Há algum tempo atrás, quando tudo já era como é hoje, vivia debaixo d’água um rei sapo que tinha sete filhos. Todos eram muito bonitos e bastante verdes, porém o menor deles era o mais verde, tão verde que ninguém ainda conseguiu ver coisa mais verde ou esverdeada sobre a terra. Esse filho tinha, então, uma bola dourada, feita com ouro do sol, com a qual ele brincava todo dia, e nada mais do que isso era o seu fazer. Esse era o seu brinquedo favorito.
Ele embaixo d’água jogava a bola para cima, nadava atrás dela, agarrava-a e trazia a bola para o fundo. Jogava-a de novo para o alto e a segurava. Ele não fazia outra coisa senão isso e assim ele foi se havendo com tal habilidade nessa brincadeira que ele deixava subir a bola dourada cada vez mais alto para conseguir apanhá-la mais adiante quando o espaço entre a superfície da água e a bola era só de um décimo de milímetro.
Pois, se a bola fosse jogada fora da água, ela assim vagaria no ar. É claro. Perder-se-ia para sempre. E foi isso mesmo que aconteceu um dia.
Ele a perdeu, ela escapou da água e fugiu pelo ar.
O príncipe sapo nadou até a superfície e chorou e coaxou, pois ele não podia voar.
Aí, uma senhorita estava por lá junto à margem, uma donzela, uma moça, uma pessoa que lhe pergunta:
“Por que choras, príncipe sapo, e coaxas assim, diga-me?”
“Eu não posso chorar”, gritou o sapo, “minha bola dourada me escapou. Eu daria tudo para tê-la novamente comigo!”
“Tudo?”, perguntou a moça, “até tu mesmo, teu corpo e tua vida?”
“Tudo!”, replicou o príncipe sapo, pois a conversa já lhe parecia absurda e não tinha mais sentido. Pois o que significa: corpo e vida e tu mesmo?
“E tu casarias comigo?”
“Eu casaria contigo”, disse o príncipe sapo, “porém te apressa e apanhe a bola, pois tu também não consegues voar”.
Isso ele pôde dizer, pois ele havia pensado: como ela pode ser minha esposa, ela é imensa e muito gorda, nós não combinamos. E provavelmente ela também não consegue mergulhar.
“E eu poderia comer em teu pratinho dourado? E dormir em teu quartinho?”
“Simsimsim”, disse o sapo, “pois te apressa, senão a bola vai fugir”.
Então, a menina saltou um pouquinho no ar e alcançou a bola no último segundo.
Assim que o príncipe teve a bolinha nas suas mãos de sapo, disse alguma gracinha e mergulhou ao fundo.
Na certa ela havia pensado, a moça com certeza não saberia mergulhar, e com isso ele escaparia da sua promessa.
Porém, ela soube mergulhar.
Ela pulou com seu vestido e tudo e gritou atrás dele.
“Espera aí”, meu querido, eu mal posso te alcançar!”
O príncipe sapo nadava tão depressa com suas barbatanas para o palácio de seu pai. Ele bateu à porta atrás dele e ficou quieto diante de seu pai, o rei sapo, direito e discreto, pois o rei sapo era muito severo quanto às promessas.
De repente, alguém lá fora bateu na janela. “Quem é? Quem bate aí?, meu filho”, perguntou o pai. “Eu não conheço”, diz o príncipe, “Não sei. Não tenho a menor ideia.”
“Uma menina.” Replicou o rei sapo, pois ele pôde ver a moça pela vidraça. “É para ti? Tu fizeste com que ela se apaixonasse por ti?”
“Nãonãosim”, disse o príncipe, já disse que não”.
“Aha!”, exclamou o rei sapo, “prometeste a ela até casamento?”
“Humsim”, disse o príncipe e se pôs a rastejar debaixo da cadeira.
“Pois traga a moça para dentro e cumpra a tua promessa, pois a palavra de um sapo é a palavra de um nobre sobre a vida e morte.”
“Mas nós não damos certo, pai” replicou o príncipe sapo, “Ela é muito gorda. Enorme. Nada com ela não é como deveria ser.” − “Não interessa!”, exclamou o rei sapo. “Palavra é palavra e vale para sempre.”
