
Antônio Tavernard: o mais moço dos
poetas.
Cronologia
1908:
nasceu no dia 10 de outubro, no mês do Círio de Nazaré e por isso será batizado
com o nome de Antônio de Nazareth Frazão Tavernard, filho de Othílio Tavernard
e Marieta Frazão Tavernard, na outrora Vila Pinheiro, atual Icoaraci, distrito
de Belém,
1915:
inicia o curso primário no Externato Santa Mônica, pertencente à professora
Clarisse Proença, sendo aluno do professor João Pereira de Castro.
1917:
obtém o segundo lugar no Concurso de Contos Nacionais da Revista Primeira, da
qual se torna colaborador.
1919:
ingressa no ginásio Paes de Carvalho, onde, além de participar de vários
torneios esportivos, colabora com o jornalzinho escolar, o C. P.C.
1926:
ingressa na Faculdade Livre de Direito do Pará, em 24 de março. Não consegue
concluir o primeiro ano, vitimado pelo Mal de Hansen, seu tormento nos próximos
dez anos.
1926:
neste ano fatídico em sua biografia, devido ao contágio do Mal de Hansen, a
família manda construir o “Rancho Fundo”, pequeno chalé de madeira, a pedido do
próprio Tavernard, no quintal da casa, na rua Conselheiro Furtado.
1926:
Neste mesmo ano, sua produção literária se acentua. Colabora com jornais da
época, sendo redator –chefe da revista A Semana, nela publica poemas e
crônicas, usando o pseudônimo de “Frei Tuck”.
1930:
publica “Fêmea”, seu primeiro livro, um conjunto de contos, impresso nas
oficinas Gráficas do Instituto Lauro Sodré, em Belém. A ilustração da capa foi
feita por Roberto Reynoso.
1930:
ainda neste ano, publica, em parceira com Fernando de Castro, a comédia “A
menina dos 20.000”, e “A Casa da Viúva Costa”, “Seringadela”, “Que Tarde!” e
“Parati”.
1932:
Tavernard conhece Waldermar Henrique, mas nunca se viram pessoalmente, devido ao
isolamento do poeta no “Rancho Fundo”.
1936:
Morre aos 28 anos, no dia 02 de maio, vítima de um colapso cardíaco. É
sepultado no Cemitério de Santa Isabel
POEMAS DE ANTÔNIO TAVERNARD
01. A recepção de Paul Verlaine.
VERLAINESCO
Alma de lírio que o vento leve
Faz palpitar...
Branca, mais branca do que a neve...
Pura, mais pura do que o luar...
Alma de lírio, perfume e seda
Sob o mistério duma alameda,
Entre repuxos e rouxinóis...
Alma
brotada pelos acasos
Para a incerteza dos meus ocasos...
E vem comigo, com ela, a sós...
E vem conosco até que um beijo,
Ai de uma entrega, voz de um desejo,
Canta entre nós...
Então, a pulcra, perfume e seda
Torna ao mistério duma alameda,
Entre repuxos e rouxinóis...
Alma de lírio, enchendo vidas
De um misticismo de que faz rezar
De alma prostrada, de mãos erguidas,
Como se a tarde fosse um altar
Alma que esteve na rima louca
De algum poema de Mallarmé,
E foi sorriso de alguma boca
De princesinha Watieau-Lancrei
Sombra de sombra, fluido de fluido
Que algum descuido
Fez psiquê...
Aureola viva da primavera...
Alma de lírio.... Ah! quem me dera
Tê-la comigo neste abandono!...
Mas sou outono, mas sou outono...
E alma de lírio – ah! quem me dera!
Sonho ligeiro de um curto sono,
É primavera, é primavera...
2. A metapoesia e a metafísica.
MENTE, POETA
Mente, poeta! A vida apenas vale
Pela mentira que nos faz feliz.
Que nunca jamais teu verso cale
A mistificação
Ou a burla que desdiz
A dúvida infernal de um coração!
Mente, poeta, mente! Não existe
Isso a quem chamam de sinceridade.
Gargalha, se tua alma chora triste,
E, se vives em grande alacridade,
Põe soluços nos versos que escreveres.
Faze de engano a trama que teceres!
O poeta é uma aranha, e as emoções
Dos que o lêem, inseto multicores
Que se deixam ficar nas suas dores,
e alegria, na sua ventura ou pena,
pelo invisível fio das ilusões
que existem no aranhol de algum poema.
Mente! A mentira, qual couraça,
Abrouquela e defende o nosso sonho
Nesse combate hórrido e medonho
Que a existência é. Mente e, empós, passa!...
Hão de seguir-te bençãos e evoés!
O que ganhou Moisés
Em ser sincero? Morrer sem Canann
A verdade é malsã.
Lembra-te de Jesus!
Foi ela que o pregou naquela cruz.
Mente, poeta! Desfolha os malmequeres
Das estrofes falsas que criares
Sobre o colo de todas as mulheres
Que amares!
As mulheres, que são?
Uma linda mentira em encarnação.
Mente às tontas, a esmo...
A todos e a ti mesmo!...
