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MOÇOS & POETAS: ANTONIO TAVERNARD, PAULO PLÍNIO ABREU, MÁRIO FAUSTINO E MAX MARTINS


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Antônio Tavernard: o mais moço dos poetas.

Cronologia

1908: nasceu no dia 10 de outubro, no mês do Círio de Nazaré e por isso será batizado com o nome de Antônio de Nazareth Frazão Tavernard, filho de Othílio Tavernard e Marieta Frazão Tavernard, na outrora Vila Pinheiro, atual Icoaraci, distrito de Belém,
1915: inicia o curso primário no Externato Santa Mônica, pertencente à professora Clarisse Proença, sendo aluno do professor João Pereira de Castro.
1917: obtém o segundo lugar no Concurso de Contos Nacionais da Revista Primeira, da qual se torna colaborador.
1919: ingressa no ginásio Paes de Carvalho, onde, além de participar de vários torneios esportivos, colabora com o jornalzinho escolar, o C. P.C.
1926: ingressa na Faculdade Livre de Direito do Pará, em 24 de março. Não consegue concluir o primeiro ano, vitimado pelo Mal de Hansen, seu tormento nos próximos dez anos.
1926: neste ano fatídico em sua biografia, devido ao contágio do Mal de Hansen, a família manda construir o “Rancho Fundo”, pequeno chalé de madeira, a pedido do próprio Tavernard, no quintal da casa, na rua Conselheiro Furtado.
1926: Neste mesmo ano, sua produção literária se acentua. Colabora com jornais da época, sendo redator –chefe da revista A Semana, nela publica poemas e crônicas, usando o pseudônimo de “Frei Tuck”.
1930: publica “Fêmea”, seu primeiro livro, um conjunto de contos, impresso nas oficinas Gráficas do Instituto Lauro Sodré, em Belém. A ilustração da capa foi feita por Roberto Reynoso.
1930: ainda neste ano, publica, em parceira com Fernando de Castro, a comédia “A menina dos 20.000”, e “A Casa da Viúva Costa”, “Seringadela”, “Que Tarde!” e “Parati”.
1932: Tavernard conhece Waldermar Henrique, mas nunca se viram pessoalmente, devido ao isolamento do poeta no “Rancho Fundo”.
1936: Morre aos 28 anos, no dia 02 de maio, vítima de um colapso cardíaco. É sepultado no Cemitério de Santa Isabel


POEMAS DE ANTÔNIO TAVERNARD


01. A recepção de Paul Verlaine.

VERLAINESCO

Alma de lírio que o vento leve
Faz palpitar...
Branca, mais branca do que a neve...
Pura, mais pura do que o luar...

Alma de lírio, perfume e seda
Sob o mistério duma alameda,
Entre repuxos e rouxinóis...

Alma brotada pelos acasos

Para a incerteza dos meus ocasos...
E vem comigo, com ela, a sós...
E vem conosco até que um beijo,
Ai de uma entrega, voz de um desejo,
Canta entre nós...
Então, a pulcra, perfume e seda
Torna ao mistério duma alameda,
Entre repuxos e rouxinóis...

Alma de lírio, enchendo vidas
De um misticismo de que faz rezar
De alma prostrada, de mãos erguidas,
Como se a tarde fosse um altar
Alma que esteve na rima louca
De algum poema de Mallarmé,
E foi sorriso de alguma boca
De princesinha Watieau-Lancrei
Sombra de sombra, fluido de fluido
Que algum descuido
Fez psiquê...
Aureola viva da primavera...
Alma de lírio.... Ah! quem me dera
Tê-la comigo neste abandono!...
Mas sou outono, mas sou outono...
E alma de lírio – ah! quem me dera!
Sonho ligeiro de um curto sono,
É primavera, é primavera...

2. A metapoesia e a metafísica.

MENTE, POETA

Mente, poeta! A vida apenas vale
Pela mentira que nos faz feliz.
Que nunca jamais teu verso cale
A mistificação
Ou a burla que desdiz
A dúvida infernal de um coração!

Mente, poeta, mente! Não existe
Isso a quem chamam de sinceridade.
Gargalha, se tua alma chora triste,
E, se vives em grande alacridade,
Põe soluços nos versos que escreveres.

Faze de engano a trama que teceres!
O poeta é uma aranha, e as emoções
Dos que o lêem, inseto multicores
Que se deixam ficar nas suas dores,
e alegria, na sua ventura ou pena,
pelo invisível fio das ilusões
que existem no aranhol de algum poema.

Mente! A mentira, qual couraça,
Abrouquela e defende o nosso sonho
Nesse combate hórrido e medonho
Que a existência é. Mente e, empós, passa!...
Hão de seguir-te bençãos e evoés!
O que ganhou Moisés
Em ser sincero? Morrer sem Canann
A verdade é malsã.
Lembra-te de Jesus!
Foi ela que o pregou naquela cruz.