Então o príncipe sapo abriu a janela e tentou puxar a moça para dentro. Porém ela era tão gorda, que ele até pensou, que assim ele manteria somente para si a promessa.
“Vá nadar lá fora”, ordenou o rei sapo. “E faça, o que tu prometeste!”
Então, o filho do rei sapo saiu a nadar, pegou a moça pela mão e nadou com ela pelo fundo do lago. Lá, acreditou que ela não poderia se manter por muito tempo, pois uma pessoa não é um sapo, e ela se afogaria. Então, ele acreditou que assim fugiria da sua promessa.
Porém, lá ela se sentiu muito bem, e ela falou:
“Tu não me prometeste que eu poderia comer no teu pratinho dourado?”
Então, o filho do rei sapo nadou de lá e apanhou seu pratinho. Trouxe com ele comida de sapo, minhocas, pois ele pensara, assim ela ia ficar com uma barriga verde, e com isso ele iria manter somente para si o prometido. Mas ela comera as minhocas com apetite.
“Tu gostas disso?”, perguntou o príncipe.
“Se gostas disso, meu querido, então eu também devo gostar.”
Aí, depois da refeição ela disse:
“E agora quero dormir no teu quartinho.”
Porém o quarto do filho do rei sapo era muito pequeno para uma pessoa, que era um pouco gorda, e o príncipe novamente pensou, lá ela vai se sufocar. E assim ele manteria somente para si o prometido.
Então, ele a trouxe pela mão e nadou com ela de volta ao palácio de seu pai. Ele a empurrou com força para o seu quarto e fechou atrás dela o capô, então, ele pensou até amanhã por si mesmo estaria resolvido.
Entretanto, quando ele retornou na manhã seguinte e abriu o capô, ela nadou feliz e despreocupada ao encontro dele.
“Dormiste bem?”, perguntou irado o filho do rei sapo.
Ela respondeu:
“Se é o teu quartinho e lá tu também dormes bem, então lá também eu devo dormir sempre bem, meu amado.”
Então, o filho do rei sapo tentou jogá-la contra a parede. Mas, ela era muito pesada. Por fim ele a agarrou e a engasgou com uma gravata, pois desse modo nenhuma pessoa poderia se manter debaixo d’água, e assim, ele pensou que ele manteria somente para si o prometido.
E ele percebeu, como ela ficou leve e mais leve. Quando no rosto dela ele olhava, ela se transformava de uma moça feia em uma bela e esverdeada rã princesa. Bela e tão verde que ninguém jamais viu coisa igual.
E quando o filho do rei sapo com sua noiva se dirigiu ao velho rei sapo, para lhe mostrar que ele pagou por sua promessa, disse o rei sapo:
“Veja, veja meu jovem”:
as rigorosas palavras do pai
são uma grande felicidade para toda criança.”
“Sim”, respondeu o filho do rei, e então o pai mandou atrelar os quatro mais velozes cavalos-sapos no barco de listas douradas, e o cocheiro Henrique trouxe-os para a ilha que tinha uma ponte para se tomar banho.
A caminho, eles ouviram um estampido e batidas. Foi quando o barco se partiu em dois.
“Henrique, as tábuas estão se quebrando!” gritou o filho do rei sapo.
Porém, não eram as tábuas. Era o aro de ferro que o fiel Henrique, servo do barco, mandou amarrar em seu coração, para que assim ele não se quebrasse, porque todos haviam pensado: ele, o mais belo e verde filho do rei não faria outra coisa em sua vida, a não ser brincar com a sua bolinha e não se casaria com ninguém. Isto aconteceu ainda por três vezes. E toda vez o príncipe sapo gritou: “Henrique, as tábuas estão se quebrando”.
“Não é o barco, são as tábuas, Senhor, que se quebram. É de novo apenas o aro de ferro que eu amarrei em meu coração, sobre o qual não se partiria de aflição por vocês.”
Ao todo eram três aros de ferro. E, de repente, tudo ficou calmo.
