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A BIBLIOTECA ALEMÃ DE MÁRIO DE ANDRADE

 Mário de Andrade, em uma das praias da Ilha do Mosqueiro, às proximidades de Belém do Pará, provavelmente na praia do Chapéu Virado. Dona Olívia Guedes Penteado alugou em 1927 um navio e levou uma comitiva de amigos, entre eles o escritor paulistano de Santos ao extremo Amazonas, na fronteira com o Peru.


                                                                                                                  Por Benilton Cruz


Preferi fazer uma pequena crônica das minhas idas ao acervo do IEL-USP, Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, do que arrolar a bibliografia alemã de Mário de Andrade, a que, supostamente, nos idos dos anos de 1920, servira de aprendizagem da língua alemã e o entendimento do escritor sobre o expressionismo. 

Rever essas publicações não foi apenas espanar a poeira do tempo, mas manusear uma biblioteca rara no Brasil e até mesmo para padrões alemães, por conta das censuras da época e de arquivos destruídos em um país que atravessou duas guerras mundiais. 

Faço meus agradecimentos à gentileza da dona Itália, a primeira pessoa que atendeu minhas solicitações, sempre me ponderando que as obras viriam “de três em três”, essas que, cuidadosamente, foram folheadas, lidas e fotografadas digitalmente para posterior investigação mais atenta, como vou fazer abaixo:

Encontrei a antologia Menschheitsdämmerung “Crepúsculo da Humanidade”, editada por Kurt Pinthus, na movimentada Berlin de 1920, e em suas 317 páginas amareladas há uma boa quantidade de poemas com palavras sublinhadas a lápis e traduzidas na lateral da página. Logo de cara, o poema mais famoso do expressionismo alemão, o “Fim do Mundo”, de Jakob van Hoddis, é o primeiro a encabeçar os poemas da famosa antologia. O livro traz um selo azul ovalado no centro da página de rosto com as seguintes informações: “Deutsches Buch – Curt Hahmann – São Paulo – und Kunsthandlung”, provavelmente o livreiro distribuidor de obras em alemão na Pauliceia.

Na antologia, chama-nos a atenção pela quantidade de palavras pinçadas do alemão: observações feitas a lápis: um traço para baixo, para o lado ou para cima e o livro vai quase todo riscado e traduzido. Muitos estão marcados vários “X” logo após o título, indicando, talvez, uma preferência acentuada por aquele poema. 

Como se trata de uma antologia, lembraremos alguns nomes que foram mais estudados por Mário na referida edição: Jakob van Hoddis, Wilhelm Klemm, Johannes R. Becher, Alfred Lichtenstein, Theodor Däubler, Gottfried Benn, Albert Ehrenstein, August Stramm, Alfred Wolfenstein, Georg Trakl, Kurt Heynicke, Franz Werfel, Walter Hasenclever, Wilhelm Klemm, Else Lasker-Schüler, René Schickele, Ernst Wilhelm Lotz, Ernst Stadler, Iwan Goll, Ludwig Rubiner e Rudolf Leonhard.

Para quem já leu o romance Amar, verbo intransitivo, nos parece que a atenção à prosa poética de Ludwig Rubiner servirá de inspiração para Mário de Andrade. O poema “Der Mensch” (O Homem), cuja forma livre e sem enumeração ou divisões, em parágrafos curtos, como versículos whitmanianos, lembra o texto do primeiro romance de Mário. Franz Werfel é outro poeta que parece ter sido bem assimilado no poema “An den Leser” (Ao leitor); Johannes R. Becher, de um “utopismo revolucionário[1]”, segundo João Barrento, com o poema “Berlin” foram seis estrofes traduzidas literalmente nas páginas onde se encontra na antologia, as estrofes restantes ficaram sem nenhum rabisco, o que prova a atividade de leitura tem lá seus mecanismos pessoais de escolha e motivação. 

Os poemas que têm versos livres parecem ter a predileção do leitor-tradutor Mário de Andrade, tanto que Georg Heym não teve nenhum de seus poemas rabiscados, o que não quer dizer que não foram lidos. O que se percebe é que Mário teve uma leitura criteriosa e ao traduzir muitos termos desconhecidos do alemão fez da leitura quase uma tradução de muitos poemas da antologia. Há a regularidade que parece ter sido o mesmo lápis usado para anotar as traduções sobre as palavras chamadas com um risco, o que parece provar que se encontrava com regularidade, em um determinado momento, para estudar a língua alemã.

