AGAMBEN, ALEXANDRE O'NEILL E SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - O QUE HÁ EM COMUM NESSES NOMES?
Segundo Giorgio Agamben, filósofo italiano, autor de obras que transitam temas que vão da Estética à Política, a função da
arte é jogar luzes sobre o obscuro que há na experiência humana de viver e estar na Contemporaneidade,
período que começa com a Revolução Francesa em 1789 e ainda nos chega aos dias
de hoje, como uma fase marcada pela turbulência advindas da crença de princípios filosóficos que buscam mudar o mundo e não, necessariamente, refletir sobre ele.
É o mote clássico de Karl Marx que remodelou as lutas de classes em contendas minoritárias em torno dos segmentos marginalizados da Sociedade, os pobres,
negros, índios, mulheres, homossexuais, religiões
minoritárias, etnias e outros palavras que definem um mundo de disputas,
concorrências, embates, limitações, controles, solidões, mudanças.
- Pode uma filosofia mudar o mundo?
A sociedade, ou seu equivalente
em todos os seus sentidos, como a atual Sociedade em Rede, é o ringue, o palco da nova
tragédia ou vale de lágrimas da humanidade contemporânea, sua esperança ou seu precipício. A palavra sociedade migrou às redes sociais e ali está o que dela sempre se observou nos últimos tempos, o confronto.
O sentido de
comunidade, por exemplo, perdeu-se aos poucos com a Revolução Industrial e novos hábitos se
formaram nas grandes cidades, e mesmo as pequenas cidade interioranas foram afetadas, pois a
falta de perspectiva e busca de motivação econômica levou parte da população a
migrar aos centros urbanos industrializados em busca de oportunidades e
empregos, individualizando o sujeito, isolando-o na multidão.
Esses fluxos de migração causaram o drama social mais
recorrente da Idade Contemporânea, o que prova que vivemos em um mundo
instável e inseguro, e dramaticamente em guerras constantes, aliado ao incontrolável mercado clandestino das armas, o que ajudou a criar um monstro mais temível: o terrorismo, cujo inimigo pode ser seu vizinho.
Este cenário levou escritores e poetas
ao centro dos dramas sociais da humanidade e a um tema mais íntimo, a
subjetividade ferida de: desamor, solidão, medo, desespero, angústias, sexualidade, espiritualidade e a fatal descrença na política.
Esse resquício de luz é o novo apolíneo da Idade Contemporânea, a que pode clarear essas obscuras
turbulências enfrentadas no dia a dia, nesse ciclo que se repete todos do confinamento da urbanidade à solidão no meio das redes sociais, como diz o
filósofo Vilém Flusser, a extensão do nosso sistema nervoso e não a nossa
inteligência em si.
E aí, nesse caso, até as o e-social se torna verdadeira armadilha como diria o sociólogo Zygmunt Bauman. E o que mais diz a arte? Devemos
lembrar o seguinte: a arte sempre foi usada como uma pedagogia, na crença de Schiller, um ensinamento
de humanidade. Acontece que na Idade Contemporânea isso muda, a arte que vivia da objetividade dessa “educação estética do homem” versus a subjetividade do gênio
do próprio artista causou um drama.
A arte hoje mergulha na linguagem que vai do questionamento do mimético à sua aniquilação total, passando pelo retorno ao logocentrismo da arte conceitual, como espécie do novo apolíneo.
- Salvos pela literatura, pelo dicionário, pela palavra.
É ainda rastilhos do confronto entre Classicismo e Romantismo, típico da época
contemporânea. E recordo: o sentido mais
objetivo da arte como norteadora de humanidade começou a sofrer com as
violentas investidas subjetivas, quando despontava o promissor Romantismo nas Terras Altas da Escócia.
E por falar em países e a peculiaridade de cada um quando pensamos a língua que fala esse país, em Portugal, por exemplo, os poetas descortinam uma filosofia lírica para o idioma de Camões: “o amor é o amor – e
depois?!” se pergunta Alexandre O'neill, mesmo poeta que expressa uma contagiante sensorialidade no poema "Há palavras que nos beijam".
É nessa linha de
raciocínio que você deve entender que a arte contemporânea, em geral, e não só
a poesia, é questionadora da natureza intrínseca da sua forma e não apenas das coisas, das incertezas, e da esperança na percepção: ser sensorial é ser uma saída.
E quase ser vidente. E isso lembra um certo jovem poeta francês.
O poeta de todas as vanguardas, Rimbaud, e suas cores, sua poesia-tela, poesia que faz chacota da arte - do pedantismo da arte - e aqui, que você deve entender que a
poesia se torna uma filosofia do lirismo, como alertei no início, e está assim a “matéria-prima”, a palavra, no poema que fala e sensorializa, mesmo pelo dispositivo limitador da própria língua, como nos recorda Agamben.
Fugir da língua que nos impede a verdadeira comunicação de criar.
Sim, a linguagem é também um dispositivo, quase fatal em sua equação pelo controle - e aí cada tribo vai criando o seu, esses murais estéticos, celas obscuras de padrões que alimentam mercados e vaidades.
E é assim que o
artista lança “luzes” - uma metáfora einsteniana da medida do universo. Todos querem a luz e aqui faço lembrar que ela nasce da escuridão, quando me recordo de um poema de San Juan de La Cruz. Ser contemporâneo é retorna a esse Big Bang, e expandir a sua pena do escrever sobre a treva do viver.
Mesmo com todo esse controle, o poema acrescenta a palavra da nossa Era, o inevitável “terror” de amar, como diria Sophia de Mello Breyner Andresen, em um mundo “onde tudo nos mente e
nos separa”.
Abaixo:
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
(Alexandre O'Neill)
Obrigado pela leitura,
Assina:
Benilton Cruz
Fotos: Giorgio Agamben, Alexandre O'Neill e Sophia de Mello Breyner Andresen.

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