Pular para o conteúdo principal

EMILY

Tudo o que é sangue 

Escreve -

Espada ou

Mênstruo.


A abelha 

Sob a sombra do trevo

Breve 

Ao sol do desejo.


(Para Emily Dickinson, 1830-1886,


Benilton Cruz)


(Na colagem, a foto da atriz Hailee Steinfeld, interpretando a poeta, na série "Dickinson", 2020). 


POEMAS DE EMILY DICKINSON

COM TRADUÇÃO


Who?
My friend must be a bird, Because it flies!
Mortal my friend must be,
Because it dies!
Barbs has it, like a bee.
Ah, curious friend,
Thou puzzlest me!


Quem?

Meu amigo deve ser um pássaro,
Porque voa!
Mortal meu amigo deve ser,
Porque ele morre!
Farpas tem, como uma abelha.
Ah, amigo curioso,
Tu me confundes!

 

 

 

        My Life had stood - a Loaded Gun -
        In Corners - till a Day
        The Owner passed - identified -
        And carried Me away -

And now We roam in Sovereign Woods -
And now We hunt the Doe -
And every time I speak for Him -
The Mountains straight reply -

And do I smile, such cordial light
Upon the Valley glow -
It is as a Vesuvian face
Had let it's pleasure through -

And when at Night -- Our good Day done -
I guard My Master's Head -
'Tis better than the Eider-Duck's
Deep Pillow - to have shared -

To foe of His - I'm deadly foe -
None stir the second time -
On whom I lay a Yellow Eye -
Or an Emphatic Thumb -

Though I than He - may longer live
He longer must - than I -
For I have but the power to kill,
Without - the power to die -

 

 

Espingarda Carregada - a minha Vida -
Por Cantos - assim for a
Até passar o Dono - Me marcar -
E Me levar embora -

E agora erramos em Bosques Reais -
E perseguimos uma Corça agora -
E cada vez que falo em Sua vez -
As Montanhas respondem sem demora -

E se eu sorrio, uma amigável luz -
No Vale se faz ver -
É como se uma face de Vesúvio
Soltasse o seu prazer

E quando à Noite - já cumprido o Dia -
Guardo a Cabeça do Meu Dono -

Melhor do que Almofada em Penas Suaves
Partilhada - no sono -

Do inimigo Seu - sou-o, mortal -
Não se torna a agitar -
Esse em quem pouse o meu Olho Amarelo -
Ou enfático Polegar -

Embora eu possa viver mais - do que Ele
Ele mais do que eu - deve viver -
Que eu só tenho o poder de matar,
Sem - o poder de morrer -

 

 

There is a word
Which bears a sword
Can pierce an armed man -
It hurls its barbed syllables
At once is mute again -
But where it fell
The saved will tell
On patriotic day,
Some epauletted Brother
Gave his breath away.

Wherever runs the breathless sun -
Wherever roams the day -
There is its noiseless onset -
There is its victory!
Behold the keenest marksman!
The most accomplished shot!
Time's sublimest target
Is a soul 'forgot'!

 

 

Há uma palavra
Que empunha uma espada
Pode trespassar um homem armado -
Lança as suas sílabas de farpa
E fica-se, calada.
Mas onde tombar
Os salvos dirão
Em dia da nação,
Deixou de respirar
Um irmão, um soldado.

Por onde corra o sol arfante -
Ou o dia vagueie -
Aí, o seu ataque sossegado -
E a sua vitória!
Notai o atirador mais hábil!
O tiro mais certeiro!
O mais sublime alvo do Tempo,
A alma "sem memória"!

 

 

I'm Nobody! Who are you?
Are you - Nobody - too?
Then there's a pair of us?
Don't tell! they'd advertise -you know!

How dreary - to be - Somebody!
How public - like a Frog -
To tell your name - the livelong June -
To an admiring Bog!

 

 

Não sou Ninguém! Quem és?
És tu - Ninguém - também?
Há, pois, um par de nós?
Não fales! Não vão eles - contar!

Que horror - o ser - Alguém!
Que vulgar - como Rã -
Passar o Junho todo - a anunciar o nome
A charco de pasmar!



Because I could not stop for Death -
He kindly stopped for me -
The Carriage held but just Ourselves -
and Immortality.

