecha partida em pedaços e uma haste de urucum.  Das lendas que ouvimos sobre a origem do fogo, a que mais nos pareceu interessante foi a narrada por um velho Kamayurá.                                                     “Canassa — figura lendária, caminhava no campo margeando uma grande lagoa. Tinha a mão fechada e dentro, um vaga-lume. Cansado da caminhada, resolveu dormir. Abriu a mão, tirou o vaga-lume e pôs no chão. Como tinha frio, acocorou-se para aquecer à luz do vaga-lume. Nisso surgiu, vindo da lagoa, uma saracura que lhe disse: ...