Mente, poeta! Desfolha os malmequeres
Das estrofes falsas que criares
Sobre o colo de todas as mulheres
Que amares!
As mulheres, que são?
Uma linda mentira em encarnação.

Mente às tontas, a esmo...
A todos e a ti mesmo!...

Se és casto, louva o vício!
Se és bom, prega a maldade!
Se amas, nega o amor!
Egoísta, aconselha o sacrifício!
Mísero, canta a felicidade!
Feliz, descreve a dor!

Faze de engano a trama que teceres!
Que nunca a burla a tua lira cale,
Pois a verdade mais límpida não vale
Dos versos que escreveres!

ESFORÇO VÃO

No limiar da criação, fremefremindo
O meu pensamento pára...É a hora maga...
Hora fecunda, benéfica ou aziaga...:
A idéia, lenta, pouco a pouco, vai surgindo,

Tímida, arisca, vacilante, vaga...
Definida, depois...Então, reunindo
Os vocábulos vou para a ir vestindo
Com a pompa lapidar da forma... chaga

De luz é a inteligência nesse instante...
Dela escorrem, qual sangue fulgurante,
As frases tracejadas a correr...

Mas o ponto final tomba gelado...
E eu sinto, então, como um desencantado,
Toda a inutilidade de escrever.

03. O tema da juventude.

CONSOLO

Acharam muito que eu sorrisse tanto,
E fizeram com que na minha boca
Morresse o riso, e despontasse o pranto
Nos meus olhos doloridos. Gente má!...
Que mal lhes fez minha alegria louca,
Essa alegria tão comum que há
Em toda mocidade?... porventura
Eu não tinha direito a ser feliz?...

Fui imperfeito, sim! A imperfeição é humana...
Porém, não fui um mau. E esta tortura
Que a minha vida lentamente insana
É a paga de um mal que nunca fiz.

Mas sou feliz nesta infelicidade,
Pois, no pranto que verto, agora, triste
Pranto de dor e de saudade
De desespero e magno tormento,
Neste pranto tão claro não existe
Uma só gota de arrependimento!

04. Os sonetos

DUPLICIDADE

Minha linda boneca de pelúcia
Com sutis redondezas de mulher
Tens um nome romântico − Alba Mucia
E um perfume que canta − Chanteclair.

Roubaste às gatas a felina astúcia
Que alcança tudo quanto almeja e quer
Esse jeito de andar, essa fidúcia
E essas unhas de um jaspe rosicler.

À noite, quando sais do inexistente
E vens viver alucinadamente,
Entre um grande soluço e um grande beijo

Nas páginas do livro onde te lanço,
Sinto que és carne porque te desejo,
Sinto que és sonho porque não te alcanço.


O SUAVE ROMANCE DOS AUSENTES

A toda tarde o telefone chama
Para trazer a voz da que partiu...
(− Alô! −Meu bem! − Você, amor?...E a flama
do que passou se aviva pelo fio...

Tardes quentes de sol, tardes de frio,
De bruma, de invernadas... Ah! Quem ama
Não sente o tempo... E o lânguido cicio,
De cá pra lá, de lá pra cá, se trama...

Mas há uma sombra má sobre esse amor!
É que, por mais que o neguem, que o escondam
Ambos ficam a pensar, com medo e dor.

A cada ligação que se desfaz,
Ela, na tarde em que não mais respondam,
Ele, na tarde em que não chamem mais.

A BERLINDA

Tu te lembras, meu bem, daquela noite linda,
Em que nós dois, na infância descuidada,
Brincávamos, rindo, em gargalhada,
Nesse belo brinquedo de berlinda?!

Pareço ouvir, perfeitamente, ainda,
A voz da tua irmã, que fora sorteada,
Perguntar, sorridente, a turma alvorotada,
Porque motivo estavas na berlinda...

−’’Porque é bonita!” − disse alguém ao lado
−”É porque é boa e sem nenhum pecado!”
−”porque ela é feia...” −eu disse brincalhão.

Eu não sabia, então, doido menino,
Que a tua berlinda, por força do destino,
Seria dentro do meu coração!...


