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CONTOS DA AMAZÔNIA, DE IVANILDO FERREIRA ALVES

  Contos da Amazônia, de Ivanildo Ferreira Alves.     Lançado em 2001 pela Editora CEJUP, em Belém PA, a obra reúne cinco contos que versam sobre o que já vem destacado na capa desta edição “O misticismo do homem amazônida, seus costumes, sua linguagem. A vida do povo destas paragens em prosa e verso”. Vou colocar na sequência abaixo os nomes dos contos e um resumo comentado de cada um.   A LENDA DA MULHER CHEIROSA   O livro inicia com a Lenda da Mulher Cheirosa, uma narrativa contada pelos habitantes da marajoara Ilha de Tijoca, e podemos dizer que o tema trata de um assunto pertinente à profissão do autor que é advogado, tendo atuado como professor de Direito, que é a questão da justiça. Pode uma entidade espiritual praticar a justiça para com um homem que seduzia as belas meninas do lugar? Carlos Xibiu, nome que evoca a versão popular de vulva, sugerindo assim a ideia de mulherengo, era o sedutor do pacato lugarejo, homem que usava um olho...

A Solitária Estrela sobre o Lema Ordem e Progresso

  Mandei para meus alunos, via WhatsApp, uma reflexão sobre o significado do 15 de agosto aos paraenses. Queridos alunos, É feriado no Pará, 15 de gosto de 2023, e as elites não programaram nada para festejar a data de ADESÃO à independência do Brasil, quase um ano depois da proclamação da independência em 1822, justamente na importante efeméride de um bicentenário. Não festejam porque não querem ver o povo unido. O Grão-Pará foi o último a aderir e não é a toa que, na bandeira, estamos solitários acima do lema Ordem e Progresso. (Sim, estamos solitários por conta da bandeira republicana do Brasil indicar a capital mais ao norte naquele céu noturno de 1889, como assim aprendemos nos bancos das escolas sobre a simbologia do nosso ícone maior de nacionalidade por conta da Proclamação da República.) Quero falar de outra solidão. A solidão do Grão Pará em relação à Província do Brasil à época de nossa independência. O Brasil de 1823 era dividido em duas Capitanias: A província do Grão ...

HABITAMOS UMA CASA, MAS NÃO UM LAR

Habitamos uma casa, mas não um lar.  É nesse sentido que o livro Ecofilosofia: Do Antropocentrismo ao Ecocentrismo, de Ricardo Albuquerque, nos coloca a par da trajetória da filosofia - exatamente a filosofia  que é também o caminho que norteia, direciona, aponta o rumo da humanidade - esse mesmo caminho que antes de começar com o Logos, havia - e devemos lembrar também - esse é um dos pontos fortes do livro - da noção harmônica de Gaia, a Mãe-Terra, a mãe dos deuses grega, assim como Pachamama, a Mãe-Terra andina, também mãe dos deuses, da nossa América do Sul. O lar pode ser aqui uma palavra que complementa o sentido de mundo, - este, um vocábulo de entendimento vasto e portanto nem sempre adequado quando é matéria da reflexão, afinal o mundo é sempre um lugar de confronto, oposto, por exemplo, a cosmo, que nos traz o significado de harmonia. Porque abandonamos o cosmo de Gaia e de Pachamana, enveredamos pela cultura logocêntrica e de repente nos vemos retornando a um lar em...

"APRENDI SOZINHA": RELATO DA PARTEIRA DONA MARCELINA, COLHIDO PELA PESQUISADORA IREANE MELO, ALUNA DO CURSO DE LETRAS DA UFPA, CAMPUS DE ABAETETUBA.

    O seguinte relato aqui apresentado vem do Município de Barcarena, cujo nome se originou, segundo o imaginário da população local, por causa de uma grande embarcação que era batizada como “Arena", conhecida pelas pessoas como “Barca”. A junção das duas palavras fez com que a localidade ficasse conhecida como Barcarena. Devido a sua proximidade de Belém, a cujo território pertenceu até 1938, Barcarena foi palco de importantes acontecimentos dos anos da Cabanagem. Com intuito de encontrar pessoas que contassem histórias de encantarias, fui pesquisar em locais mais distanciados da cidade. Posteriormente, ouvi dizer sobre a senhora Marcelina, que inclusive é muito conhecida na comunidade por ter feito inúmeros partos. No dia seguinte, fui visitá-la em sua casa na comunidade CDI, em Barcarena. Assim, que cheguei em sua residência, fui muito bem recebida, contei que participo do Grupo de Pesquisa sobre Etnopoesia e que sou discente do curso de Letras Língua-Portuguesa, Camp...

PERGUNTAS DO MAHABAHRATA

 - O que é mais rápido que o vento? - O pensamento. - Quem pode envolver a Terra? - A escuridão. - Quem é mais humano? Os vivos ou os mortos? - Os vivos, pois os mortos não existem mais! - Dê-me um exemplo de espaço. - Minhas duas mãos são uma. - Um exemplo de dor? - A ignorância. - De um veneno? - O desejo. - Um exemplo de fracasso? - A vitória. - Quem veio primeiro, a noite ou o dia? - O dia, mas apenas um dia antes. - Qual a origem do mundo? - O Amor. - Qual é o seu adversário? - Eu mesmo. - Qual a sua loucura? - O remorso. - E uma revolta, por que os homens se revoltam? - Para encontrar a beleza, na vida ou na morte! - E o que para cada um de nós é uma coisa inevitável? - A felicidade. - E qual é o grande milagre? - Todos os dias a morte ataca. E viveremos, pois somos eternamente. Este é o grande milagre. (Trecho do Mahabahrata, o grande épico indiano, com mais de 74 mil versos, considerado a maior obra já escrita por mãos humanas, atribuída a Krishna Dvapayana Vyasa) O filme t...

Pérola de Antonio Landi

Quem chega de barco do sul do Pará, em especial do Baixo Tocantins, logo se depara com a cúpula dessa igreja, uma visão lateral, subindo o rio que chora, o Guamá.  É a pérola do arquiteto bolonhês, Antonio Landi, que ficou no Brasil por 38 anos e desenhou belíssimas igrejas e outros conjuntos arquitetônicos famosos. A discreta Igreja do Carmo, na verdade planejada no século 17 a muitas mãos, e acrescentada do talento do famoso arquiteto italiano, no século 18, surgia ao final da rua Siqueira Mendes, como era chamada então a Rua do Norte, a primeira de Belém. De fato, os nomes mudam, a religião fica! E o bairro era simplesmente Cidade, hoje, "Cidade Velha". O historiador Ernesto Cruz diz que foi a primeira igreja da Amazônia, no sentido de obra arquitetônica acabada, tão antiga que a ordem religiosa que a construiu não existe mais, extinta em 1891. É uma obra luso-ítalo-amazônica. E brasileira. Sua fachada de pedra, de Lisboa toda trazida em partes para ser em Belém montada! D...