August Stramm é um dos mais anotados, junto com Georg Trakl, Else Lasker-Schüler, Iwan Goll, e Ernst Stadler, e muitos poemas de onde surge a referência a “Bruder” (irmão) como no longo poema de Rudolf Leonhard “Prolog zu Jeder Kommenden Revolution” (Prólogo a toda Revolução), além da retomada de temas da cultura israelita como no poema “Mein Grab ist keine Pyramide” (Meu túmulo não é uma pirâmide) de Theodor Däubler. Outra edição verificada na biblioteca IEB-USP foi Das Himmliche Licht (Luz celestial) de Ludwig Rubiner, poemas em prosa, editada em Munique em 1920. Trata-se de uma segunda edição com 47 páginas, não traz nenhum rabisco de Mário de Andrade. Rubiner é o poeta do verso prosaico, versos longos da forma livre, sem métricas ou rimas, mas de admiráveis assonâncias como as dos simbolistas.

Do escritor Kasimir Edschmid, o livro “Timur”, romance publicado pela editora de Kurt Wolf, em 1916, em Leipzig, com 223 páginas. Impresso em caracteres góticos com o texto bem centrado na página, o livro tem poucas anotações de Mário de Andrade. Na terceira parte do romance há mais anotações, palavras e frase traduzidas, e Mário usa uma ordenação por números das palavras traduzidas. Chama a atenção que o estilo de Edschmid é o uso de reticências e de travessões que também serão freqüentes no Amar, verbo intransitivo. Também de Edschmid, Die Doppelköpfige Nymphe (A ninfa de duas cabeças), com o subtítulo “Aufsätze über die Literatur und die Gegenwart” (artigos sobre literatura e contemporaneidade), editado por Paul Cassirer, em Berlin, em 1920.

A obra mais antiga em alemão da sua biblioteca é o “Idyllen” de Salomon Gessner, exemplar número 286, de uma tiragem de 600, da editora Eigenbrödler de Berlin, de 1756.  Exemplar com capa dura em excelente estado de conservação. Não tem nada anotado. Traz onze gravuras do próprio Salomon Gessener e doze belíssimas estampas, bem finas, em cobre feitas por Daniel Chodowiecki. Tem um prólogo “An den Leser” (Ao leitor) no qual Gessner clama pelo modelo de Teócrito, mas ressalta da falsa galanteria do seu tempo, seguindo a linha do estilo rococó na literatura. O romance nomeia as musas: Daphne, Milon, Chloe, Idas, Mycon, Mirtil, Lycas, Amyntas, Damon, Phillis, Palemon, Menalkas e Aeschines, Tityrus. A narrativa se estrutura como um diálogo entre as personagens míticas como romance de fundo moral.

O livro “Vor der Entscheidung” (Diante da decisão), um poema dramático de Fritz Von Unruh também integra o acervo da biblioteca de Mário de Andrade. Foi publicado em 1919 pela editora Erich Reiss, de Berlim. Em caracteres góticos, não há nenhuma anotação a lápis ou a caneta. A coleção Deutsche Dichtung der Renaissance und des Barock, manual de ciências literárias (Literaturwissenschaft) é de 1927, impresso em Leipzig. Capa dura com vários encartes sobre o tema instigante da poesia desde o Renascimento até o barroco. Não tem anotações e nem traduções a lápis ou à caneta. Segue esta mesma coleção, a “Deutsche Dichtung Von Gottsched bis zur Gegenwart” (Poesia alemã de Gottsched ao contemporâneo), organizada pelo professor Oskar Walzel, da universidade de Bonn, também não tem nenhuma anotação a lápis ou à caneta, o mesmo se aplica para a edição do Livro II, Klassizismus und nachklassische Dichtung (Classicismo e poesia pós-classicista), de 1930. Talvez esta coleção seja o quadro mais completo da literatura alemã até então, publicada em fascículos.