BIBLIOGRAFIA - TAVERNARD

ASAS DA PALAVRA – v.4, n.9, out.1998. Belém: UNAMA, 1998.
CHAVES. Maria Annunciada Ramos. Apresentação In: TAVERNARD. Antônio. Edição comemorativa do Cinqüentenário da morte do poeta. Vol. 1.
Poesia. Belém : Conselho Estadual de Cultura, 1986. p. 11-21.
COSTA, Ferreira. A Enciclopédia do Futebol Paraense. Belém : Smith, 2000.
GOMES, Álvaro Cardoso. A estética simbolista: textos doutrinários comentados. Org. Massaud Moisés. São Paulo Atlas, 1994.
LÖWY, Michael. Revolta e Melancolia: o romantismo na contramão da modernidade. Tra.: Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópolis: Vozes, 1995.
MEIRA, Cécil. Introdução ao Estudo da Literatura. 5ª ed. Belém: Imprensa Oficial do Estado, 1988.
O LIBERAL , Artigo, 04/05/1986, p. 20,21,22.
TAVERNARD. Antônio. Edição comemorativa do Cinqüentenário da morte do poeta. Vol. 1. Poesia. Belém : Conselho Estadual de Cultura, 1986.
VERLAINE, Paul. Poemas Saturnianos e Outros. Trad. Fernando Pinto do Amaral. Lisboa: Assírio e Alvim, 1994.



      

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O resto da salsugem – Paulo Plínio Abreu e os fragmentos de Orfeu


Paulo Plínio Abreu (Belém, PA, 1921-1959), tem apenas um livro, Poesia, publicado postumamente sob os cuidados do professor Francisco de Paulo Mendes, através da Universidade Federal do Pará, no ano de 1978, merecendo uma reedição mais cuidadosa em 2008.  

CRONOLOGIA

1921 - Nasce em Belém, a 19 de junho, Paulo Plínio Beker de Abreu, filho de Dilermando Cals de Abreu e Lídia Beker de Abreu.
1925 - Inicia seus estudos primários, em casa.
1930 – Obteve o certificado de Curso Primário no Grupo Escolar Floriano Peixoto, onde hoje funciona a Casa da Linguagem.
1933 – Estudos secundários no Colégio Paes de Carvalho.
1938 – Termina o curso de inglês no English College, tendo sido o orador da turma.
1939 – Conhece o prof. Francisco Paulo Mendes, no colégio Paes de Carvalho.
1940 – Matricula-se na Faculdade de Direito do Estado do Pará. Publica, na revista Novidade, seus primeiros poemas “Suicídio” e “A estranha Mensagem”. Na revista Terra Imatura aparece o poema “A Aventura”.
1941 – Admitido pelo Instituto Agronômico do Norte, onde exerceu funções como a de Bilbiotecário-Chefe, tradutor e Secretário de Diretoria.
1944 – Colou grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Pará.
1948 – Casou-se com Edith Correa de Paiva.
1949 – Nasce sua primeira filha, Ana Lúcia.
1950 – O suplemento “Arte-Literatura”, do jornal Folha do Norte, sob a direção de Haroldo Maranhão, publica um número especial, em 24 de dezembro, sobre poetas paraenses contemporâneos, onde se encontra uma nota sobre Paulo Plínio Abreu e alguns de seus poemas.
1952 – Aceito no Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará. Viagem ao Rio de Janeiro a fim de tratar da distribuição das publicações deste Instituto.
1954 – Nomeado para reger a disciplina Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belém.
1956 – Profere a aula inaugural do ano letivo na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belém.
1958 – Nasce Cristina, sua segunda filha. Designado para chefiar o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, da Universidade Federal do Pará, para o biênio 1958/1959.
1959 – Morre em 05 de setembro, em Belém, aos 38 anos, devido a uma nefrite crônica.

FONTE: Abreu, Paulo Plínio Beker de. Poesia. Apresentação:
Prof. Francisco Paulo Mendes. Belém: Ed. Da UFPA, 1978.

POEMAS DE PAULO PLÍNIO ABREU

1. 1 O tema  de Orfeu

ORFEU

Com palavras que hoje restam da infância
edificarei meu reino
e nele estrelas cairão de noite puras.
De corações mais puros
tombarão as águas em que os animais
virão matar a sede
e onde dois olhos, símbolos do amor,
o caminho indiquem para a salvação.
Com palavras inúteis e canções apenas
refaremos o mundo
o mundo sobre o qual
eterna como a rosa morta pela chuva
a poesia reine
e viva sobre a terra

O NÁUFRAGO TRAZIA UM PÁSSARO NO OMBRO

Sei que trazia um pássaro no ombro.
De um reino vinha carregado de sonhos
Na mão trazia as marcas da viagem
Ainda giravam em torno do seu corpo
os ventos do mar.
No olhar o horizonte carregado de bruma,
No ouvido o pio das gaivotas,
Trazia o mar no corpo,
As medusas do mar.
No peito trazia marcada em tatuagem
a palavra amor.
Vinha do mar e trazia um pássaro no ombro.


2. 2 O tema da viagem

             POEMA

Diante de tua beleza as coisas se apagaram.
És o golfo onde escondi meu barco doente
e a cripta onde deporei meus mortos.
Ave e orvalho, mulher e cornamusa.
Somos irmãos no mito
e eis que te refaço
com a seiva de meu ser.
De ti recolho este secreto espanto,
este secreto mel,
Em ti refaço a viagem não feita, o riso não rido e o amor
não amado.
És a beleza mesma adiada no tempo
E nos outros a necessidade de sua perfeição.

