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A POESIA NASCE NO OLHAR

 

Por algum tempo, fui instrutor de poesia, e ministrei as "oficinas da palavra" a fim de mover o segredo da poesia e consertar o verbo aceso da criação.

Surgia, então, a POESIA NASCE NO OLHAR, e distribuía entre os participantes, a maioria, crianças e adolescentes, os textos abaixo.

Ministrei esses cursos na Casa da Linguagem, na UFPA, ainda como estudante de Letras, na


própria Universidade, e em muitas outras oportunidades, como em Encontro de Estudantes, a nível nacional e estadual, e em escolas públicas, pela prefeitura de Belém.

Iniciava com o mito de Orfeu, o poeta-cantor, para mostrar que a inspiração está diante daquilo que perdemos. 

A poesia é como a morte, desde que velada e musicalmente encantadora de uma noção de perda e de ressignificação que nos remetem à vida.

Depois, aguçava a curiosidade pela imagem e pelo som. Pedia sempre para esquecerem o significado! (Alguns poemas em espanhol para notarem a música de outro idioma).

Sintam o som, A melodia, o acorde, a estranha música das palavras.

E olhem! A poesia nasce no olhar! 

- Só se enxerga o mundo com os próprios olhos!


     A lira de Orfeu


       A lira foi inventada por Hermes num dia em que encontrou, abandonado numa praia um casco vazio de tartaruga. Fixou-lhe dois chifres de boi e entre estes colocou quatro cordas feitas de tripa e deu-o de presente a Apolo. 

   O certo é que Apolo, embora agradecendo o presente, passou-o adiante: deu-o ao seu filho Orfeu, o qual tornou-se tão hábil no manejo do instrumento que conseguia arrancar dele as mais belas melodias. 
      Conseguia, com sua música encantar os homens, acalmar as feras e até aplacar a fúria do mar e dos ventos!
     Orfeu era casado com Eurídice, e viviam os dois apaixonados. Para ela, Orfeu compunha as mais belas melodias. Um dia, Eurídice foi mordida por uma serpente e morreu. 
     Quando os antigos gregos morriam, acreditava-se que iam ter ao Hades, depois de atravessarem o rio Stix (ou Estígio), na barca do sinistro Caronte. Eurídice, portanto, foi ao Hades para a sua provação. 

Orfeu desceu ao mundo das trevas e ali pediu aos deuses infernais que o deixassem ressuscitar a esposa ao som de sua Lira. 

      Foi-lhe concedida a mercê, com uma condição: eles teriam de voltar para a Terra sem olhar para trás uma vez sequer. Orfeu tocou sua Lira e realizou o milagre. Eurídice ressuscitou e os dois amantes dirigiram-se para a Terra. 
       Mas Orfeu, impaciente, olhou para trás, para ver se Eurídice o seguia. Imediatamente, a jovem foi arrastada de volta penetrando nas profundas regiões infernais - desta vez, para sempre.
          Vagando pelas colinas da Trácia, com sua Lira, Orfeu cantava suaves melodias em memória da esposa querida. Muitas jovens procuraram conquistá-lo, mas o seu coração havia secado, tornando-se insensível a um outro amor.
      Os tempos passaram e as jovens, furiosas, reuniram-se e mataram o jovem cantor. Esquartejaram-no e atiraram seus restos no rio Ebro. As musas, apiedadas, vieram procurar-lhe os despojos e conseguiram recompor-lhe o corpo. 
       Zeus ordenou que a Lira de Orfeu fosse colocada no céu como símbolo do amor conjugal.

 

 



Porque não pude deter-me para a Morte -
Parou Ela amavelmente para mim -
Na Carruagem cabíamos só Nós
E a Imortalidade.

Seguimos devagar - Ela sem pressa -
E eu pusera de lado
O meu trabalho e o ócio também
Pela Sua Cortesia -

Passámos pela Escola, onde, em Recreio,
E no Adro - lutavam as Crianças -
Passámos pelos Campos de Trigo de Espanto -
Passámos o Sol posto -

Melhor - passou-Nos Ele -
O Orvalho caía frio e trémulo -
Porque de Gaze só o meu Vestido -
E a minha Estola - era de Tule só -

Parámos junto a Casa semelhante
A Inchaço no Solo -
O Telhado da casa mal se via -
A Cornija - no Solo -

Desde então - Séculos há - porém
Tudo parece menos que esse Dia
Em que primeiro adivinhei que as Crinas
Apontavam para a Eternidade -

 

Emily Dickinson.