Se és casto, louva o vício!
Se és bom, prega a maldade!
Se amas, nega o amor!
Egoísta, aconselha o sacrifício!
Mísero, canta a felicidade!
Feliz, descreve a dor!
Faze de engano a trama que teceres!
Que nunca a burla a tua lira cale,
Pois a verdade mais límpida não vale
Dos versos que escreveres!
ESFORÇO
VÃO
No
limiar da criação, fremefremindo
O
meu pensamento pára...É a hora maga...
Hora
fecunda, benéfica ou aziaga...:
A
idéia, lenta, pouco a pouco, vai surgindo,
Tímida,
arisca, vacilante, vaga...
Definida,
depois...Então, reunindo
Os
vocábulos vou para a ir vestindo
Com
a pompa lapidar da forma... chaga
De
luz é a inteligência nesse instante...
Dela
escorrem, qual sangue fulgurante,
As
frases tracejadas a correr...
Mas
o ponto final tomba gelado...
E
eu sinto, então, como um desencantado,
Toda
a inutilidade de escrever.
03. O tema da juventude.
CONSOLO
Acharam
muito que eu sorrisse tanto,
E
fizeram com que na minha boca
Morresse
o riso, e despontasse o pranto
Nos
meus olhos doloridos. Gente má!...
Que
mal lhes fez minha alegria louca,
Essa
alegria tão comum que há
Em
toda mocidade?... porventura
Eu
não tinha direito a ser feliz?...
Fui
imperfeito, sim! A imperfeição é humana...
Porém,
não fui um mau. E esta tortura
Que
a minha vida lentamente insana
É
a paga de um mal que nunca fiz.
Mas
sou feliz nesta infelicidade,
Pois,
no pranto que verto, agora, triste
Pranto
de dor e de saudade
De
desespero e magno tormento,
Neste
pranto tão claro não existe
Uma
só gota de arrependimento!
04.
Os sonetos
DUPLICIDADE
Minha
linda boneca de pelúcia
Com
sutis redondezas de mulher
Tens
um nome romântico − Alba Mucia
E
um perfume que canta − Chanteclair.
Roubaste
às gatas a felina astúcia
Que
alcança tudo quanto almeja e quer
Esse
jeito de andar, essa fidúcia
E
essas unhas de um jaspe rosicler.
À
noite, quando sais do inexistente
E
vens viver alucinadamente,
Entre
um grande soluço e um grande beijo
Nas
páginas do livro onde te lanço,
Sinto
que és carne porque te desejo,
Sinto
que és sonho porque não te alcanço.
O
SUAVE ROMANCE DOS AUSENTES
A
toda tarde o telefone chama
Para
trazer a voz da que partiu...
(−
Alô! −Meu bem! − Você, amor?...E a flama
do
que passou se aviva pelo fio...
Tardes
quentes de sol, tardes de frio,
De
bruma, de invernadas... Ah! Quem ama
Não
sente o tempo... E o lânguido cicio,
De
cá pra lá, de lá pra cá, se trama...
Mas
há uma sombra má sobre esse amor!
É
que, por mais que o neguem, que o escondam
Ambos
ficam a pensar, com medo e dor.
A
cada ligação que se desfaz,
Ela,
na tarde em que não mais respondam,
Ele,
na tarde em que não chamem mais.
A
BERLINDA
Tu
te lembras, meu bem, daquela noite linda,
Em
que nós dois, na infância descuidada,
Brincávamos,
rindo, em gargalhada,
Nesse
belo brinquedo de berlinda?!
Pareço
ouvir, perfeitamente, ainda,
A
voz da tua irmã, que fora sorteada,
Perguntar,
sorridente, a turma alvorotada,
Porque
motivo estavas na berlinda...
−’’Porque
é bonita!” − disse alguém ao lado
−”É
porque é boa e sem nenhum pecado!”
−”porque
ela é feia...” −eu disse brincalhão.
Eu
não sabia, então, doido menino,
Que
a tua berlinda, por força do destino,
Seria
dentro do meu coração!...
BIBLIOGRAFIA -
TAVERNARD
ASAS DA PALAVRA –
v.4, n.9, out.1998. Belém: UNAMA, 1998.
CHAVES. Maria
Annunciada Ramos. Apresentação In: TAVERNARD. Antônio. Edição comemorativa do Cinqüentenário da morte do poeta. Vol. 1.
Poesia. Belém :
Conselho Estadual de Cultura, 1986. p. 11-21.
COSTA, Ferreira. A Enciclopédia do Futebol Paraense.
Belém : Smith, 2000.
GOMES, Álvaro
Cardoso. A estética simbolista: textos
doutrinários comentados. Org. Massaud Moisés. São Paulo Atlas, 1994.
LÖWY, Michael. Revolta e Melancolia: o romantismo na
contramão da modernidade. Tra.: Guilherme João de Freitas Teixeira.
Petrópolis: Vozes, 1995.
MEIRA, Cécil. Introdução ao Estudo da Literatura. 5ª
ed. Belém: Imprensa Oficial do Estado, 1988.