A AVENTURA

Eu te encontrei
como quem atravessa um corredor logo e janelas fechadas,
como quem vem para a manhã trazendo o sono enfermo das madrugadas.
Eu te encontrei
como quem saiu da noite e foi descalço até o mar para brincar nas pedras.
Como quem sob a chuva saiu para apanhar as açucenas,
e dormiu nas grandes folhas úmidas das árvores,
ou como quem, perdido nos caminhos, de súbito encontrou o mar.

03. O tema da rosa

FRAGMENTO

Na rosa de ontem
Vi o mistério do corpo
Fechado aos segredos da morte.
No efêmero eterno
Um dia concebido
Vibrante e inconstante
O segredo d estar em véspera de sono.
A delícia do amor
Jamais celebrada,
As mãos que se entregaram
As lembranças que vêm de longe
Frias como a noite.
O desejo que cresce mudo sem palavras.
As chaves do mundo
Para sempre perdidas.


04. A influência de Rilke

Quem agora chora em algum lugar no mundo
Sem razão chora no mundo,
Chora por mim.

Quem agora ri em algum lugar na noite
Sem razão ri dentro da noite,
Ri-se de mim.

Quem agora caminha em algum lugar no mundo,
Sem razão caminha no mundo,
Vem a mim.

Quem agora morre em algum lugar no mundo,
Sem razão morre no mundo,
Olha para mim

(Ernste Stunden Trad.: Paulo Plínio Abreu)


05. A “pátria metafísica”


ARTE POÉTICA

Para que falar das luas que murcharam
e dos brinquedos que roubados
foram como estrelas para o coração?
Hoje quero o frio da chuva para matar a sede
e a lua que tombou exausta no caminho.
Quero as estrelas amargas e os navios que morrem
como versos nascidos na luz das lamparinas.
Por que falar dos que foram
e desfrutar canções que adormeceram em nós?
Um dia vi num país estranho e imaginário
a sombra de um poema e nele me perdi.
No coração guardei o frio das igrejas
e o olhar do anjo.
Hoje estarei eternamente em ti anjo desesperado
elegia e sonho, mar e poesia
que para me salvar um dia imaginei.



A VIAGEM PARA O NOVO PAÍS

Voltaremos às tuas mãos um dia numa hora de absoluta
 liberdade
E a ti entregaremos até a roupa humilde e os sapatos úmidos
 de chuva
Sentiremos nisso a sedução estranha já experimentada em
 sentidos opostos.
Voltaremos às tuas mãos como se de repente numa noite
 fugíssemos sem destino.
Nesse retorno às tuas mãos conheceremos o impossível
 prazer do retorno às origens,
E sentiremos ao calor de teu fogo ao redor dos sonhos o calor
 de teus profundos olhos.
Um dia voltaremos às tuas mãos e nessa volta haverá o gosto das fugas e das evasões para nós mesmos
E poderemos caminhar como crianças sobre a relva fria
Diante dos ventos e das tempestades.


BIBLIOGRAFIA

ABREU, Paulo Plínio Becker. Poesia. Prefácio, notícias e notas de F. Paulo Mendes, Belém : UFPA, 1978.
______. Poesia. 2 ª Ed. Coleção Amazônica. Prefácio, notícias e notas de F. Paulo Mendes. Belém, PA : UFPA, 2008.
BAUMANN, Hans, BORATYNSKI, Antoni. Orfeu. Trad. Tatiana Belinky. São Paulo: Ática, 1990.
BERMUDES-CAÑETE, F. Rilke. Barcelona: Jucar, 1984.
BRANDÃO, Junito de Sousa. Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991.
COELHO, Marinilce Oliveira. O Grupo dos novos (1946-1952): memórias literárias de Belém do Pará. Belém : EDUFPA : UNAMAZ : 2005.
JOUVE, Vincent. A Leitura. Trad. Brigitte Hervor. São Paulo: UNESP, 2002.
O Olhar de Orfeu: mitos literários do ocidente. Org. Bernadette Bricout. Trad. Leila Oliveira Benoit. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
RILKE, Rainer Maria. Soneto a Orfeu; Elegias de Duíno. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1989.
______. Os cadernos de Malte Laurids Brigge. Trad.: Lya Luft. São Paulo: Mandarim, 1996.
______. Rainer Maria Rilke. Gesammelte Werke. Geneva: Eurobuch, 1998.
SCHÖNBERGER, Rolf. Mestre Eckhart - Pensamento interiorização do Uno In.: KOBUSCH, Theo. Filósofos da Idade Média, Uma Introdução. São Leopoldo: UNISINOS, 1999.


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O TEMPO DA CRIAÇÃO EM MÁRIO FAUSTINO.