 

 

No alto da montanha

A água surge

E se precipita


                    (Kyoschi Takahama)

 

 

Ir

Ter onde   Isto

é aconselhável    diz

o Velho Rei

                      e ri

 

                                                                                    (Max Martins)

 

 

[Sobre o tamanho do sol] da largura de um pé humano.                                                       

HERÁCLITO




O Nosso

 

Amamos o que não conhecemos, o já perdido.
O bairro que já foi arredores
Os antigos que não nos decepcionaram mais
porque são mito e esplendor.
Os seis volumes de Schopenhauer que jamais terminamos de ler.
A saudade, não a leitura, da segunda parte do Quixote.
O oriente que, na verdade, não existe para o afegão, o persa ou o tártaro.
Os mais velhos com quem não conseguiríamos
conversar durante um quarto de hora.
As mutantes formas da memória, que está feita do esquecido.
Os idiomas que mal deciframos.
Um ou outro verso latino ou saxão que não é mais do que um hábito.
Os amigos que não podem faltar porque já morreram.
O ilimitado nome de Shakespeare.
A mulher que está a nosso lado e que é tão diversa.
O xadrez e a álgebra, que não sei.

 

Jorge Luis Borges
 

 

LIRA LXXII

 

Primera voz

 

Las ondas tienen vaga armonía,

las violetas suave olor,

brumas de plata la noche fría,

luz y oro el día,

yo algo mejor,

! yo tengo Amor!

 

Gustavo Adolfo Bécquer

 

 

GAZELA DA MORTE OBSCURA

 

Quero dormir o sono das maçãs,

fugir do tumulto que há nos cemitérios.

Quero dormir o sono do menino

que queria cortar seu coração em alto-mar.

 

Não quero que me repitam que os mortos não perdem o sangue;

que a boca impaciente continua a pedir água.

Não quero inteirar-me dos martírios que a erva nos dá,

nem da lua com boca de serpente

que trabalha antes do amanhecer.

 

Quero dormir um pouco,

um pouco, um minuto, um século;

mas saibam todos que ainda não morri;

que em meus lábios há um estábulo de ouro;

que sou o querido amigo do vento Oeste;

que sou a sombra imensa das minhas lágrimas.

 

Cobre-me com um véu ao amanhecer,

pois vai atirar-me mãos cheias de formigas,

e com água dura molhar meus sapatos

para mais deslizar o ferrão de seu lacrau.

 

Porque quero dormir o sono das maçãs

para aprender um pranto que me limpe de terra;

porque quero viver com o menino obscuro

           que queria cortar seu coração no alto-mar.

 

 

            Garcia Lorca


As Palavras Ressuscitarão

 

AS PALAVRAS envelheceram dentro dos homens

Separadas em ilhas,

As palavras se mumificaram na boca dos legisladores;

As palavras apodreceram nas promessas dos tiranos;

As palavras nada significam nos discursos dos homens públicos.

E o Verbo de Deus é uno mesmo com a profanação dos homens de Babel,

Mesmo com a profanação do homens de hoje.

E, por acaso, a palavra imortal há de adoecer?

E, por acaso, as grandes palavras semitas podem desaparecer?

E, por acaso, o poeta não foi designado para vivificar a palavra de novo?

Para colhê-la de cima das águas e oferecê-la outra vez aos homens do continente?

E, não foi ele apontado para restituir-lhe a sua essência,

E reconstituir seu conteúdo mágico?

Acaso o poeta não prevê a comunhão das línguas,

Quando o homem reconquistar os atributos perdidos com a Queda,

E quando se desfizerem as nações instaladas ao depois de Babel?

Quando toda confusão for desfeita,

O poeta não falará, do ponto em que se encontrar,

A todos os homens da terra, numa só língua – a linguagem do espírito?

Se por acaso viveis mergulhados no momento e no limite,

Não me compreendereis, irmão!

 

Jorge de Lima

 

 

MENTE, POETA

 

Mente, poeta! A vida apenas vale

Pela mentira que nos faz feliz.

Que nunca jamais teu verso cale

A mistificação

Ou a burla que desdiz

A dúvida infernal de um coração!

 

Mente, poeta, mente! Não existe

Isso a quem chamam de sinceridade.

Gargalha, se tua alma chora triste,

E, se vives em grande alacridade,

Põe soluços nos versos que escreveres.

 

Faze de engano a trama que teceres!

O poeta é uma aranha, e as emoções

Dos que o lêem, inseto multicores

Que se deixam ficar nas suas dores,

e alegria, na sua ventura ou pena,

pelo invisível fio das ilusões

que existem no aranhol de algum poema.

 

Mente! A mentira, qual couraça,

Abrouquela e defende o nosso sonho

Nesse combate hórrido e medonho

Que a existência é. Mente e, empós, pássa!...

Hão de seguir-te bençãos e evoés!

O que ganhou Moisés

Em ser sincero? Morrer sem Canann

A verdade é malsã.