Sobre a pequena ilha, eles acharam uma casa de veraneio com chaminé, na qual eles podiam viver muito bem. A princesa rã conta ao seu esposo, que ela fora enfeitiçada. Ela fora ─ há muito tempo atrás ─ tão bonita como ela é hoje ─ filha de um rei sapo em um lago. Entretanto, ela nunca fora feliz. Uma vez, o belo verde de seu corpo não estava o verde que ela queria que fosse. Outra vez, ela provou a água que tinha muito sabor de peixe e outra vez ela provou muito pouco o sabor de peixe. As minhocas eram para ela muito curtas ou muito compridas. Resultado: ela era um pesadelo para todo mundo.
Então, o seu pobre pai foi até o sábio sapo Água-Verde, pai de todos os sapo, e lamentou-lhe a sua aflição.
“A maior infelicidade para ela seria”, disse o seu pai, “Tomaremo-lhe todos os seus vestidos e todas as jóias.”
“Não é o mal suficiente.”
“Então a gralha deverá assustá-la.”
“Ainda não é o suficiente.”
Então iremos encher as minhocas com pregos.”
“Não. Tudo isso ainda não é suficiente”, disse Água-Verde. Ela precisaria se transformar primeiro em um ser humano pobre e branco. Depois ela precisaria ser cortada em mil pedaços, e em seguida ser jogada em um abismo sem fim ou então ser engasgada com uma gravata debaixo d’água, para que assim o medo a torture e a quase mate”.
“Ó não, isso não”, apelou o seu bom pai, porém como Água-Verde era o sábio e tudo sabia, disse o pai:
“Se assim ela será feliz, assim deve acontecer.”
Foi, então, que ela se transformou nessa pessoa, vestida, e foi terrível.
“Porém tu, meu querido”, disse ela, “Tu me salvaste. Enfurecido”.
Mas agora a vida lhe era prosperidade e paz.
O filho do rei sapo pode pescar em sossego, e uma vez por mês eles visitam o velho rei sapo e escutam as suas severas palavras que ele coaxa.
Tradução do texto original em alemão para o português por: Benilton Cruz
Janosch, geboren 1931 in Zabrze, Polen, lebt heute auf den Kanarischen Inseln. Er malte und schrieb mehr als 100 Kinderbücher, einige Romane.
Janosch, nascido em 1931 em Zabrze, na Polônia, vive agora nas Ilhas Canárias. Pintou e escreveu mais de 100 livros infantis, vários romances.
PEQUENA ANÁLISE
O filólogo de contos de fadas Lutz Röhrich observa que os psicólogos interpretam o famoso conto de fadas dos irmãos Grimm como um processo de amadurecimento. No conto, a bola de ouro estabelece uma relação, faz os eventos rolarem, mas a menina não quer se entregar ainda, é o mundo perdido e dourado da infância (a versão de Janosh coloca o menino, invertendo, assim a história, sem deixar de ser no fundo uma bela interpretação da passagem da infância à juventude, bastando lembrar que, o pequeno sapo jogando a bola com força, indica um vigor de adolescente, de passagem a outra fase da vida).
É comum na tradição dos contos de fadas colocar uma metáfora dos "jogos infantis" ou de tabuleiro, ou seja, jogar a bola pode significar o início da relação amorosa para um personagem que representa a criança.
O poço profundo foi interpretado como uma entrada para o útero ou inconsciente, o sapo como um falo. Claramente, o conto de fadas tem algo a ver com a sexualidade e os sentimentos de medo desencadeados pela mudança radical.
Por sua vez, para Hedwig von Beit, na versão dos Irmãos Grimm, a heroína pode ser entendida como uma imagem da alma, cuja consciência dominante é o rei, ou como uma personalidade independente. A bola é a parte inconsciente do eu e estabelece a relação com a vida animal primordial.
Nos tempos antigos, era tanto uma imagem do indivíduo e da alma do mundo (Sphaira) quanto um brinquedo do menino Eros. A perda de alma no poço corresponde ao desejo de redenção do sapo. Ele é mitologicamente muitas vezes não um ser inofensivo, manifestação da pobre alma, diabólica, mas também protetor contra o infortúnio, seu coaxar o grito dos nascituros. Seu pai, como a primeira experiência de Animus da heroína, também a incentiva a aprofundar a abordagem até então lúdica e puramente feminina do inconsciente. Jogar contra a parede é difícil de interpretar, possivelmente como uma projeção ou como uma fixação. É substituído em variantes por beijar, queimar a pele ou a cabeça do animal.