           CRONOLOGIA BIBLIOGRÁFICA
Fonte: M. Paulo Nunes (UFPI)

1930 - Nasce em Teresina, a 22 de outubro, Mário Faustino dos Santos e Silva.
1940 - Transfere-se para Belém do Pará, onde passa a residir com os pais de sua madrinha.
1946 - Inicia o jornalismo no Jornal "A Província do Pará". Escreve editoriais, crônicas (artigos sobre literatura e cinema), traduz e reescreve telegramas nacionais e internacionais.
1947 - Colabora no Suplemento Literário do Jornal "A Folha do Norte" e edita seus primeiros poemas, além de contos e traduções.
1948 - conclui o curso clássico no Colégio Estadual Paes de Carvalho.
1949 - Transfere-se para o Jornal "A Folha do Norte".
1951 - Conquista em concurso internacional uma bolsa de estudos em língua e literatura inglesas, promovido pelo Institut of International Education dos Estados Unidos.
1955 - Publica o seu único livro de Poesias "O Homem e sua Hora".
1956 - Deixa Belém, transferindo-se definitivamente para o Rio de Janeiro. Inicia a 23 de setembro a publicação de uma página inteira, dedicada à poesia, denominada "Poesia-Experiência".
1959 - Ingressa definitivamente no corpo redacional do Jornal do Brasil e ocupa o cargo de confiança de Coordenador de Opiniões.
1960 - Nos Estados Unidos, trabalha no Departamento de Informações Públicas da ONU, em Nova Iorque.
1961 - Retorna ao Rio de Janeiro. Assume o cargo de Diretor Adjunto do Centro de Informações da ONU no Brasil.
1962 - No Jornal do Brasil, trabalha como Editorialista. Morre em acidente aéreo no Peru.

01.          O tempo como criação

SINTO QUE O MÊS PRESENTE ME ASSASSINA

Sinto que o mês presente me assassina,
As aves atuais nasceram mudas
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre homens nus ao sol de luas curvas,
Sinto que o mês presente me assassina,
Corro despido atrás de um cristo preso,
Cavalheiro gentil que me abomina
E atrai-me ao despudor da luz esquerda
Ao beco de agonia onde me espreita
A morte espacial que me ilumina.
Sinto que o mês presente me assassina
E o temporal ladrão rouba-me as fêmeas
De apóstolos marujos que me arrastam
Ao longo da corrente onde blasfemas
Gaivotas provam peixes de milagre.
Sinto que o mês presente me assassina,
Há luto nas rosáceas desta aurora,
Há sinos de ironia em cada hora
(Na libra escorpiões pesam-se a sina)

Há panos de imprimir a dura face
À força de suor, de sangue e chaga.
Sinto que o mês presente me assassina,
Os derradeiros astros nascem tortos
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre o morto que enterra os próprios mortos
O tempo na verdade tem domínio,
E ri do que desfere verbos, dardos
De falso eterno que retornam para
Assassinar-nos num mês assassino.

PREFÁCIO

Quem fez esta manhã, quem penetrou
À noite os labirintos do tesouro,
Quem fez esta manhã predestinou
Seus temas a paráfrases do touro,
A traduções do cisne: fê-la para
Abandonar-se a mitos essenciais,
Desflorada por ímpetos de rara
Metamorfose alada, onde jamais
Se exaure o deus que muda, que transvive.
Quem fez esta manhã fê-la por ser
Um raio a fecundá-la, não por lívida
Ausência sem pecado e fê-la ter
Em si princípio e fim: ter entre aurora
E meio-dia um homem e sua hora.

LEGENDA

No princípio
Houve treva bastante para o espírito
Mover-se livremente à flor do sol
Oculto em pleno dia.
No princípio
Houve silêncio até para escutar-se
O germinar atroz de uma desgraça
Maquinada no horror do meio-dia.
E havia, no princípio,
Tão vegetal quietude, tão severa
Que se entendia a queda de uma lágrima
Das frondes dos heróis de cada dia.

Havia então mais sombra em nossa via.
Menos fragor na farsa da agonia
Mais êxtase no mito da alegria.
Agora o bandoleiro brada e atira
Jorros de luz na fuga de meu dia -
E mudo sou para cantar-te, amigo,
O reino, a lenda, a glória desse dia.


O HOMEM E SUA HORA

   Et in saecula saeculorum: mas
Que século, este século – que ano
Mais-que-bissexto, este –
                                          Ai, estações –
Esta estação não é das chuvas, quando
Os frutos se preparam, nem das secas,
Quando os pomos preclaros se oferecem.
(Nem podemos chamá-la primavera,
Verão, outono, inverno, coisas que
Profundamente, Herói, desconhecemos....)
Esta é outra estação, é quando os frutos
Apodrecem e com eles quem os come.
Eis a quinta estação, quando um mês tomba,
O décimo-terceiro, o Mais-que-Agosto,
Como este dia é mais que sexta-feira
E a hora mais do que Sexta e roxa.
                                                         Aqui,
..................................................................
(O homem e sua hora, p. 106.)