Lembra-te de Jesus!

Foi ela que o pregou naquela cruz.

 

Mente, poeta! Desfolha os malmequeres

Das estrofes falsas que criares

Sobre o colo de todas as mulheres

Que amares!

As mulheres, que são?

Uma linda mentira em encarnação.

 

Mente às tontas, a esmo...

A todos e a ti mesmo!...

 

Se és casto, louva o vício!

Se és bom, prega a maldade!

Se amas, nega o amor!

Egoísta, aconselha o sacrifício!

Mísero, canta a felicidade!

Feliz, descreve a dor!

 

Faze de engano a trama que teceres!

Que nunca a burla a tua lira cale,

Pois a verdade mais límpida não vale

Dos versos que escreveres!

 

Antonio Tavernard (1931)

 

 

          POEMAS

  

Anacreonte (séc. VI a.C.)

ODE da sua lira

(Tradução de A. F. de Castilho)

 

 

De Átridas os feitos, de Cadmo os

          louvores

          tentei celebrar;

e a lira rebelde só cantos de amores

          me quis entoar.

 

Impus-lhe outras cordas... trabalho

           perdido!

          A lira troquei;

aos feitos de Alcides e a nova

          convido...

          e Amor, lhe escutei!

 

Adeus, grandes homens! Buscai

          noutra lira

          o vosso louvor!

A minha não sabe não pode suspira

          só cantos de amor.

 

                        *

 

Fragmentos de Safo de Lesbos (c. 625 e 580 a.C)

 

 

Em trono de cores e brilhos, Aphrodite

 imortal! Filha de Zeus, ó Tecelã de Tramas

eu te suplico: não dobres a dores e mágoas,

ó Soberana, meu coração,

_______

mas vem até mim, se jamais no passado

ao longo ouviste meu grito, e atendeste,

e do teu pai o palácio deixando,

de ouro, vieste,

_______

no carro atrelado: belos pardais

velozes te levaram pela terra sombria,

asas rápidas, turbilhonantes, dos altos céus,

através dos ares,

_______

e prontamente chegaram; e tu, Bem-Aventurada,

com um sorriso no teu rosto imortal,

perguntaste por que eu sofria de novo,

e por que de novo eu suplicava,

_______

 

*

 

 

a Lua já se pôs,

e as Plêiades; é meia-

noite; a hora passa

                       e eu

deitada estou

                            sozinha

 

 

 

Cantiga medieval em galego-português

Autor: R. Afonso. (século XII.)

 

         I

Ó mia senhor, que é tan fremosa

tan pura rosa, rosa de amor de gran frescor

digasde mi, se esta mia pena

non é pena vã senhor mia loiçã

que pena vã, é má ventura

ó mia senhor vos dar quer eu

todo o meu amor.

 

         II

O amor que arde em mi agora arde em ti

assim leda vais assim ledo vou eu

ao lado teu como trovador

senhor d’amor, folgando esta ventura em flor

pra se viver o nosso amor

      

           III

O tempo passa qual ladrón

o amor embaça sem razón

ver-te não quero, mas espero

pra meu grado, teu agrado

renascer nos olhos meus, ó santo Deus

que eram tão teus, tristes, ó meu Deus

nunca non vistes outros adeus

com pensamentos de tormentos

se perdi pobre de mim me acabará,

de puro amor com tanta dor.

Mia senhor assim morro eu de amor.

 

                         *

 

de O Livro das Ignorãças de Manoel de

Barros.

 

 

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer

nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença

        delas.

Comuniquei ao Padre Ezequiel, um  meu preceptor, esse gosto esquisito.

Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.

– Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse.

Ele fez um limpamento em meus receios.

O padre falou ainda: Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas...

E se riu.

Você não é de bugre? – ele continuou.

Que sim, eu respondi.

Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas –

Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros.

Há que apenas saber errar bem o seu idioma.


Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de agramática.

 

                         *

dresden 1984

franz flanzendörfer

 

 

dias despem-se da cor

escadas a baixo o cheiro

corpóreo da boca

nas ruas de homens a revolta

longe sempre adiante

pelo vento vem varrer

da terra enterrar sepulturas

à erva ficar mais dura.

 

(trad.: benilton cruz)

                        *

 

 

 

O RESTO SÃO AS PALAVRAS

Max Martins

 

Fora com esse mar

                         — Tu és um verso

apenas

           cego e invertebrado

                                         Sonho

de alvaiada máscara

e nada mais

 

Ou menos: Laudas em vão

em gretas

esse mar de lá

                      De lápide

Que sabes tu senão da geografia

(magra até aos ossos)

do deserto? Aqui todo começo

e fim de tua viagem

                           pioneiro e prisioneiro

do teu próprio rastro

Atrás da máscara

não há rosto — há palavras

                                 larvas de nada

 

       

A Aventura

Paulo Plínio Abreu

 

Eu te encontrei como quem atravessa um corredor longo e de janelas fechadas

Como quem vem para a manhã trazendo o sono enfermo das madrugadas.

