Se me entendes é porque existes comigo.
Para te entender foi necessário anular o lado ilusório da linguagem, aquele que
é chamado de comunicação. O que se comunica é carente e depois se torna
exigente. Comunicar não é o essencial, o essencial é tocar.
E assim crio uma nova pessoa quando te encontro
Riscar. Eu risco e arrisco um novo
sinal, e um cisco me trava: a palavra. Eu travo, eu pinto, e deixo a cor
surgir. Colorir não é um ato estético e sim o seu dizer. E agora, começo a
conjugar o teu verbo. Afinal,
tudo é forma: traço, cor, som e esse último gesto musical, eu disfarço com o
teu nome.
Só tenho um lugar: a memória, que é
outra ilusão, que pode durar mais que o escrito, mesmo quando ela não se prende
em um traço de giz, um facho de cor, um prenúncio de luz ou um ponto de carvão.
Aprendi que Alguém e Ninguém podem ser mais atraentes do que eu e tu. Como
posso ser eu se atinjo a todo mundo, assim sendo, o eu não é real; é um nós no
singular. É um pronome que some quando o nome assume que é dono de um falso
mundo, e para complicar, quando falo de ti estou a falar de mim, eu que não sei
onde é o eu e onde é o tu – se a escrita fala de nós ou se dela mesma.
Não posso passar do limite de um nome
que sugere e se sugere é porque não diz. A palavra não pode ser uma revelação, nem
sinal, se revela o mesmo, ferramenta falha que se renova, apenas isso
conhecemos desde o início como um mito de Sísifo. A palavra revela o que pode
ser dito e nada mais. Muito? – A lacuna diz mais.
Benilton Cruz
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