02. “O Barroco é nosso único estilo”

ESTAVA LÁ AQUILES, QUE ABRAÇAVA

Estava lá Aquiles, que abraçava
Enfim Heitor, secreto personagem
Do sonho que na tenda o torturava;
Estava lá Saul, tendo por pajem
Davi, que ao som da cítara cantava;
E estavam lá seteiros que pensavam
Sebastião e as chagas que o mataram.
Nesse jardim, quantos as mãos deixavam
Levar aos lábios que os atraiçoaram!
Era a cidade exata, aberta, clara:
Estava lá o arcanjo incendiado
Sentado aos pés de quem desafiara;
E estava lá um deus crucificado
Beijando uma vez mais o enforcado.


03. O romancero via García Lorca.

ROMANCE SONÂMBULO
GARCÍA LORCA
            
                          A Gloria Giner e Fernando de los Rios

Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra na cintura
ela sonha em seu balcão,
verde carne, pêlo verde,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas a estão mirando
e ela não pode mirá-las.

*
Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha,
vêm com o peixe de sombra
que abre o caminho da alva.
Seu vento esfrega  a figueira
com a lixa de seus ramos,
e o monte, gato-ladrão,
eriça suas pitas ácidas.
Mas quem virá? E por onde...?
No seu balcão inda está,
Verde carne, pêlo verde
Sonhando com o mar amargo.



ROMANCE
Mário Faustino

Para as Festas da Agonia
Vi-te chegar, como havia
Sonhado já que chegasses:
Vinha teu vulto tão belo
Em teu cavalo amarelo,
Anjo meu, que, se me amasses,
Em teu cavalo eu partira
Sem saudade, pena, ou ira;
Teu cavalo, que amarraras
Ao tronco de minha glória
E pastava-me a memória,
Feno de ouro, gramas raras.
Era tão cálido o peito
Angélico, onde meu leito
Me deixaste então fazer,
Que pude esquecer a cor
Dos olhos da Vida e a dor
Que o Sono vinha trazer.
Tão celeste foi a Festa,
Tão fino o Anjo, e a Besta
Onde montei tão serena,
Que posso, Damas, dizer-vos
E a vós, Senhores, tão servos
De outra Festa mais terrena -

Não morri de mala sorte
Morri de amor pela Morte



BIBLIOGRAFIA – MÁRIO FAUSTINO

ASAS DA PALAVRA – revista da graduação em Letras. Belém: Unama, v. 7, n. 16, 2003.
CAPELÃO, André. Tratado do Amor Cortês.  Trad. por: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo : Martins Fontes. 2000.
CHAVES, Albeniza de Carvalho. Tradição e Modernidade em Mário Faustino. Belém : Universidade Federal do Pará, 1986.
EULÁLIO, Carlos E. M. Mário Faustino: Literatura Piauiense em Curso. Teresina : Corisco, 2000.
FAUSTINO, Mário. Artesanatos de Poesia: fontes e correntes da poesia ocidental. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
______. De Anchieta aos Concretos. Org. de Maria Eugênia Boaventura. São Paulo : Companhia das letras, 2003.
______. O Homem e Sua Hora e outros poemas. Org. de Maria Eugênia Boaventura. São Paulo : Companhia das letras, 2002.
______. Evolução da Poesia Brasileira. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1993.
______. Poesia de Mário Faustino. Introdução de Benedito Nunes. Rio : Civilização Brasileira,1966.
JARDÍN DE AMADORES. Org. Barbara J. Mortenson. (Romanceros artísticos) 1580-1650; vol. 1. Critical edition based primarily on Jardín de amadores published 1611 in Barcelona. New York :  Edwin Mellen, 1998.
LORCA, Federico García. Pranto por Ignacio Sânchez Mejías. Trad. Kuiz Roberto Bernati e Therezinha Gomes Garcia Langlada. São Paulo: Flumebn, s.d.
______. Romancero Gitano e outros poemas. Trad. e nota introd. de Oscar Mendes, com 8 desenhos originais do autor. Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1973.
______. Antologia Poética. Trad. por: José Bento. Lisboa: Relógio d’água, 1993.
______. Conferências. Trad. por. : Marcus Mota. Brasília: Editora Universidade de Brasília : São Paulo : Imprensa Oficial do Estado, 2000.
MEYER, Marlyse. Literatura Comparada: A Literatura de Cordel. São Paulo : Abril, 1980.
NUNES, Benedito. A Obra Poética e a Crítica de Mário Faustino. Belém : Conselho Estadual de Cultura do Pará, 1986.
PRAT, Angel Valbuena. Literatura Castellana. Los Grupos Geográficos y la unidad Literária. Vol I. Barcelona : Juventud, 1974.
ZUMTHOR, Paul. A Letra e a Voz: A "Literatura" Medieval. Trad. Por.: Amálio Pinheiro, Jerusa Pires Ferreira. São Paulo : Companhia das Letras, 1993.
______. Performance, recepção, leitura. Trad. por.: Jerusa Pires Ferreira, Suely Fenerich. São Paulo : EDUC, 2000.
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MAX MARTINS
(1926-2009)