Eu te encontrei

Como quem saiu da noite e foi descalço até o mar para brincar nas pedras

Como quem sob a chuva saiu para apanhar as açucenas,

e dormiu, nas grandes folhas úmidas das árvores

ou como quem, perdido nos caminhos,

de súbito encontrou o mar.

 

 

*

 

Fragmento do ALQUIMIA DO VERBO de Rimbaud

(Trad.: Lêdo Ivo)

 

Inventei a cor das vogais! - A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde. - Regulei a forma e o movimento de cada consoante, e com ritmos instintivos, nutri a esperança de inventar um verbo poético que seria um dia acessível a todos os sentidos.

 

                      *

 

Toda manhã o orvalho pesa sobre as rosas,

Jasmins, tulipas, mas o sol livra-os do fardo.

Toda manhã meu coração pesa em meu peito;

Mas teu olhar logo o liberta da tristeza

 

Omar Khayyam

 

 

Quando fores velha

 

Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,

Dormitando junto à lareira, toma este livro,

Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar

Que outrora tiveram teus olho, e com as suas sombras profundas;

 

Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,

Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,

Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,

E amou as mágoas do teu rosto que mudava;

 

Inclinada sobre o ferro incandescente,

Murmura, com tristeza, como o Amor te abandonou

E em largos passos galgou as montanhas

Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.

 

William Butler Yeats

 

 

Imagino como seria te amar

 

Teria o gosto estranho das palavras

Que brincamos

e a seriedade de quando esquecemos

Quais palavras

 

Imagino como seria te amar:

Desisto da ideia numa verbal volúpia

E recomeço a escrever

                                    Poemas.

 

 

Ana Cristina Cesar.

 

 

 

O sol

 

Diariamente, o sol amarelo vem por cima do monte.

Bela é a floresta, o animal sombrio,

O homem: caçador ou pastor.

 

Fulvo, emerge o peixe no lago verde.

Sob a curva do céu

Desliza levemente o pescador no barco azul.

 

Lentamente, amadurece a uva, o trigo.

Quando em silêncio, declina o dia,

Obras boas e más estão preparadas.

 

Quando chega a noite,

O viajante ergue levemente as pesadas pálpebras;

De sombrio abismo jorra sol.

 

 

LAMENTO

 

Sono e morte, as sombrias águias

Esvoaçam toda a noite ao redor desta cabeça:

A vaga gelada da esternidade

Engolindo a imagem dourada

Do homem. Em tenebrosos recifes

Despedaça-se o corpo purpúreo

E a voz grave lamenta-se

Sobre o mar.

Irmã de amotinada melancolia

Olha, um barco receoso afunda-se

Sob estrelas,

Sob o rosto silencioso da noite.

 

Georg Trakl

 

 

SONETO V

 

Escrito está en mi alma vuestro gesto,
y cuanto yo escribir de vos deseo;
vos sola lo escribisteis, yo lo leo
tan solo, que aun de vos me guardo en esto.

En esto estoy y estaré siempre puesto;
que aunque no cabe en mí cuanto en vos veo,
de tanto bien lo que no entiendo creo,
tomando ya la fe por presupuesto.

Yo no nací sino para quereros;
mi alma os ha cortado a su medida;
por hábito del alma mismo os quiero.

Cuando tengo confieso yo deberos;
por vos nací, por vos tengo la vida,
por vos he de morir, y por vos muero.

 

Garcilaso de la Vega

 


Quando eu era menino...

 

Quando eu era menino,

Um deus frequente me salvava

Da grita e do látego dos homens.

Em segurança eu brincava

Com as flores do bosque;

As brisas do céu

Vinham brincar comigo.

 

E assim como alegras

O coração das plantas,

Quando estendem os braços

Meigos para ti,

 

Meu coração alegraste

Também, Pai Hélio! E como Endimião

Eu era o favorito

Teu, sagrada Lua!

 

Oh vós todos, fiéis

Deuses amistosos,

Se soubésseis o quanto

Minha alma vos amou!

 

Não vos chamava eu então

Pelo nome, nem vós a mim

Pelo meu, como os homens

Quando se conhecem.

 

Mas eu vos conhecia

Como jamais aos homens conheci.

Eu compreendia o silêncio do Éter;

As palavras dos homens, não.

 

Educou-me a harmonia

Do bosque murmurantel

E aprendi a amar

Debaixo das flores.

 

Foi nos braços dos deuses que eu cresci.

 

(Friedrich Hölderlin)





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