O LIBERAL ,
Artigo, 04/05/1986, p. 20,21,22.
TAVERNARD.
Antônio. Edição comemorativa do
Cinqüentenário da morte do poeta. Vol. 1. Poesia. Belém : Conselho Estadual
de Cultura, 1986.
VERLAINE, Paul. Poemas Saturnianos e Outros. Trad.
Fernando Pinto do Amaral. Lisboa: Assírio e Alvim, 1994.

“O
resto da salsugem – Paulo Plínio Abreu e os fragmentos de Orfeu”
Paulo
Plínio Abreu (Belém, PA, 1921-1959), tem apenas um livro, Poesia, publicado
postumamente sob os cuidados do professor Francisco de Paulo Mendes, através da
Universidade Federal do Pará, no ano de 1978, merecendo uma reedição mais
cuidadosa em 2008.
CRONOLOGIA
1921 - Nasce em Belém,
a 19 de junho, Paulo Plínio Beker de Abreu, filho de Dilermando Cals de Abreu e
Lídia Beker de Abreu.
1925 - Inicia seus
estudos primários, em casa.
1930 – Obteve o
certificado de Curso Primário no Grupo Escolar Floriano Peixoto, onde hoje
funciona a Casa da Linguagem.
1933 – Estudos
secundários no Colégio Paes de Carvalho.
1938 – Termina o curso
de inglês no English College, tendo sido o orador da turma.
1939 – Conhece o prof.
Francisco Paulo Mendes, no colégio Paes de Carvalho.
1940 – Matricula-se na
Faculdade de Direito do Estado do Pará. Publica, na revista Novidade, seus
primeiros poemas “Suicídio” e “A estranha Mensagem”. Na revista Terra Imatura
aparece o poema “A Aventura”.
1941 – Admitido pelo
Instituto Agronômico do Norte, onde exerceu funções como a de
Bilbiotecário-Chefe, tradutor e Secretário de Diretoria.
1944 – Colou grau de
bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Pará.
1948 – Casou-se com
Edith Correa de Paiva.
1949 – Nasce sua
primeira filha, Ana Lúcia.
1950 – O suplemento
“Arte-Literatura”, do jornal Folha do Norte, sob a direção de Haroldo Maranhão,
publica um número especial, em 24 de dezembro, sobre poetas paraenses
contemporâneos, onde se encontra uma nota sobre Paulo Plínio Abreu e alguns de
seus poemas.
1952 – Aceito no
Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará. Viagem ao Rio de Janeiro a fim
de tratar da distribuição das publicações deste Instituto.
1954 – Nomeado para reger
a disciplina Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Belém.
1956 – Profere a aula
inaugural do ano letivo na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belém.
1958
– Nasce Cristina, sua segunda filha. Designado para chefiar o Departamento de
Letras Clássicas e Vernáculas, da Universidade Federal do Pará, para o biênio
1958/1959.
1959 – Morre em 05 de
setembro, em Belém, aos 38 anos, devido a uma nefrite crônica.
FONTE: Abreu, Paulo
Plínio Beker de. Poesia.
Apresentação:
Prof. Francisco Paulo
Mendes. Belém: Ed. Da UFPA, 1978.
POEMAS DE PAULO PLÍNIO
ABREU
1. 1 O tema de Orfeu
ORFEU
Com
palavras que hoje restam da infância
edificarei
meu reino
e
nele estrelas cairão de noite puras.
De
corações mais puros
tombarão
as águas em que os animais
virão
matar a sede
e
onde dois olhos, símbolos do amor,
o
caminho indiquem para a salvação.
Com
palavras inúteis e canções apenas
refaremos
o mundo
o
mundo sobre o qual
eterna
como a rosa morta pela chuva
a
poesia reine
e
viva sobre a terra
O NÁUFRAGO TRAZIA UM PÁSSARO NO OMBRO
Sei
que trazia um pássaro no ombro.
De
um reino vinha carregado de sonhos
Na
mão trazia as marcas da viagem
Ainda
giravam em torno do seu corpo
os
ventos do mar.
No
olhar o horizonte carregado de bruma,
No
ouvido o pio das gaivotas,
Trazia
o mar no corpo,
As
medusas do mar.
No
peito trazia marcada em tatuagem
a
palavra amor.
Vinha
do mar e trazia um pássaro no ombro.
2. 2 O tema da viagem
POEMA
Diante
de tua beleza as coisas se apagaram.
És
o golfo onde escondi meu barco doente
e
a cripta onde deporei meus mortos.
Ave
e orvalho, mulher e cornamusa.
Somos
irmãos no mito
e
eis que te refaço
com
a seiva de meu ser.
De
ti recolho este secreto espanto,
este
secreto mel,
Em
ti refaço a viagem não feita, o riso não rido e o amor
não
amado.
És
a beleza mesma adiada no tempo
E
nos outros a necessidade de sua perfeição.
A AVENTURA
Eu
te encontrei
como
quem atravessa um corredor logo e janelas fechadas,
como
quem vem para a manhã trazendo o sono enfermo das madrugadas.
