Habitamos uma casa, mas não um lar.
É nesse sentido que o livro Ecofilosofia: Do Antropocentrismo ao Ecocentrismo, de Ricardo Albuquerque, nos coloca a par da trajetória da filosofia - exatamente a filosofia que é também o caminho que norteia, direciona, aponta o rumo da humanidade - esse mesmo caminho que antes de começar com o Logos, havia - e devemos lembrar também - esse é um dos pontos fortes do livro - da noção harmônica de Gaia, a Mãe-Terra, a mãe dos deuses grega, assim como Pachamama, a Mãe-Terra andina, também mãe dos deuses, da nossa América do Sul.
O lar pode ser aqui uma palavra que complementa o sentido de mundo, - este, um vocábulo de entendimento vasto e portanto nem sempre adequado quando é matéria da reflexão, afinal o mundo é sempre um lugar de confronto, oposto, por exemplo, a cosmo, que nos traz o significado de harmonia.
Porque abandonamos o cosmo de Gaia e de Pachamana, enveredamos pela cultura logocêntrica e de repente nos vemos retornando a um lar em que já vivemos: a natureza?
Por que estamos falando hoje de Ecocentrismo?
Que casa é essa na qual estamos o tempo todo ouvindo, por via de definições questionáveis como Mudanças Climáticas, Efeito Estufa, Camada de Ozônio e outras?
A resposta é uma longa trajetória que o livro, com bastante competência, nos recorda: do "Caos e Logos Grego" ao retorno à divindade-mãe de "A Terra Vista como Gaia", todavia com o paradoxo de que há em curso uma mudança significativa da "tutela dos interesses interpessoais para os metaindividuais", regida em seu extremo por uma Nova Ordem Jurídica, a que realmente controla nossa pretensa viagem de retorno ao equilíbrio homem-natureza.
Na tradição judaico-cristã começamos com um Éden, que pode ter vários significados como do hebraico "deleite" ou "prazer", ou do acadiano "planície", no sentido geográfico do termo. Eu quero lembrar de Éden no seu sentido mais puro e representativo de harmonia mesmo, o de jardim.
A tradição grega não fala exatamente de um "Éden" e sim de uma cosmogonia, da qual os poetas, como guardiões da memória, os rapsodos, falavam e encantavam com seus cantos e performances - cosmogonia essa que transformou a palavra no centro a visão de mundo, originando assim, com o questionamento do ser, a filosofia.
É desta forma que o Logocentrismo vai chegar talvez em seu ápice, mais adiante, no Renascimento como a abertura do mundo moderno, com o Antropocentrismo.
A guinada agora chama-se Ecocentrismo - a casa no centro, a natureza.
Onde está o nosso lar?
O livro em questão é uma dissertação de mestrado, publicada em 1999, um ano de número emblemático, afinal tudo mudou para números diferentes - os anos 2000 - e é nesse sentido que eu quero alertar para esta publicação: ela vai mudar sua concepção de mundo porque exatamente tudo mudou a ponto de a importância ser dada à natureza, ficando o homem a um patamar secundário.
O autor divide o seu livro em três momentos significativos: o cósmico, o existencial e o jurídico.
Não vou comentar cada ponto dessa trilogia, o que já seria matéria para um artigo também de natureza acadêmica.
- Vou direto ao assunto apontado no livro: o da colisão entre tecnologia e natureza, resultando um novo mundo.
Explico.
A questão evidenciada pelo autor é a rota de colisão da tecnologia com a natureza cuja saída é justamente o retorno à harmonia de Gaia e Pachamama, a volta à saúde real, por exemplo, da Ayahuasca, o vinho das almas, citado ao final da obra, como uma chave, a contribuição da Amazônia, dentre outras, a dilatar nossa consciência, nossa sincronia, psicologia e espiritualidade, a tríade indissolúvel de nosso verdadeiro futuro.
Assim, o autor encontra na Profecia Celestina uma resposta, no famoso romance de James Redfield, um misto de aventura e misticismo, a apontar nove passos à evolução espiritual.
Foi publicado em 1993 nos EUA, e traduzido no Brasil em 1994, e bem lembrado pelo autor da dissertação ao ponto nevrálgico da questão:
"Dentro de uma perspectiva para o próximo milênio, tem-se que a raça humana vai mudar em consciência de uma evolução consciente, reduzindo voluntariamente nossa população a um ponto sustentável para a Terra".
A Profecia toca em um assunto polêmico, e como toda profecia é algo do futuro, parece que esse tempo de epifania já chegou.
Sejamos francos:
- que Lei vai reger essa redução voluntária de nossa população a um ponto sustentável?
Que filosofia?
Que religião?
Que tecnologia?
Que ciência?
Que política?
Bem.
Recomendo o livro do professor, procurador de Justiça, e filósofo, Ricardo Alburqueque, obra esta que já é merecedora de uma segunda edição para que mais leitores encontrem no Ecofilosofia: Do Antropocentrimo ao Ecocentrimos, um alento às angústias provocadas por essa inquieta transição de paradigma tão evidente em nossos dias.
Belém, Pará, 03 de agosto de 2023
Benilton Lobato Cruz
A obra publicada em 1999 permanece atual, merece um reedição.
ResponderExcluirSim. Uma nova edição comentada, afinal a obra toca na urgência de refletir o direito natural do contrato social, rever a história e reestruturar deveras o âmago do direito em si diante desse novo contexto global.
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