Mandei para meus alunos, via WhatsApp, uma reflexão sobre o significado do 15 de agosto aos paraenses.
Queridos alunos,
É feriado no Pará, 15 de gosto de 2023, e as elites não programaram nada para festejar a data de ADESÃO à independência do Brasil, quase um ano depois da proclamação da independência em 1822, justamente na importante efeméride de um bicentenário.
Não festejam porque não querem ver o povo unido.
O Grão-Pará foi o último a aderir e não é a toa que, na bandeira, estamos solitários acima do lema Ordem e Progresso.
(Sim, estamos solitários por conta da bandeira republicana do Brasil indicar a capital mais ao norte naquele céu noturno de 1889, como assim aprendemos nos bancos das escolas sobre a simbologia do nosso ícone maior de nacionalidade por conta da Proclamação da República.)
Quero falar de outra solidão.
A solidão do Grão Pará em relação à Província do Brasil à época de nossa independência.
O Brasil de 1823 era dividido em duas Capitanias: A província do Grão Pará e Maranhão e a Província do Brasil.
Os dois territórios ainda tinham a mesma administração como era na colônia Portuguesa, - e quase não havia comunicação entre eles.
O Grão-Pará se dirigia diretamente a Portugal e pouco contato tinha com o resto do país. Belém, por conta dessa aproximação com a forma portugusa de administrar, tinha status de cidades como Porto e Rio de Janeiro por conta de uma tríade importante na manutenção do poder à época: clero, generais e comércio.
E os livros de história falam das elites portuguesas que se mantinham no poder graças à superioridade bélica e econômica que os favorecia e além disso, a marinha portuguesa garantia a dominação colonial.
Hoje, estamos comemorando de forma silenciosa o bicentenário da Adesão do Pará à Independência, hoje, mesmo sem eletrecidade e sem água em alguns bairros da capital.
E, para lembrar, temos dois fatos curiosos: foi a cidade de Muaná a primeira a declarar adesão em 28 de maio de 1823, no arquipélago do Marajó, onde havia a forte presença dos engenhos e a mestiçagem que já era muito evidente, e já se declaravam "brasileiros";
- e,
segundo, foi um fato que gerou uma tragédia: D. Pedro I enviava a Belém, a sede do governo local, o mercenário inglês John Grenfell que ao desembarcar avisava às autoridades paraenses que havia uma frota ancorada em Salinas, no litoral nordeste paraense, pronta para bloquear o Grão-Pará do restante do Brasil.
O blefe funcionou e a ata contendo 107 assinaturas de autoridades da época, concordando com a separação de Portugal, foi assinada no Palácio Lauro Sodré, sede da Colônia Portuguesa do Grão-Pará na época. Entretanto, em outubro desse mesmo ano, os que apoiavam a Adesão, como Batista Campos, diante do autoritarismo de Grenfell, começaram a protestar e mais de duzentos deles foram sufocados em um navio, o São José Diligente, e por terem jogado cal pela escotilha, os poucos sobreviventes ficaram parecidos com pallhaços, daí o nome desse morticínio ter levado o nome de A Tragédia do Brigue Palhaço - fato que haveria de ser a semente da Cabanagem - a maior revolta popular da história brasileira, quando, ao longo de mais de dez anos, aqui se cunhava a própria moeda e decidíamos tudo, como na Grécia antiga, em um lugar público que depois haveria de ser chamada de praça D Pedro II, o monarca que haveria de pacificar o Brasil.
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