Eu
te encontrei
como
quem saiu da noite e foi descalço até o mar para brincar nas pedras.
Como
quem sob a chuva saiu para apanhar as açucenas,
e
dormiu nas grandes folhas úmidas das árvores,
ou
como quem, perdido nos caminhos, de súbito encontrou o mar.
03. O tema da rosa
FRAGMENTO
Na
rosa de ontem
Vi
o mistério do corpo
Fechado
aos segredos da morte.
No
efêmero eterno
Um
dia concebido
Vibrante
e inconstante
O
segredo d estar em véspera de sono.
A
delícia do amor
Jamais
celebrada,
As
mãos que se entregaram
As
lembranças que vêm de longe
Frias
como a noite.
O
desejo que cresce mudo sem palavras.
As
chaves do mundo
Para
sempre perdidas.
04.
A influência de Rilke
Quem
agora chora em algum lugar no mundo
Sem
razão chora no mundo,
Chora
por mim.
Quem
agora ri em algum lugar na noite
Sem
razão ri dentro da noite,
Ri-se
de mim.
Quem
agora caminha em algum lugar no mundo,
Sem
razão caminha no mundo,
Vem
a mim.
Quem
agora morre em algum lugar no mundo,
Sem
razão morre no mundo,
Olha
para mim
(Ernste Stunden Trad.: Paulo Plínio Abreu)
05. A “pátria metafísica”
ARTE POÉTICA
Para que falar das luas
que murcharam
e dos brinquedos que
roubados
foram como estrelas
para o coração?
Hoje quero o frio da
chuva para matar a sede
e a lua que tombou exausta
no caminho.
Quero as estrelas
amargas e os navios que morrem
como versos nascidos na
luz das lamparinas.
Por que falar dos que
foram
e desfrutar canções que
adormeceram em nós?
Um dia vi num país
estranho e imaginário
a sombra de um poema e
nele me perdi.
No coração guardei o
frio das igrejas
e o olhar do anjo.
Hoje estarei
eternamente em ti anjo desesperado
elegia e sonho, mar e
poesia
que para me salvar um
dia imaginei.
A VIAGEM PARA O NOVO
PAÍS
Voltaremos às tuas mãos
um dia numa hora de absoluta
liberdade
E a ti entregaremos até
a roupa humilde e os sapatos úmidos
de chuva
Sentiremos nisso a
sedução estranha já experimentada em
sentidos opostos.
Voltaremos às tuas mãos
como se de repente numa noite
fugíssemos sem destino.
Nesse retorno às tuas
mãos conheceremos o impossível
prazer do retorno às origens,
E sentiremos ao calor
de teu fogo ao redor dos sonhos o calor
de teus profundos olhos.
Um dia voltaremos às
tuas mãos e nessa volta haverá o gosto das fugas e das evasões para nós mesmos
E poderemos caminhar
como crianças sobre a relva fria
Diante dos ventos e das
tempestades.
BIBLIOGRAFIA
ABREU,
Paulo Plínio Becker. Poesia. Prefácio,
notícias e notas de F. Paulo Mendes, Belém : UFPA, 1978.
______.
Poesia. 2 ª Ed. Coleção Amazônica. Prefácio, notícias e notas de F. Paulo
Mendes. Belém, PA : UFPA, 2008.
BAUMANN, Hans, BORATYNSKI, Antoni. Orfeu. Trad.
Tatiana Belinky. São Paulo: Ática, 1990.
BERMUDES-CAÑETE, F. Rilke. Barcelona: Jucar, 1984.
BRANDÃO, Junito
de Sousa. Dicionário mítico-etimológico
da mitologia grega. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991.
COELHO, Marinilce
Oliveira. O Grupo dos novos (1946-1952):
memórias literárias de Belém do Pará. Belém : EDUFPA : UNAMAZ : 2005.
JOUVE, Vincent. A Leitura. Trad. Brigitte Hervor. São
Paulo: UNESP, 2002.
O Olhar de Orfeu: mitos literários do ocidente.
Org. Bernadette Bricout. Trad. Leila Oliveira Benoit. São Paulo: Companhia das
Letras, 2003.
RILKE, Rainer
Maria. Soneto a Orfeu; Elegias de Duíno.
Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1989.
______. Os cadernos de Malte Laurids Brigge.
Trad.: Lya Luft. São Paulo: Mandarim, 1996.
______. Rainer Maria Rilke. Gesammelte Werke. Geneva:
Eurobuch, 1998.
SCHÖNBERGER,
Rolf. Mestre Eckhart - Pensamento interiorização do Uno In.: KOBUSCH, Theo. Filósofos da Idade Média, Uma Introdução.
São Leopoldo: UNISINOS, 1999.


O
TEMPO DA CRIAÇÃO EM MÁRIO FAUSTINO.
CRONOLOGIA
BIBLIOGRÁFICA
Fonte: M. Paulo Nunes (UFPI)
Fonte: M. Paulo Nunes (UFPI)
1930 - Nasce em Teresina, a 22 de outubro, Mário
Faustino dos Santos e Silva.