Das Buch der Lieder, o livro da canção, de Heine, especificamente o Lyrisches Intermezzo, composto entre 1822 e 1823, parece ter sido o mais lido e estudado por Mário de Andrade. Também o capítulo “Die Heimkehr” (O retorno ao lar) tem muitas anotações a lápis. A edição que consta no arquivo é Heine’s Buch der Lieder. Outro livro de Heine é “Gedichte”, de 1909, uma edição popular, a Wiesbadener Volsksbücher nº 126, bastante debilitada (embrulhada com uma fita branca para não se despedaçar). Todo ele em caracteres góticos traz apenas duas estrofes dos belos poemas do “Lieder” com anotações a lápis. Com certeza, o aproveitamento de Heine em Amar, verbo intransitivo se dá pelo caráter didático de suas canções, linguagem popular, fácil memorização e temas românticos, exatamente como ensina a professora Elza ao aluado Carlos, o menino da mansão de Higienópolis.

A bela edição do livro “Das neue Gedicht” (Novos poemas) de Johannes R. Becher, seleta de poemas escritos entre 1912 e 1918, não apresenta nenhuma anotação a lápis ou a caneta. A edição com certeza não passou em branco na leitura, mesmo que superficial desta obra. Foi editada pela Insel, de Leipzig, em 1918. A primeira página está solta, trata-se de uma nota editorial informando que o livro fora censurado. Sua publicação fora interrompida ainda em 1917 por conta dos andamentos da guerra. Neste livro está o famoso poema “Der Dichter meidet strahlende Akkorde” (O poeta evita acordes radiosos). Impressiona o clamor pela humanidade neste livro, o clamor pelo novo mundo. 

Nele também aparece o poema-homenagem a Georg Trakl, o “Der Entfernte. Georg Trakl”, Becher derrama seus versos, nesse poema, como se o poeta austríaco esquivasse a clamar o grito expressionista...”Er geht durch Wälder. Lautlos unbewegt./Wo gar kein Raum ist in der Luft zum Schreien…” (Ele caminha pelas florestas/ sem estardalho, silencioso/ Onde não há quase espaço no ar para gritar...). Finaliza o autor com o capítulo Die Schlacht, um texto em prosa poética semelhante à de Rubiner.

De Jakob van Hoddis, Der Rote Hahn, caderno com vinte e sete poemas, com capa vermelha, editado por Franz Pfemfert, da revista semanal Die Aktion, em Berlin-Wilmersdorf, em 1918, para o poema “Weltende” fim de mundo há a nota de rodapé mal redigida pelo editor: “Este poema do genial Jakob van Hoddis conduz, em janeiro de 1911, a Aktionslyrik, a agora chamada lírica ‘expressionista’. Sem Jakob van Hoddis seria nosso Alfred Lichtenstein, seria impensável a maioria dos poetas progressistas[2]”. O poeta encabeça todas as antologias representativas do expressionismo. Talvez seja pelo fato de ser mestre na lida com as formas metrificadas e as livres. Ou ter sido sempre lembrado pelo fato da loucura ter-lhe batido à porta ainda muito jovem e ter seu destino selado em uma câmara de gás em um campo de concentração.

 A obra Die Dichtungen, “Poemas”, de Georg Trakl, sem data de publicação, é a primeira edição reunida de seus poemas, trazida a publico pela editora Kurt Wolff, de Leipzig não traz nenhuma anotação a lápis ou a caneta, apenas um adesivo com o nome “Mário de Andrade” e as cifras “A II L 57”, tratando-se um tipo de organização bibliográfica, um código particular elaborado pelo próprio Mário de Andrade, catalogação esta que irá aparecer em quase todos os livros pesquisados. Mais um austríaco foi encontrado, a novela Morir de Arthur Schnitzler, na “Traducción directa del aleman por Alberto de Flos”, publicada em Madri pela editora Biblioteca nueva.

Vários são os livros de Fritz von Unruh nesta biblioteca de Mário. O “Opfergang”, edição alemã de 1925 pela Frankfurter Societäts-Druckerei, também não tem nenhuma anotação a lápis ou à caneta. Abre-se o livro com a nota da primeira publicação no verão de 1916 e sua censura até o inverno de 1918. Naturalmente que um livro escrito nos campos de Verdum, nos primeiros meses de 1916, em plena guerra, deixaria o alto comando alemão em alerta. O livro não deixa de ser um quadro de como se dava a hierarquia de comando no exército alemão.

