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CRÔNICA DE KASSIA DE ABREU, ESTUDANTE DO CURSO DE LETRAS DE TOMÉ-AÇU, PA (Após uma aula sobre Lima Barreto, pedi aos alunos que escrevessem uma crônica sobre um fato acontecido na vida. E o resultado foi esse:

 A Temorosa Universidade


Tornar-se universitário é o sonho de muitos e eu? Ah, eu me tornei! E quando iniciei o primeiro período, entre tantas outras coisas...
Sempre ouvi a lenda da japonesa que morreu no local onde o polo universitário foi construído.
Nada parece tão anormal, ops quer dizer... Confesso que quando ficava sozinha ao meio dia costumava ouvir algumas coisas, mas eu ficava trancada, caladinha na sala em que estudava até a hora que iniciavam-se as aulas da tarde, perdoe-me esqueci de dizer que sou de outra cidade (vizinha). No inicio do curso não acostumei ir para casa que havia alugado, preferia levar o almoço e comer lá no polo! Ainda me sobrava tempo para descansar o corpo, ali mesmo nas carteiras da sala de aula. Às vezes batia um medo, confesso! Em fim... Lá pelo quarto ou quinto período na universidade eu, e mais duas colegas de classe estávamos no laboratório do polo tentando fazer a inscrição para algo que nem recordo o que era... Mas tava complicado!!! Estava chegando a noite... e o zelador foi lá onde estávamos só conferir se estava tudo fechado, e foi embora. Só questionamos:
– Acho bom a gente ir embora, já estão indo...
R... – Calma maninha, eles só deixam a porta encostada, já, já o pessoal da noite chega, sempre vejo que tem aula aqui.
C... – Mas tem certeza? Se é assim então vamos terminar.
Hora de ir embora! E o que aconteceu? Raaa, isso mesmo, a porta estava trancada. Éramos as únicas no polo. Foi aí que o desespero tomou conta, ninguém conseguia pensar em mais nada, qualquer ruído já nos lembrava a japonesa. Pensamos em subir as escadas e pular, mas era alto demais, chegamos a pensar em amarrar nossas roupas e formar uma corda, mas era alto demais, tentamos nos acalmar, colocar a cabeça pra funcionar... Então lembramos de uma tecnologia chamada celular (nessa hora a gente deu risadas). Ligamos para o coordenador do polo, mas ele não estava próximo, ele nos pediu para ligar para a também responsável pela chave, mas só deu fora de área... Detalhe! A bateria do meu celular estava acabando e nada resolvido, então todo desespero veio à tona novamente. Liguei para o coordenador, avisei que não conseguir blá blá blá... Foi então que ele disse:
– Por que vocês não pulam a janela!?
– Pular a janela!? Claro que não! A gente vai morrer, é muito alta.
– Quis dizer a de pedagogia aí do corredor!
– Aaaah,  verdade!

Como pode o desespero causar todo esse alvoroço, isso por sermos de uma cultura cheias de crendices  

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