1940 - Transfere-se para Belém do Pará, onde passa a
residir com os pais de sua madrinha.
1946 - Inicia o jornalismo no Jornal "A
Província do Pará". Escreve editoriais, crônicas (artigos sobre literatura
e cinema), traduz e reescreve telegramas nacionais e internacionais.
1947 - Colabora no Suplemento Literário do Jornal
"A Folha do Norte" e edita seus primeiros poemas, além de contos e
traduções.
1948 - conclui o curso clássico no Colégio Estadual
Paes de Carvalho.
1949 - Transfere-se para o Jornal "A Folha do
Norte".
1951 - Conquista em concurso internacional uma bolsa
de estudos em língua e literatura inglesas, promovido pelo Institut of
International Education dos Estados Unidos.
1955 - Publica o seu único livro de Poesias "O
Homem e sua Hora".
1956 - Deixa Belém, transferindo-se definitivamente
para o Rio de Janeiro. Inicia a 23 de setembro a publicação de uma página
inteira, dedicada à poesia, denominada "Poesia-Experiência".
1959 - Ingressa definitivamente no corpo redacional
do Jornal do Brasil e ocupa o cargo de confiança de Coordenador de Opiniões.
1960 - Nos Estados Unidos, trabalha no Departamento
de Informações Públicas da ONU, em Nova Iorque.
1961 - Retorna ao Rio de Janeiro. Assume o cargo de
Diretor Adjunto do Centro de Informações da ONU no Brasil.
1962 - No Jornal do Brasil, trabalha como
Editorialista. Morre em acidente aéreo no Peru.
01.
O
tempo como criação
SINTO QUE
O MÊS PRESENTE ME ASSASSINA
Sinto que o mês presente me assassina,
As aves atuais nasceram mudas
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre homens nus ao sol de luas curvas,
Sinto que o mês presente me assassina,
Corro despido atrás de um cristo preso,
Cavalheiro gentil que me abomina
E atrai-me ao despudor da luz esquerda
Ao beco de agonia onde me espreita
A morte espacial que me ilumina.
Sinto que o mês presente me assassina
E o temporal ladrão rouba-me as fêmeas
De apóstolos marujos que me arrastam
Ao longo da corrente onde blasfemas
Gaivotas provam peixes de milagre.
Sinto que o mês presente me assassina,
Há luto nas rosáceas desta aurora,
Há sinos de ironia em cada hora
(Na libra escorpiões pesam-se a sina)
Há panos de imprimir a dura face
À força de suor, de sangue e chaga.
Sinto que o mês presente me assassina,
Os derradeiros astros nascem tortos
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre o morto que enterra os próprios mortos
O tempo na verdade tem domínio,
E ri do que desfere verbos, dardos
De falso eterno que retornam para
Assassinar-nos num mês assassino.
PREFÁCIO
Quem fez esta manhã, quem penetrou
À noite os labirintos do tesouro,
Quem fez esta manhã predestinou
Seus temas a paráfrases do touro,
A traduções do cisne: fê-la para
Abandonar-se a mitos essenciais,
Desflorada por ímpetos de rara
Metamorfose alada, onde jamais
Se exaure o deus que muda, que transvive.
Quem fez esta manhã fê-la por ser
Um raio a fecundá-la, não por lívida
Ausência sem pecado e fê-la ter
Em si princípio e fim: ter entre aurora
E meio-dia um homem e sua hora.
Quem fez esta manhã, quem penetrou
À noite os labirintos do tesouro,
Quem fez esta manhã predestinou
Seus temas a paráfrases do touro,
A traduções do cisne: fê-la para
Abandonar-se a mitos essenciais,
Desflorada por ímpetos de rara
Metamorfose alada, onde jamais
Se exaure o deus que muda, que transvive.
Quem fez esta manhã fê-la por ser
Um raio a fecundá-la, não por lívida
Ausência sem pecado e fê-la ter
Em si princípio e fim: ter entre aurora
E meio-dia um homem e sua hora.
LEGENDA
No princípio
Houve treva bastante para o espírito
Mover-se livremente à flor do sol
Oculto em pleno dia.
No princípio
Houve silêncio até para escutar-se
O germinar atroz de uma desgraça
Maquinada no horror do meio-dia.
E havia, no princípio,
Tão vegetal quietude, tão severa
Que se entendia a queda de uma lágrima
Das frondes dos heróis de cada dia.
Havia então mais sombra em nossa via.
Menos fragor na farsa da agonia
Mais êxtase no mito da alegria.
Agora o bandoleiro brada e atira
Jorros de luz na fuga de meu dia -
E mudo sou para cantar-te, amigo,
O reino, a lenda, a glória desse dia.
No princípio
Houve treva bastante para o espírito
Mover-se livremente à flor do sol
Oculto em pleno dia.
No princípio
Houve silêncio até para escutar-se
O germinar atroz de uma desgraça
Maquinada no horror do meio-dia.
E havia, no princípio,
Tão vegetal quietude, tão severa
Que se entendia a queda de uma lágrima
Das frondes dos heróis de cada dia.