Psicologicamente, variantes em que isso se refere à noiva parecem fazer mais sentido, por exemplo, o aro de ferro impediu o nascimento de uma criança. Segundo Bruno Bettelheim, a trama mostra um processo de amadurecimento acelerado. A perfeição narcísica da bola de ouro deve ser trazida de volta pelo sapo feio – a vida tornou-se complicada (na versão de Janosh, essa tarefa é da menina).
O superego na forma do pai força o jogo a tornar-se sério, o que reforça os sentimentos, embora negativos no início – o amor maduro leva tempo. Assim como o erotismo inicial não pode ser prazeroso, uma criança também deve ser expulsa da dependência materna – o fato de um sapo emergir da água antecipa nosso conhecimento embriológico em séculos.
O antroposofista Friedel Lenz vê uma união do ego com a alma, sobre a qual deve inicialmente ter um efeito repulsivo. De acordo com Ortrud Stumpfe, também, a princesa tem que decifrar os efeitos das forças solares a partir da figura pantanosa e sombria que ela encontra no lago. A antroposofista Arnica Esterl, por uma visão alquimista, comparou o conto de fadas com o poder curativo de uma família buttercup, famosa pelo poder de cura de sua época; e o homeopata Martin Bomhardt com os medicamentos Bufo, Mercurius, Staphisagria, Thuja, e Edith Helene Dörre com a ametista.
Wilhelm Salber vê no sapo e na princesa os extremos do banal e do desenvolvimento, que só se trocam com dificuldade através do renascimento do passado. Regina Kämmerer achou a rebelião da princesa decisiva para se tornar uma mulher autodeterminada, o que também lhe devolveu a dignidade. De acordo com Jobst Finke, o fato de que a redenção vem aqui através da insistência da heroína em sua própria experiência é talvez um modelo de terapia para casais cujos conflitos são baseados em muita consideração para com o outro.
De acordo com Eugen Drewermann, as rãs são comumente retratadas como "nojentas, nojentas, extremamente desagradáveis e antipáticas", como nas Metamorfoses dos Camponeses Lícios de Ovídio, que são transformadas em rãs por Latona. O sapo está longe da princesa, como mostra a diferença de tamanho, bem como sua visão da perspectiva do sapo. Ele é um animal auxiliar que expressa desejos orais como um "companheiro de brincadeira", como "comer do seu prato de ouro e beber do seu copo de ouro". Segundo Drewermann, a princesa age narcisista quando foge do sapo e nem sequer o reconhece como humano: "senta-se na água com os seus pares". Só quando o pai do rei, para ser equiparado ao superego, fala uma palavra de poder, ela se submete e finalmente tem que levantar o sapo ao seu passo "levante-me até você". Segundo Drewermann, o conto de fadas Der Eisenhans é a maturação masculina, enquanto aqui o feminino é iluminado.
Outro tema: a Iniciação Sexual
O Príncipe Sapo dos Irmãos Grimm pode ser lido como uma história de iniciação sexual de uma jovem. A fonte representa o objetivo da curiosidade sobre o próprio mundo original: uma espécie de autocontemplação profunda no próprio desconhecido inocente, já que a princesa ainda é sexualmente inexperiente.
Este reconhecimento começa por ser um jogo inocente com a bola de ouro na fonte e experimenta uma súbita viragem na direção de impulsos masculinos assustadores na aparência do sapo, que é inicialmente percebido como nojento e apenas ligeiramente atraente. A bola de ouro representa a atração que concentrada de forma radiante (tanto na versão de Janosh quanto na dos Irmãos Grimm).
A rã representa não só a puberdade masculina, o que faz com que os rapazes nesta idade pareçam pouco atraentes para as jovens da mesma idade, mas também, em geral, a sexualidade masculina, que é inicialmente percebida como rápida e atormentadora (coaxar), intrusiva, assustadora e estranha.