                                               
Ir
Ter onde   Isto
é aconselhável    diz
o Velho Rei
                      e ri


Obras publicadas:

O ESTRANHO (1952)
ANTI-RETRATO (1960)
H’ERA (1971)
O OVO FILOSÓFICO (1976)
O RISCO SUBSCRITO (1980)
A FALA ENTRE PARÊNTESIS (com Age de Carvalho, à moda da renga, 1982)
CAMINHO DE MARAHU (1983)
60/35 (1985)
MARAHU POEMAS inéditos (1991)
PARA TER ONDE IR (1992)
COLMANDO A LACUNA (2001)
O CADAFALSO (2002)

Lao-Tsé: “Palavras confiáveis não são belas, palavras belas não são confiáveis”.

O Resto são as palavras
(O Risco Subscrito, 1980)

Fora com esse mar
                                - Tu és um verso
Apenas
              Cego e invertebrado
                                                Sonho
De alvaiada máscaras
E nada mais

Ou menos: Laudas em vão
Em gretas
Esse mar de lá
                         De lápide

Que sabes tu senão da geografia
(magra até aos ossos)
Do deserto? Aqui todo recomeço
E fim de tua viagem
                                 Pioneiro e prisioneiro
Do teu próprio rastro
Atrás da máscara
Não há rosto – há palavras
                                            Larvas de nada

TÚMULO DE CARMENCITA

 Do livro 60/35

a relva
é ainda       verde
a relva     é verde
                  ainda – é só rever
                                   ter        o verde
                                               nesta ilha
                                               revivendo           aqui
                        verde
                     na terra                                       ainda
é este
o lugar
             de haver
             e
atar                                                       o ver
de ser

virgem     a relva     és                       (admiragem)


Para sempre a terra
(Do livro “O Risco Subscrito”, 1980)

Agora eu vou ao mar
‒ Ao Grande Banho   dizia eu nos crepitosos dias da juventude
                                        quando
per verso
                 o mar
com sua folia de refolhos
                                         doidivino
                              vinha
                                      à minha porta
Vinha e ficava
Caçando-me os olhos com seu brilho
                                                             lábia e vinhos
e levantando as asas
exibia o sexo: sua frase envidraçada
a dolorida espuma
                               escandescendo as grades
do segredo
                   Do degredo
                                      Desta fala
E o mar pavoneando-se amargo-mágico adivinhava a página
Que ele lambia
                       e bafejava
                                         de sonho e de ARREPIOS
Que ele lambia
E bafejava
                     De sonhos e de arrepios
Que ele escrevia
                    Aos lances
Que ele cobria
Depois
O mar se nauseou    E esvaziou-me de sua máscara
                                          De heresia
                                                            Da maresia
                                                                     ... e escriturei um rio  
O rio que ele esqueceu atrás da porta
E era o meu nome
                               o último
                                               e se perdeu


Por fim
restou-me um rastro
áspero na pele
                         E para sempre a terra
Neste vaso: vasa
                             (do mar)
                                           Que navegar
                                                                 vogar
                                                         negou-me a língua
                                         morta

                                                         à minha porta

Não
(Max Martins, Colmando a Lacuna, 2001)

Resultado de exames.
Pedaços de cartas.
Postais do Age.
Não quero escrever hoje.
Quero ficar á sombra dos meus livros.
Na cabana.


No fedor deste poema a dor
(H’era, 1971)

No fedor deste poema a dor
Há muito foi-se embora. A dor
Já não vigora.

E seus micróbios.

Tudo partiu: o que era amor
Em feto se pariu,
Da  Ferida separou-se
E fez-se seta desferida,
                                         Alucinada
Virgem passada a sabre no poema.
Tanto tentei: mensagens e recados
À amada Marieta dos meus anos mais.
E as pontes que lancei, bandeiras
As gaivotas, telegramas
Do meu sexo a todos os planetas.

Resta agora o cancro e suas raízes, pasto
Dos ratos
Que devoram todas as madrugadas, o osso,
E até o poeta, este
Toma um trem e vai-se embora.

À merda o paraíso, ó pátria amada
                                                  Toma
O meu testículo-testamento este poema
De urina e ácido apagado tudo,
O sol e outros astros.

