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Pérola de Antonio Landi


Quem chega de barco do sul do Pará, em especial do Baixo Tocantins, logo se depara com a cúpula dessa igreja, uma visão lateral, subindo o rio que chora, o Guamá. 


É a pérola do arquiteto bolonhês, Antonio Landi, que ficou no Brasil por 38 anos e desenhou belíssimas igrejas e outros conjuntos arquitetônicos famosos.



A discreta Igreja do Carmo, na verdade planejada no século 17 a muitas mãos, e acrescentada do talento do famoso arquiteto italiano, no século 18, surgia ao final da rua Siqueira Mendes, como era chamada então a Rua do Norte, a primeira de Belém.



De fato, os nomes mudam, a religião fica!



E o bairro era simplesmente Cidade, hoje, "Cidade Velha".



O historiador Ernesto Cruz diz que foi a primeira igreja da Amazônia, no sentido de obra arquitetônica acabada, tão antiga que a ordem religiosa que a construiu não existe mais, extinta em 1891.



É uma obra luso-ítalo-amazônica.

E brasileira.

Sua fachada de pedra, de Lisboa toda trazida em partes para ser em Belém montada!



De pedra.


De pedra.


De lioz.

A mesma da Torre de Belém e do Mosteiros dos Jerônimos.

 Rosada ou levemente acizentada.

Dos arredores de Lisboa ou de Sintra.

Pedras que eram do fundo do Mar de outrora.





Era a Ordem dos Carmelitas.




Onde havia um largo. Ou uma praça.

Ou como se diz em Portugal, um paço.

Onde, alguns passos de forma sugura podemos dar.

A arquitetura lusitana é como a sua língua. 

Ela precisa todo o espaço ocupar.


A primeira igreja da Amazônia, inicialmente erguida em 1690, ou seja final do século 17, então, projetava a presença do forte culto mariano em Belém, abrindo o caminho à mística em torno da aura feminina, principalmente com o advento da procissão do Círio de Nazaré que começaria em 1793, ou seja, no final do século 18, praticamente cem anos depois.



Belém é uma cidade protegida pelas mulheres santas, como Igreja das Mercês (inicialmente uma capela em taipa de 1640 e somente erguida em 1748, também por Antonio José Landi), Nossa Senhora de Sant'Ana (iniciada em 1727), Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (surgida em 1682 como uma simples capela de taipa, mas erguida arquitetonicamente em 1720), a Basílica de Nazaré (iniciada em 1909, já no fim da Era da Borracha), Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, (iniciada em 1940), da Ordem dos Redentoristas, e tantas outras senhoras dos reinos sagrados do vasto universo de Deus. 



Observem bem que a Caterdral, construída mais adiante, também "olha" para o Atlântico, para o Norte, para Portugal.



Ela é um barco?

Naturalmente que a água, o mais maternal dos elementos, tem a ver com essa escolha, com essa mística, com essa devoção.

Com essa energia.

E o interessante da imagem de Nossa Senhora do Carmo é que o menino jesus está praticamente pulando do colo da mãe para vir brincar com a gente, aqui em baixo.


Jesus Cristinho quer brincar conosco. Ele abre os braços e praticamente vem ao nosso encontro.


O altar, talhado na madeira, é trabalho dos assim chamados "índios-artesãos", boa parte deles, os Tupinambás. 

Nota-se o desenho de plantas e de animais da Amazônia e a evidente assimetria barroca entre as colunas e relevos.


Colunas de Corinto, e seus adornos característicos, como uma "palmeira", discreta sob o tropical sol da Linha do Equinócio. 

A Linha do Equador.

A paridade das colunas, por sua vez, revela a simetria do estilo clássico.



Placa alusiva à restauração em 2015.


Um dos púlpitos laterais.


A Mater Christi sempre em destaque


Vista de dentro com as portas fechadas.

Azul.

Como o Equinócio céu de Belém!





Vista de dentro com o portão fechado.

É o mesmo azul do Equinócio.

Azul do alto para se olhar.





Placa alusiva à memória do Capitão General Pedro de Albuquerque, defensor do Grão- Pará contra as investidas do holandeses, cujos restos mortais repousam na Igreja.



Azul de Belém do Pará!



Azul sempre celeste. Azul para os quatro cantos. 

Azul do Equinócio.

Azul da paz. 

Azulejar é um verbo lusitano.

De azulejos e de igrejas.

Azul para velejar.

Azul para acalmar.




Azul para pregar:

- os quatro evangelistas estão retratados, dois de cada lado da janela superior da cúpula.

Marcos e Lucas.











Anjos no altar.



Santo Agostinho dizia que o tempo é a fração da eternidade.

O mesmo pode ser dito da beleza.



E sabiam que há uma fonte junto ao altar?


Ao lado, o marulho das águas.

Água, o mais maternal dos elementos.



João e Mateus


No século 17 não havia microfone.

A palavra: verbum est semen Dei!

Antônio Vieira pregou em Belém e esteve preso em Belém.

E ele dizia: "Nasce-se em Portugal e morre-se pelo mundo".

(Sobre a sina migrante do lusitano povo, 

Destino de quem tem a Cristo como Ordem

E a vermelha Cruz sobre a branca bandeira.

- Os antigos e novos Templários).



Diante de tanta riqueza, perguntamos: - qual o valor do patrimônio artístico e cultural de Belém do Pará?


Vista da igreja, chegando pelo Baixo Tocantins.

Ela seria um barco?






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