Só quando, após a primeira "experiência da fonte", a jovem amadurece através da sua rejeição do nojo, esmagando o convidado insistente não convidado na parede, ou seja, uma viragem da relação para uma alma gémea para uma jovem mulher (agressivamente ativa, repelente ousadia), ela pode superar o medo do sexo oposto: o sapo acaba por ser um príncipe, ao qual a menina sucumbe e, assim, torna-se uma mulher adulta.
Através da cor verde do sapo, o conto de fadas também representa o princípio da primeira abertura que se inicia aos trancos e barrancos, ou seja, também representa a esperança geral: redenção do animal singular, condição ingenuamente inocente e crescimento despertamente alerta (o pequeno sapo torna-se o grande príncipe).
Uma questão etimológica: o significado da palavra "Fretsche" (atrevido). Uma interpretação da palavra "Fretsche" está ligada à pronúncia hessiana dos furões, uma vez que os irmãos Grimm tinham recolhido os contos de fadas orais na então região de Hessen, no centro da Alemanha, cuja principal cidade atualmente é Frankfurt am Main, região onde a palavra furão poderia significar atrevido e ágil, o que corresponde ao comportamento do sapo e perseguidor de princesas (na versão de Janosh, é a menina, a atrevida).
O príncipe sapo
Irmãos Grimm
Há
muito tempo, quando os desejos funcionavam, vivia um rei que tinha filhas muito
belas. A mais jovem era tão linda que o sol, que já viu muito, ficava atônito
sempre que iluminava seu rosto. Perto do castelo do rei havia um bosque grande
e escuro no qual havia uma lagoa sob uma velha árvore. Quando o dia era quente,
a princesinha ia ao bosque e se sentava junto à fonte. Quando se aborrecia,
pegava sua bola de ouro, a jogava alto e recolhia. Essa bola era seu brinquedo
favorito. Porém aconteceu que uma das vezes que a princesa jogou a bola, esta
não caiu em sua mão, mas sim no solo, rodando e caindo direto na água. A
princesa viu como ia desaparecendo na lagoa, que era profunda, tanto que não se
via o fundo. Então começou a chorar, mais e mais forte, e não se consolava e
tanto se lamenta, que alguém lhe diz:
- Que te aflige princesa? Choras tanto que até as pedras sentiriam pena.
Olhou o lugar de onde vinha a voz e viu um sapo colocando sua enorme e feia
cabeça fora d’água.
- Ah, és tu, sapo - disse - Estou chorando por minha bola de ouro que caiu na
lagoa.
- Calma, não chores -, disse o sapo – Posso ajudar-te, porém, que me darás se
te devolver a bola?
- O que quiseres, querido sapo - disse ela, - Minhas roupas, minhas pérolas,
minhas jóias, a coroa de ouro que levo.
O sapo disse: - Não me interessam tuas roupas, tuas pérolas nem tuas jóias, nem
a coroa. Porém me prometes deixar-me ser teu companheiro e brincar contigo,
sentar a teu lado na mesa, comer em teu pratinho de ouro, beber de teu copinho
e dormir em tua cama; se me prometes isto eu descerei e trarei tua bola de ouro".
- Oh, sim- disse ela - Te prometo tudo o que quiseres, porém devolve minha bola
– mas pensou- Fala como um tolo. Tudo o que faz é sentar-se na água com outros
sapos e coachar. Não pode ser companheiro de um ser humano.
O sapo, uma vez recebida a promessa, meteu a cabeça na água e mergulhou. Pouco
depois voltou nadando com a boa na boa, e a lançou na grama. A princesinha
estava encantada de ver seu precioso brinquedo outra vez, colheu-a e saiu
correndo com ela.
- Espera, espera - disse o sapo – Leva-me. Não posso correr tanto como tu -
Mas de nada serviu coachar atrás dela tão forte quanto pôde. Ela não o escutou
e correu para casa, esquecendo o pobre sapo, que se viu obrigado a voltar à
lagoa outra vez.