We slowly drove - He knew no haste
And I had put away
My labor and my leisure too,
For His Civility -
We passed the School, where Children strove
At Recess - in the Ring -
We passed the Fields of Gazing Grain -
We passed the Setting Sun -

Or rather - He passed Us -
The Dews drew quivering and chill -
For only Gossamer, my Gown -
My Tippet - only Tulle -

We paused before a House that seemed
A Swelling of the Ground--
The Roof was scarcely visible -
The Cornice - in the Ground -

Since then - 'Tis Centuries - and yet
Feels shorter than the Day
I first surmised the Horses Heads
Were toward Eternity -

 

 

Porque não pude deter-me para a Morte -
Parou Ela amavelmente para mim -
Na Carruagem cabíamos só Nós
E a Imortalidade.

Seguimos devagar - Ela sem pressa -
E eu pusera de lado
O meu trabalho e o ócio também
Pela Sua Cortesia -

Passámos pela Escola, onde, em Recreio,
E no Adro - lutavam as Crianças -
Passámos pelos Campos de Trigo de Espanto -
Passámos o Sol posto -

Melhor - passou-Nos Ele -
O Orvalho caía frio e trémulo -
Porque de Gaze só o meu Vestido -
E a minha Estola - era de Tule só -

Parámos junto a Casa semelhante
A Inchaço no Solo -
O Telhado da casa mal se via -
A Cornija - no Solo -

Desde então - Séculos há - porém
Tudo parece menos que esse Dia
Em que primeiro adivinhei que as Crinas
Apontavam para a Eternidade -


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UM DIA DE FESTAS - POR ADALBERTO MOURA NETO

Recital em frente à casa onde nasceu o poeta Antônio Tavernard, em Icoaraci. Hoje se concretiza o sonho de reerguer este espaço como a merecida Casa do Poeta, na visão de Adalberto Neto e endossado pelo autor do livro Moços & Poetas. Publico hoje, na íntegra um artigo de um grande agitador cultural de Belém, em especial de Icoaraci. Trata-se de um relato sobre uma justa homenagem àquele que é considerado como um dos maiores poetas paraenses: Antônio Tavernard.  O que me motiva esta postagem - e foi a meu pedido - é que a memória cultural do nosso estado vem de pessoas que fazem isso de forma espontânea. O Adalberto Neto é aquele leitor voraz e já um especialista no Poeta da Vila - e isso é o mais importante: ler a obra de Tavernard é encontrar: religiosidade, Amazônia, lirismo, musicalidade romântico-simbolista, um tom épico em seus poemas "em construção" e um exímio sonetista, e eu diria: Tavernard faz do soneto um minirromance.  Fico feliz pelo Adalberto Neto, o autor d...

AO CORAÇÃO DO MAESTRO (PEQUENA CRÔNICA PÓETICA)

O coração do poeta encontrou o coração do maestro em outubro de 2023 e desde então conversavam como se fossem dois parentes que fizeram uma longa viagem a rumos diferentes e que se reencontravam de repente. O coração do maestro ensinava; o coração do poeta ouvia. Quem ensina é o coração; quem aprende é também o coração. Dois irmãos. - Um coração para duas mentes diferentes. O coração do maestro regia as histórias, as lendas, os mitos, a ópera, a música; o coração do poeta dizia: sonho com o verso, o certeiro acorde, do maestro como ópera e como canção, como rima, como melodia, como ode. E alegria. Era muita cultura, para muito mais coração. Era quase todo dia, um projeto, uma ideia, uma música, um hino, o coração do poeta escrevia: "Homens livres e de bons costumes/ irmãos do espírito das letras/ levantai a cantar a Glória do Arquiteto Criador/ Homens Livres e de bons costumes/ Irmãos do espírito das Letras/ Aprumai a voz ao coração/ que a pena é mais forte que o canhão/ Às Letras...

A ORIGEM DO FOGO — LENDA KAMAYURÁ

    Lenda colhida pelos irmãos Villas Boas. Posto Capitão Vasconcelos à margem do arroio Tuatuari, em 16/06/1955.    Na Amazônia, todos os povos indígenas têm lendas sobre a origem do fogo. Elas diferem entre as etnias, embora o processo seja o mesmo: uma flecha partida em pedaços e uma haste de urucum.  Das lendas que ouvimos sobre a origem do fogo, a que mais nos pareceu interessante foi a narrada por um velho Kamayurá.                                                     “Canassa — figura lendária, caminhava no campo margeando uma grande lagoa. Tinha a mão fechada e dentro, um vaga-lume. Cansado da caminhada, resolveu dormir. Abriu a mão, tirou o vaga-lume e pôs no chão. Como tinha frio, acocorou-se para aquecer à luz do vaga-lume. Nisso surgiu, vindo da lagoa, uma saracura que lhe disse: ...