Depois do natal

Não planto mais em platibandas o meu canto
Agora com o sol posto
Na janela-espelho
                            Arco
                                Voltado para mim
                                                              Mais nada

O que eu quero é a paz
Para esta tarde sobre
                                   O vômito das marés O sangue
                                   Embriagando-se em seus canais
Não a paz das asas e dos bicos
Mas a dos bichos
Postos em fogo para a sua fome
                                                       A calma
Fatal das mães postas nos ferros do olhar
                                                                      O olho
Exposto do sexo quando os séculos
Se abriram e conceberam o Grito

(Antes teu ventre era uma só noite entre muralhas
Aquém da paz, do sêmen e do poema)



Noite

A borra com que me iludo e lido
(escuro barro-escudo)
é esta noite com que me cubro e volvo
à vulva mater, barco
com todas as suas velas sujas,
o sangue coagulando-se nos porões.


PAULO PLÍNIO ABREU E MAX MARTINS

ARTE POÉTICA

A luta do poeta não é
com o anjo
mas com o verbo,
que dissolve em poesia.

(Paulo Plínio Abreu)


Escrita

quem nos olha é só uma praia
quem nos ouve é só uma praia
quem nos é       é só uma praia

e a praia é um só ver desvendo
                                                         Verso deserto
o desouvido deus-ouvir

E somos só esta vã escrita
nosso riso-risco contra um espelho, praia
que nos inverte e desescreve
                                                    DissolVENDO-NOS
                            
                                                              (Max Martins)


PEDRAS DE TOQUE

“Minha vida
é como taça de cristal partida
em que beberam deuses e animais”

                             Antônio Tavernard – Prece de Natal.


“Com as palavras que hoje restam da infância
edificarei meu reino
e nele estrelas cairão de noites puras.
de corações mais puros
tombarão as águas em que os animais
virão matar a sede”

Paulo Plínio Abreu – Orfeu.

“Rapaz, em minhas mãos cheias de areia
Conto os astros que faltam ao horizonte
Da praia soluçante onde passeia
A espuma de teu fim, pranto sem fonte”

        Mário Faustino – Onde paira a canção recomeçada.


“Ou isto
(por aquilo
que vibrava
dentro do peito)
o coração na boca
atrás do vidro
a cavidade
o cavo amor roendo
o seu motor-rancor
- ruídos”

Max Martins – Isto por Aquilo



“Do mar e da salsugem da agonia
Dormia um redentor: e era bastante
Para acordá-lo o verso que bramia
No cérebro do atleta e lá morria”

Mário Faustino - Agonistes


“recolho o que perderam
as aves no seu vôo,
o que os peixes trouxeram,
o que as águas à praia
lançaram inutilmente:
o resto da salsugem
dos mares apagados”

Paulo Plínio Abreu Envoi



“Nasci em frente ao mar.
Meu primeiro vagido
Misturou-se ao fragos do seu bramido.

Tenho a vida do mar!
Tenho a alma do mar!”

Antônio Taverdard – Similitudes.


“Não entenderás o meu dialeto
Nem compreenderás os meus costumes.
Mas ouvirei sempre tuas canções
E todas as noites procurarás meu corpo”

Max Martins – O Estranho.


“Apanha estas palavras do chão túmido
Onde as deixo cair, findo o dilúvio:
Forma delas um palco, um absoluto,
Onde possa dançar de novo nu
Contra o peso do mundo e a pureza dos anjos,
Até que a lucidez venha a construir
Um tempo justo, exato, onde cantemos.”

                      Mário Faustino – Mensagem.


“Misteriosa rosa da paixão, não passarás
com o tempo
mas explicas porque o tempo é tão breve
e o amor é tão longo”

                 Paulo Plínio Abreu – Rosa que secretas o mundo.


“Ouve o esfrolar desta pena
sobre o papel a correr...
É a minha angústia que pena
cantando para esquecer”

                         Antônio Tavernard – Ouve!...

“O tempo decora o muro

O tempo decora o homem
Que colora o tempo
                      Descolora
Só o artista faz a Hora”

                           Max Martins - O Tempo e Homem.

“o desejo de celebrar a inutilidade
é o teu destino.”

Paulo Plínio Abreu – Passos que acordarão os amigos que morreram.


“de seu pranto nas águas do mar justo –
maravilha de estar assimilado
pelo vento repleto
e pelo mar completo – juventude –

a montante a maré apaga tudo –“
...
                             Mário Faustino

“quando
vieram uns anjos
de gravata e me disseram: Fora!”

Max Martins – Num Bar.



“Assim, da vida nas birfurcações,
os homens sofrem mil vacilações,
buscando qual a verdadeira estrada,

sem refletir que todos os caminhos
− sejam de rosas só, sejam de espinhos... −
conduzem sempre para o mesmo nada.”
                              
                              Antônio Tavernard – Loucura.


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