Ainda de Fritz von Unruh consta o “Flügel der Nike, Buch einer Reise”, “Asas de Nike, livro de uma viagem”, escrito no outono de 1924 e editado em 1925 pela Frankfurter Societäts-Druckrei de Frankfurt. A viagem inicia-se de trem sobre as pontes do Meno, “die Mainbrück” e relata o entusiasmo de uma viagem pela França, neste ponto, coincide com o romance Amar, verbo intransitivo, que na parte final da obra se dá uma viagem de trem com os Sousa Costa ao Rio de Janeiro. Ainda de Fritz von Unruh, o livro Reden, “Discursos”, publicado em 1924 pela Frankfurter Societäts-Druckerei de Frankfurt. 

O livro na primeira página anuncia em caixa alta, como um verdadeiro grito: “DEN ENTSCHLOSSENEN KÄMPFERN/ UM DIE DEUTSCHE REPUBLIK UND DEN FRIEDEN DER MENSCHHEIT”. É dedicado aos sem nomes e à memória de Walther Rathenau, especificando o dia 23 de junho de 1923. Todo o livro clama por liberdade, aliás, para o escritor, liberdade é verdade: “Freiheit ist Wahrheit!”. O tom de exclamação domina o livro cuja forma prosaica vai lembrar em muito o texto imperativo de Amar, verbo intransitivo.

De Else Lasker-Schüler, a poeta que teria inspirado o nome da protagonista Elza no romance de Mário, consta no arquivo IEB-USP o livro Der Malik, eine Kaisergeschichte mit Zilbern und Zeichnungen, editado em Berlin, em 1919, por Paul Cassirer. Traz o selo da distribuidora de Curt Hahmann, de São Paulo. A observação da tiragem é que apenas cem exemplares enumerados foram publicados, como uma evidente preciosidade. Está escrito em caracteres góticos, e até a página 19 do livro há anotações de traduções feitas a lápis. 

São várias cartas escritas pela bela poeta ao “Blauer Reiter” Franz Marc. Diz em um trecho bastante assinalado a lápis: “Mein blauer Reiter, ich möchte eine Brüde finden, darüber eine Seele zu meiner käme, so ganz unverhofft. Eine Seele so ganz allein ist doch was Schrekliches!!![3]”. Em algumas passagens Else Lasker-Schüler diz que Franz Marc fora, no passado, o pintor “Ruben” e ela teria sido “José”, um encontro bíblico, para ela que também teria sido rei em Tebas, teria sido Malik. Otto Maria Carpeuax (1994), assim como tantos outros críticos, irá reconhecê-la como musa dos expressionistas, tal é a escassez de mulheres na linha de frente, não só do expressionismo, mas da poesia alemã.

Encontrei dois livros de Schiller, a primeira parte da obra completa editada provavelmente em 1902, exatamente a que possui Os Salteadores, peça teatral citada em Amar, verbo intransitivo. Trata-se da Schillers Werke. Band 1. Gedichte. Der Geisterfehler. Die Räuber, editado em Leipzig pela Von Ulbrecht Geemann, obra significativa com 506 páginas. O outro livro do missivista de Marbach é Dom Carlos de 95 páginas, exemplar sem página de rosto e capas, com textos em português e em italiano.

Existem algumas publicações em francês, como uma por ocasião do centenário da morte de Goethe, trazendo dois desenhos inéditos do autor homenageado, o livro “Sur Goethe”. São depoimentos de vários autores, colhidos em Frankfurt, entre eles Paul Valéry e Thomas Mann. Não há nenhuma anotação a lápis ou a caneta. Ainda em francês L’ami du monde do original alemãoDer Weltfreund”, primeiro livro de Franz Werfel, de 1911, de sugestivo nome, de evidente teor fraternal, do poeta alemão, tem a tradução para o francês assinada por L. Charles-Baudouin, com gravuras de Frans Masereel, editado pela Librairie Stock, de Paris, em 1924. Integra a “Coleção Poesia do tempo”, e parece que o apelo humanitário foi ouvido pelo editor que lança na primeira página uma nota explicando que se trata de uma edição original envolvendo poemas de vários países, entre eles a Alemanha.