Havia então mais sombra em nossa via.
Menos fragor na farsa da agonia
Mais êxtase no mito da alegria.
Agora o bandoleiro brada e atira
Jorros de luz na fuga de meu dia -
E mudo sou para cantar-te, amigo,
O reino, a lenda, a glória desse dia.
O HOMEM E SUA HORA
Et in saecula saeculorum: mas
Que século, este século
– que ano
Mais-que-bissexto, este
–
Ai,
estações –
Esta estação não é das
chuvas, quando
Os frutos se preparam,
nem das secas,
Quando os pomos
preclaros se oferecem.
(Nem podemos chamá-la
primavera,
Verão, outono, inverno,
coisas que
Profundamente, Herói,
desconhecemos....)
Esta é outra estação, é
quando os frutos
Apodrecem e com eles
quem os come.
Eis a quinta estação,
quando um mês tomba,
O décimo-terceiro, o
Mais-que-Agosto,
Como este dia é mais
que sexta-feira
E a hora mais do que
Sexta e roxa.
Aqui,
..................................................................
(O homem e sua hora, p.
106.)
02. “O Barroco é nosso único estilo”
ESTAVA LÁ AQUILES, QUE ABRAÇAVA
Estava lá Aquiles, que abraçava
Enfim Heitor, secreto personagem
Do sonho que na tenda o torturava;
Estava lá Saul, tendo por pajem
Davi, que ao som da cítara cantava;
E estavam lá seteiros que pensavam
Sebastião e as chagas que o mataram.
Nesse jardim, quantos as mãos deixavam
Levar aos lábios que os atraiçoaram!
Era a cidade exata, aberta, clara:
Estava lá o arcanjo incendiado
Sentado aos pés de quem desafiara;
E estava lá um deus crucificado
Beijando uma vez mais o enforcado.
03. O romancero
via García Lorca.
ROMANCE
SONÂMBULO
GARCÍA LORCA
A Gloria Giner e
Fernando de los Rios
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra na cintura
ela sonha em seu balcão,
verde carne, pêlo verde,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas a estão mirando
e ela não pode mirá-las.
*
Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha,
vêm com o peixe de sombra
que abre o caminho da alva.
Seu vento esfrega a figueira
com a lixa de seus ramos,
e o monte, gato-ladrão,
eriça suas pitas ácidas.
Mas quem virá? E por onde...?
No seu balcão inda está,
Verde carne, pêlo verde
Sonhando com o mar amargo.
ROMANCE
Mário Faustino
Para as Festas da Agonia
Vi-te chegar, como havia
Sonhado já que chegasses:
Vinha teu vulto tão belo
Em teu cavalo amarelo,
Anjo meu, que, se me amasses,
Em teu cavalo eu partira
Sem saudade, pena, ou ira;
Teu cavalo, que amarraras
Ao tronco de minha glória
E pastava-me a memória,
Feno de ouro, gramas raras.
Era tão cálido o peito
Angélico, onde meu leito
Me deixaste então fazer,
Que pude esquecer a cor
Dos olhos da Vida e a dor
Que o Sono vinha trazer.
Tão celeste foi a Festa,
Tão fino o Anjo, e a Besta
Onde montei tão serena,
Que posso, Damas, dizer-vos
E a vós, Senhores, tão servos
De outra Festa mais terrena -
Não morri de mala sorte
Morri de amor pela Morte
Para as Festas da Agonia
Vi-te chegar, como havia
Sonhado já que chegasses:
Vinha teu vulto tão belo
Em teu cavalo amarelo,
Anjo meu, que, se me amasses,
Em teu cavalo eu partira
Sem saudade, pena, ou ira;
Teu cavalo, que amarraras
Ao tronco de minha glória
E pastava-me a memória,
Feno de ouro, gramas raras.
Era tão cálido o peito
Angélico, onde meu leito
Me deixaste então fazer,
Que pude esquecer a cor
Dos olhos da Vida e a dor
Que o Sono vinha trazer.
Tão celeste foi a Festa,
Tão fino o Anjo, e a Besta
Onde montei tão serena,
Que posso, Damas, dizer-vos
E a vós, Senhores, tão servos
De outra Festa mais terrena -
Não morri de mala sorte
Morri de amor pela Morte
BIBLIOGRAFIA – MÁRIO
FAUSTINO
ASAS DA PALAVRA – revista da graduação
em Letras. Belém: Unama, v. 7, n. 16, 2003.
CAPELÃO,
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EULÁLIO,
Carlos E. M. Mário Faustino: Literatura
Piauiense em Curso. Teresina : Corisco, 2000.
FAUSTINO, Mário. Artesanatos de Poesia: fontes e correntes da poesia ocidental. São
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______.
De Anchieta aos Concretos.
Org. de Maria Eugênia Boaventura. São Paulo : Companhia das letras, 2003.
______. O Homem e Sua Hora e outros poemas. Org. de Maria Eugênia
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Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1993.
