Neste trabalho, pretendemos elaborar uma aproximação entre a poesia de Antônio
Tavernard e de Paulo Plínio de Abreu, a partir da análise feita por Benilton Cruz em seu livro
Moços&Poestas.
De acordo com o autor, Vicente Salles, em um de seus textos premiados, refere-se a
Antônio Tavernard como um poeta “exilado” e “mártir”, constituído pela dor e pelo sofrimento.
Porém, ao contrário dessa visão, Benilton Cruz defende a ideia de que sua poesia está associada
à fase de juventude e, portanto, não é absorvida pela mística da dor e do sofrimento, mas se faz
notar por uma característica fundamental: a vivacidade.
A obra do poeta paraense é marcada por uma conduta paradoxal: mesmo quando atingido pelo tormento, assume seu lado de conciliação e de recondução: “O heroísmo de Tavernard é o de transformar a dor em alegria, o que só vem a comprovar que toda poesia não é sentimento, mas linguagem, o que conta não é o sofrimento, mas a experiência verbal” (CRUZ, 2016, p. 13). Para Cruz, Paulo Plínio de Abreu traz a natureza mística da palavra como aspecto central de sua obra. Para o poeta, o mito é o que permanece e a poesia corre o risco de se fragmentar. Não existe um mundo coeso e unificado e a poesia é o que resta de um todo dilacerado.
De forma periférica porém não menos importante, outro elemento característico que, ainda de acordo com Cruz, se faz presente em sua poesia é a composição em forma de elegia, poema lírico e triste que representa não somente a perda do amor e da pátria, mas a perda da palavra como referente substancial do mundo. Entre a poesia de Antônio Tavernard e a poesia de Paulo Plínio de Abreu cintilam semelhanças principalmente no que se refere ao trabalho com a linguagem.
De acordo com Benilton Cruz, para Tavernard, o que conta não é o sofrimento, mas a experiência verbal, a linguagem que é concebida através de dois pontos de contato. De um lado, suas experiências trágicas advindas de seu vivido, e, do outro lado, a alacridade. Em Paulo Plinio, a linguagem é reconhecida como instância incompleta e predestinada ao fracasso, à solidão e à morte. O sentido de perda, para o poeta, não está atrelado à perda de um amor ou da pátria, mas à perda da palavra como o referente substancial do mundo.
Outro elemento de confluência entre Antônio Tavernard e Paulo Plínio de Abreu é que, conforme Benilton Cruz, ambos se aproximam do mito de Orfeu e têm em comum a relação homem e natureza: “O orfismo, então reunia doutrinas e ensinamentos com o intuito de se encontrar uma unidade e resumia em três as suas práticas: a exigência de uma vida pura, a crença na imortalidade e a purificação espiritual constante a fim de assegurar a imortalidade”. (CRUZ, 2006, p. 45).
Na esteira reflexiva de Benilton Cruz parece haver ao menos um ponto de distanciamento entre as perspectivas apresentadas pelos dois poetas em questão. Objetivamente, podemos destacar a relação antagônica entre unidade e fragmentação. De acordo com o autor, Antônio Tavernard exibiria uma visão de mundo mais aglutinadora, enquanto que Paulo Plínio mostraria uma poesia menos agregadora e ciente da impossibilidade de haver unidade. Por fim, um último aspecto de aproximação entre os dois poetas paraenses, na visão de Cruz, é a metapoesia. Tavernard avança sobre uma ordem metafísica, questionadora do ser, relevando a árdua natureza que é a do trabalho reflexivo do seu ato verbal. Em Abreu, diante de sua postura metafísica, a arte se aproxima da filosofia. O poeta assinala um mundo destituído de unidade, restando à poesia, apenas um espaço de retiro e reflexão, mesmo em face ao dilaceramento.
Disciplina: Poética Contemporânea da Amazônia. Data: 24/10/2018. Docente: Benilton Lobato Cruz. Discente: Marléa de Nazaré Sobrinho Costa.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ABAETETUBA PROG. DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIDADES: TERRITÓRIOS E IDENTIDADES.

Antônio Tavernard (1908-1936)
Paulo Plínio Abreu (1921-1959)
A obra do poeta paraense é marcada por uma conduta paradoxal: mesmo quando atingido pelo tormento, assume seu lado de conciliação e de recondução: “O heroísmo de Tavernard é o de transformar a dor em alegria, o que só vem a comprovar que toda poesia não é sentimento, mas linguagem, o que conta não é o sofrimento, mas a experiência verbal” (CRUZ, 2016, p. 13). Para Cruz, Paulo Plínio de Abreu traz a natureza mística da palavra como aspecto central de sua obra. Para o poeta, o mito é o que permanece e a poesia corre o risco de se fragmentar. Não existe um mundo coeso e unificado e a poesia é o que resta de um todo dilacerado.
De forma periférica porém não menos importante, outro elemento característico que, ainda de acordo com Cruz, se faz presente em sua poesia é a composição em forma de elegia, poema lírico e triste que representa não somente a perda do amor e da pátria, mas a perda da palavra como referente substancial do mundo. Entre a poesia de Antônio Tavernard e a poesia de Paulo Plínio de Abreu cintilam semelhanças principalmente no que se refere ao trabalho com a linguagem.
De acordo com Benilton Cruz, para Tavernard, o que conta não é o sofrimento, mas a experiência verbal, a linguagem que é concebida através de dois pontos de contato. De um lado, suas experiências trágicas advindas de seu vivido, e, do outro lado, a alacridade. Em Paulo Plinio, a linguagem é reconhecida como instância incompleta e predestinada ao fracasso, à solidão e à morte. O sentido de perda, para o poeta, não está atrelado à perda de um amor ou da pátria, mas à perda da palavra como o referente substancial do mundo.
Outro elemento de confluência entre Antônio Tavernard e Paulo Plínio de Abreu é que, conforme Benilton Cruz, ambos se aproximam do mito de Orfeu e têm em comum a relação homem e natureza: “O orfismo, então reunia doutrinas e ensinamentos com o intuito de se encontrar uma unidade e resumia em três as suas práticas: a exigência de uma vida pura, a crença na imortalidade e a purificação espiritual constante a fim de assegurar a imortalidade”. (CRUZ, 2006, p. 45).
Na esteira reflexiva de Benilton Cruz parece haver ao menos um ponto de distanciamento entre as perspectivas apresentadas pelos dois poetas em questão. Objetivamente, podemos destacar a relação antagônica entre unidade e fragmentação. De acordo com o autor, Antônio Tavernard exibiria uma visão de mundo mais aglutinadora, enquanto que Paulo Plínio mostraria uma poesia menos agregadora e ciente da impossibilidade de haver unidade. Por fim, um último aspecto de aproximação entre os dois poetas paraenses, na visão de Cruz, é a metapoesia. Tavernard avança sobre uma ordem metafísica, questionadora do ser, relevando a árdua natureza que é a do trabalho reflexivo do seu ato verbal. Em Abreu, diante de sua postura metafísica, a arte se aproxima da filosofia. O poeta assinala um mundo destituído de unidade, restando à poesia, apenas um espaço de retiro e reflexão, mesmo em face ao dilaceramento.
Disciplina: Poética Contemporânea da Amazônia. Data: 24/10/2018. Docente: Benilton Lobato Cruz. Discente: Marléa de Nazaré Sobrinho Costa.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ABAETETUBA PROG. DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIDADES: TERRITÓRIOS E IDENTIDADES.

Antônio Tavernard (1908-1936)

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