O livro não apresenta nenhuma anotação a lápis ou a caneta. O primeiro poema é o “Au lecteur” (An die Leser): “Mon Seul voeu, Homme, c’est d’être parent à toi:/ Que tu sois nègre ou acrobate, que tu reposes/encore dans la profonde garde maternelle...”. O conhecido poema de Werfel não deve ter soado estranho para Mário de Andrade que com certeza lera o livro. Ao final do livro, um conjunto de poemas em prosa poética. Tais poemas lembram os versos longos do poeta americano Walt Whitman, e se irmana com o estilo de Rubiner. Essas leituras podem ter corroborado a idéia de uma libertação formal da prosa. Em Werfel, assim como em Mário de Andrade há esse parentesco: ambos manejam os gêneros da poesia com desenvoltura, além de estarem ambos em um evidente exercício das formas literárias. Werfel assim como Mário elaboram um soneto decassílabo, e logo depois são capazes de escrever um poema prosaico livre com extrema competência.

Ainda em francês, o Panorama de La Littérature Allemande Contemporaine, organizado por Félix Bertaux, editado em Paris pela KRA, em 1928. Não tem anotações. Consta um exemplar na biblioteca de Mário de Andrade. O “livro II”, desta mesma edição, dedica um capítulo a Gerhart Hauptmann como “Les drames de la nostalgie”. Aborda aspectos de uma influência de Freud e atina para a temática da melancolia que não se ajusta com o pessimismo.

Sobre Frank Wedekind há o rótulo de “Le drame de l’anti-bourgeois”. Reforça o ataque à educação na obra Frühlingserwachen, de 1891, que evoca um adolescente “que tourmente um rêve sensuel et opaque étranglée par lês péres et lês maîtres entêtés à imposer ‘une discipline de fer, des príncipes, une contrainte morale” (p.98-99).  Wedekind parece lidar com aquele autor a centralizar a relação moral e sexualidade. Mais adiante, Hoffmansthal é tido, neste estudo, como poeta da “L’esthétique du symbole”. Arthur Schnitzler, por sua vez, de quem o leitmotiv seria o erotismo, é avaliado sob uma fusão do sensual e do metafísico. Destaca a obra o lirismo órfico de Rilke. De Stefan George, um individualismo aristocrático. Os romancistas Heinrich Mann e Thomas Mann são catalogados como “Roman social er Roman du moi artiste”. O livro III aborda a transição das gerações do impressionismo para a expressionista e avalia a contribuição das revistas alemãs na difusão do novo estilo. Associa a Metamorfose de Kafka às temáticas de Hoffmann. Werfel e Edschmid são bem citados principalmente em relação à tradição do Sturm und Drang.

No heroico português, o livrinho “Os Poetas do Lar”, editado em 1899 pela imprensa da universidade de Coimbra. Reúne algumas da mais conhecidas lendas e baladas alemãs em verso. Trata, rudimentarmente, de um cancioneiro com pretensões populares. Foi traduzido por Cypriano Jardim, do original “Stiemen der Valkierin Liedern”, canção que teria sido compilada por Herder. Lá estão os poetas: Freiligrath, Heinrich Heine, Wilhelm Müller, Lenau, Hebel, Chamisso, Schiller, e Goethe.

         Ufa, não foi fácil, mas foi prazeroso - uma sorte minha, como professor de alemão e pesquisador do modernismo, ter vindo da Amazônia a fim de conhecer um escritor que fez da nossa região um emblema de sua modernidade, porém antes disso, Mário de Andrade foi e é um universal-brasileiro, cheio de ideias e de livros - uma biblioteca rara até para os padrões alemães, afinal, como falamos no início, a censura nazista e a posterior destruição do país de Goethe e Schiller quase que inviabilizaram um acervo como o do Mário de Andrade.
 
               Ainda bem que a sua biblioteca estava no Brasil.



[1] João BARRENTO (1975). Expressionismo alemão, p. 20.
[2] “Dieses Gedicht des genialen Jakob van Hoddis leitet, im Januar 1911, die AKTIONSLYRIC ein, die jetzt das Schlagwort ‘expressiosnistische’ Lyric nemmt. Ohne Jakob van Hoddis wäre unser Alfred Lichtenstein, wären die meinsten ‘fortschritlichen’ Lyriker undenkbar.”
[3] Else LASKER-SCHÜLER. (1919). Der Malik, p. 12 “Meu cavaleiro azul, eu gostaria de achar um irmão, pelo qual uma alma viria, assim inesperada. Uma alma solitária é algo terrível”.

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