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Poesia de Mário Faustino. Introdução
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JARDÍN
DE AMADORES. Org. Barbara J. Mortenson. (Romanceros
artísticos) 1580-1650; vol. 1. Critical edition based primarily on Jardín de amadores
published 1611 in Barcelona. New
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Federico García. Pranto por Ignacio
Sânchez Mejías. Trad. Kuiz Roberto Bernati e Therezinha Gomes Garcia
Langlada. São Paulo: Flumebn, s.d.
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Romancero Gitano e outros poemas.
Trad. e nota introd. de Oscar Mendes, com 8 desenhos originais do autor. Rio de
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Mota. Brasília: Editora Universidade de Brasília : São Paulo : Imprensa Oficial
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Marlyse. Literatura Comparada: A
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Mário Faustino. Belém : Conselho Estadual de Cultura do Pará, 1986.
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Literária. Vol I. Barcelona
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Paul. A Letra e a Voz: A
"Literatura" Medieval. Trad. Por.: Amálio Pinheiro, Jerusa Pires
Ferreira. São Paulo : Companhia das Letras, 1993.
______.
Performance, recepção, leitura. Trad.
por.: Jerusa Pires Ferreira, Suely Fenerich. São Paulo : EDUC, 2000.
MAX MARTINS
(1926-2009)

Ir
Ter onde Isto
é aconselhável diz
o Velho Rei
e ri
Obras publicadas:
O ESTRANHO (1952)
ANTI-RETRATO (1960)
H’ERA (1971)
O OVO FILOSÓFICO (1976)
O RISCO SUBSCRITO (1980)
A FALA ENTRE PARÊNTESIS (com Age de
Carvalho, à moda da renga, 1982)
CAMINHO DE MARAHU (1983)
60/35 (1985)
MARAHU POEMAS inéditos (1991)
PARA TER ONDE IR (1992)
COLMANDO A LACUNA (2001)
O
CADAFALSO (2002)
Lao-Tsé: “Palavras
confiáveis não são belas, palavras belas não são confiáveis”.
O Resto
são as palavras
(O Risco Subscrito, 1980)
Fora com esse mar
- Tu és um
verso
Apenas
Cego e invertebrado
Sonho
De alvaiada máscaras
E nada mais
Ou menos: Laudas em vão
Em gretas
Esse mar de lá
De lápide
Que sabes tu senão da geografia
(magra até aos ossos)
Do deserto? Aqui todo recomeço
E fim de tua viagem
Pioneiro e prisioneiro
Do teu próprio rastro
Atrás da máscara
Não há rosto – há palavras
Larvas de nada
TÚMULO DE CARMENCITA
Do livro
60/35
a relva
é ainda
verde
a relva
é verde
ainda – é só rever
ter o verde
nesta ilha
revivendo aqui
verde
na terra ainda
é este
o lugar
de haver
e
atar
o ver
de ser
virgem
a relva és (admiragem)
Para
sempre a terra
(Do livro “O Risco Subscrito”, 1980)
Agora eu vou ao mar
‒ Ao Grande Banho dizia eu nos crepitosos dias da juventude
quando
per verso
o mar
com sua folia de refolhos
doidivino
vinha
à minha
porta
Vinha e ficava
Caçando-me os olhos com seu brilho
lábia e vinhos
e levantando as asas
exibia o sexo: sua frase envidraçada
a dolorida espuma
escandescendo as
grades
do segredo
Do degredo
Desta
fala
E o mar pavoneando-se amargo-mágico adivinhava
a página
Que ele lambia
e bafejava
de sonho e de
ARREPIOS
Que ele lambia
E bafejava
De sonhos e de arrepios
Que ele escrevia
Aos lances
Que ele cobria
Depois
O mar se nauseou E esvaziou-me de sua máscara
De
heresia
Da maresia
... e escriturei um rio
O rio que ele esqueceu atrás da porta
E era o meu nome
o último
e se perdeu
Por fim
restou-me um rastro
áspero na pele
E para sempre a terra
Neste vaso: vasa
(do mar)
Que
navegar
vogar
negou-me a língua
morta
à
minha porta
Não
(Max Martins, Colmando a Lacuna, 2001)
Resultado de exames.
Pedaços de cartas.
Postais do Age.
Não quero escrever hoje.
Quero ficar á sombra dos meus livros.
Na cabana.
No fedor
deste poema a dor
(H’era,
1971)
No fedor deste poema a dor
Há muito foi-se embora. A dor
Já não vigora.
E seus micróbios.
Tudo partiu: o que era amor
Em feto se pariu,
Da
Ferida separou-se
E fez-se seta desferida,
Alucinada
Virgem passada a sabre no poema.
Tanto tentei: mensagens e recados
À amada Marieta dos meus anos mais.
E as pontes que lancei, bandeiras
As gaivotas, telegramas
Do meu sexo a todos os planetas.
Resta agora o cancro e suas raízes, pasto
Dos ratos
Que devoram todas as madrugadas, o osso,
E até o poeta, este
Toma um trem e vai-se embora.
À merda o paraíso, ó pátria amada
Toma
O meu testículo-testamento este poema
De urina e ácido apagado tudo,
O sol e outros astros.