No dia seguinte, quando ela sentou à mesa com o rei e toda a corte, estava
comendo em seu pratinho de ouro e algo veio arrastando-se, splash, splish
splash pela escada de mármore. Quando chegou ao alto, chamou à porta e gritou:
- Princesa, jovem princesa, abre a porta.
Ela correu para ver quem estava lá fora. Quando abriu a porta, o sapo sentou-se
diante dela e a princesa bateu a porta. Com pressa, tornou a sentar, mas estava
muito assustada. O rei se deu conta de que seu coração batia violentamente e
disse: - Minha filha, por que estás assustada? Há um gigante aí fora que te
quer levar?
- Ah não, respondeu ela - não é um gigante, senão um sapo.
- O que quer o sapo de ti?
- Ah querido pai, estava jogando no bosque, junto à lagoa, quando minha bola de
ouro caiu na água. Como gritei muito, o sapo a devolveu, e porque insistiu
muito, prometi-lhe que seria meu companheiro, porém nunca pensei que seria
capaz de sair da água.
Entretanto o sapo chamou à porta outra vez e gritou:
- Princesa, jovem princesa, abre a porta. Não lembras que me disseste na lagoa?
Princesa, jovem princesa, abre a porta.
Então o rei disse:
- Aquilo que prometeste, deves cumprir. Deixa-o entrar.
Ela abriu a porta, o sapo saltou e a seguiu até sua cadeira. Sentou-se e
gritou:
- Sobe-me contigo.
Ela o ignorou até que o rei lhe ordenou. Uma vez que o sapo estava na cadeira,
quis sentar na mesa. Quando subiu, disse:
- Aproxima teu pratinho de ouro porque devemos comer juntos.
Ela o vez, porém se via que não de boa vontade. O sapo aproveitou para comer,
porém ela enjoava a cada bocado. Em seguida disse o sapo:
- Comi e estou satisfeito, mas estou cansado. Leva-me ao quarto, prepara
tua caminha de seda e nós dois vamos dormir.
A princesa começou a chorar porque não gostava da idéia de que o sapo ia dormir
na sua preciosa e limpa caminha. Porém o rei se aborreceu e disse:
- Não devias desprezar àquele que te ajudou quando tinhas problemas.
Assim, ela pegou o sapo com dois dedos, e a levou para cima e a deixou num
canto. Porém, quando estava na cama o sapo se arrastou até ela e disse:
- Estou cansado, eu também quero dormir, sobe-me senão conto a teu pai.
A princesa ficou então muito aborrecida. Pegou o sapo e o jogou contra a
parede.
- Cale-se, bicho odioso – disse ela. Porém, quando caiu ao chão não era um
sapo, e sim um príncipe com preciosos olhos. Por desejo de seu pai ele era seu
companheiro e marido. Ele contou como havia sido encantado por uma bruxa
malvada e que ninguém poderia livrá-lo do feitiço exceto ela. Também disse que
no dia seguinte iriam todos juntos ao seu reino.
Se foram dormir e na manhã seguinte, quando o sol os despertou, chegou uma
carruagem puxada por oito cavalos brancos com plumas de avestruz na cabeça.
Estavam enfeitados com correntes de ouro. Atrás estava o jovem escudeiro
do rei, Enrique. Enrique havia sido tão desgraçado quando seu senhor foi
convertido em sapo que colocou três faixas de ferro rodeando seu coração, para
se acaso estalasse de pesar e tristeza.
A carruagem ia levar ao jovem rei a seu reino. Enrique os ajudou a entrar e
subiu atrás de novo, cheio de alegria pela libertação, e quando já chegavam a
fazer uma parte do caminho, o filho do rei escutou um ruído atrás de si como se
algo tivesse quebrado. Assim, deu a volta e gritou:
- Enrique, o carro está se rompendo.
- Não amo, não é o carro. É uma faixa de meu coração, a coloquei por causa da
minha grande dor quando eras sapo e prisioneiro do feitiço.
Duas vezes mais, enquanto estavam no caminho, algo fez ruído e cada vez o filho
do rei pensou que o carro estava rompendo, porém eram apenas as faixas que
estavam se desprendendo do coração de Enrique porque seu senhor estava livre e
era feliz.
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