Depois do
natal
Não planto mais em platibandas o meu canto
Agora com o sol posto
Na janela-espelho
Arco
Voltado para
mim
Mais nada
O que eu quero é a paz
Para esta tarde sobre
O vômito das
marés O sangue
Embriagando-se em seus canais
Não a paz das asas e dos bicos
Mas a dos bichos
Postos em fogo para a sua fome
A calma
Fatal das mães postas nos ferros do olhar
O olho
Exposto do sexo quando os séculos
Se abriram e conceberam o Grito
(Antes teu ventre era uma só noite entre
muralhas
Aquém da paz, do sêmen e do poema)
Noite
A borra com que me iludo e lido
(escuro barro-escudo)
é esta noite com que me cubro e volvo
à vulva mater, barco
com todas as suas velas sujas,
o sangue coagulando-se nos porões.
PAULO PLÍNIO ABREU E MAX MARTINS
ARTE POÉTICA
A luta do poeta não é
com o anjo
mas com o verbo,
que dissolve em poesia.
(Paulo
Plínio Abreu)
Escrita
quem nos olha é só uma praia
quem nos ouve é só uma praia
quem nos é
é só uma praia
e a praia é um só ver desvendo
Verso deserto
o desouvido deus-ouvir
E somos só esta vã escrita
nosso riso-risco contra um espelho, praia
que nos inverte e desescreve
DissolVENDO-NOS
(Max Martins)
PEDRAS DE TOQUE
“Minha
vida
é
como taça de cristal partida
em
que beberam deuses e animais”
Antônio Tavernard – Prece de Natal.
“Com as palavras que hoje restam da infância
edificarei
meu reino
e
nele estrelas cairão de noites puras.
de
corações mais puros
tombarão
as águas em que os animais
virão
matar a sede”
Paulo Plínio Abreu – Orfeu.
“Rapaz,
em minhas mãos cheias de areia
Conto
os astros que faltam ao horizonte
Da
praia soluçante onde passeia
A
espuma de teu fim, pranto sem fonte”
Mário Faustino – Onde paira a canção recomeçada.
“Ou isto
(por aquilo
que vibrava
dentro do peito)
que vibrava
dentro do peito)
o coração na boca
atrás do vidro
a cavidade
atrás do vidro
a cavidade
o cavo amor roendo
o seu motor-rancor
o seu motor-rancor
- ruídos”
Max
Martins – Isto por Aquilo
“Do
mar e da salsugem da agonia
Dormia
um redentor: e era bastante
Para
acordá-lo o verso que bramia
No
cérebro do atleta e lá morria”
Mário
Faustino - Agonistes
“recolho o que perderam
as
aves no seu vôo,
o
que os peixes trouxeram,
o
que as águas à praia
lançaram
inutilmente:
o
resto da salsugem
dos
mares apagados”
Paulo
Plínio Abreu – Envoi
“Nasci
em frente ao mar.
Meu
primeiro vagido
Misturou-se
ao fragos do seu bramido.
Tenho
a vida do mar!
Tenho
a alma do mar!”
Antônio
Taverdard – Similitudes.
“Não
entenderás o meu dialeto
Nem
compreenderás os meus costumes.
Mas
ouvirei sempre tuas canções
E
todas as noites procurarás meu corpo”
Max
Martins – O Estranho.
“Apanha
estas palavras do chão túmido
Onde
as deixo cair, findo o dilúvio:
Forma
delas um palco, um absoluto,
Onde
possa dançar de novo nu
Contra
o peso do mundo e a pureza dos anjos,
Até
que a lucidez venha a construir
Um
tempo justo, exato, onde cantemos.”
Mário Faustino – Mensagem.
“Misteriosa
rosa da paixão, não passarás
com
o tempo
mas
explicas porque o tempo é tão breve
e
o amor é tão longo”
Paulo Plínio Abreu – Rosa que secretas o mundo.
“Ouve
o esfrolar desta pena
sobre
o papel a correr...
É
a minha angústia que pena
cantando
para esquecer”
Antônio Tavernard – Ouve!...
“O tempo decora o muro
O tempo decora o homem
Que colora o tempo
Descolora
Só o artista faz a Hora”
Max Martins - O Tempo e Homem.
“o
desejo de celebrar a inutilidade
é
o teu destino.”
Paulo
Plínio Abreu – Passos que acordarão os amigos
que morreram.
“de
seu pranto nas águas do mar justo –
maravilha
de estar assimilado
pelo
vento repleto
e
pelo mar completo – juventude –
a
montante a maré apaga tudo –“
...
Mário Faustino
“quando
vieram uns anjos
de gravata e me disseram: Fora!”
vieram uns anjos
de gravata e me disseram: Fora!”
Max Martins – Num Bar.
“Assim,
da vida nas birfurcações,
os
homens sofrem mil vacilações,
buscando
qual a verdadeira estrada,
sem
refletir que todos os caminhos
−
sejam de rosas só, sejam de espinhos... −
conduzem
sempre para o mesmo nada.”
Antônio Tavernard
– Loucura.
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